Ars Goetia

♙ Não houve reclamação alguma do lado dos espíritos, eles não se importavam caso Maxwell falhasse ou não. Óbvio que Dante concordou com a ideia, e logo todos partiram para a zona vermelha. Maxwell era o único dali que não lutaria, talvez apenas ajudasse a coordenar melhor o plano, mas fora isso não tinha muito que ele pudesse fazer dadas as regras do Tabuleiro. Também havia algo que Melissa pudesse notar é que toda vez que Maxwell olhava para ela, ele abria um sorriso, nada fora do ordinário até aí eles tinham o costume de ficarem sorrindo de maneiras sugestivas um para o outro. Mas aquele sorriso dele era apenas de felicidade, como se estivesse realmente feliz por estar na companhia dela. ♙

♙ A zona vermelha ainda gerava uma exaustão mais rápida em Maxwell, porém como já fora dito para ele antes, aos poucos ele se acostumava e se adaptava. Ela também estava muito mais tranquila, o que era estranho considerando que deveriam estar sendo atacados pelos inimigos recrutados por Ishmael, mas as ruas estavam tão calmas que o grupo fora conversando calmamente até o local, Dante e Hanna pareciam ter se entendido um pouco melhor dado ao fato que agora andavam lado à lado, os espíritos como sempre não queriam falar muito se não fosse necessário afinal eram seres extremamente velhos, para eles era como se estivessem andando com crianças e todas as provocações sexuais de Melissa eram respondidas com uma risada doce de Max, que dava alguns leves tapinhas na perna dela e novamente sorria daquele mesmo jeito de antes para ela. ♙

- É lá. - Disse Dante, apontando para um local que todos os Cognitivos conheciam bem. Popularmente chamado de Bar Vallhalla, o local sofrera poucas alterações no Tabuleiro, aquelas estranhas veias passavam por cima dele como parasitas grudados na construção. Na entrada haviam, como fora dito antes, dois grandes guardas tendo por volta de dois metros e meio cada um. Um utilizava de uma armadura azul e outro de uma armadura vermelha. - É simples. Azul absorve magia, toma porrada física e o inverso é válido para o vermelho.

- Só me lembrem de uma coisa rapidinho, é o Ishmael que escolhe onde ele põe as efígies, certo? - Maxwell perguntou, olhando para os espíritos.

- Sim, todos os quatro locais. - Respondeu Ose.

- Claro que o filho da puta ia escolher esse bar. Julgando pela direção geral das efígies... Provavelmente terá uma no clube que o Ishmael queimou, outro naquele lugar que o Prescott levou eu, a Hanna e a Mel e o último está... Huh. Tem a Academia naquela direção, mas ele não pareceu escolher ela. - Maxwell conseguia sentir a presença e a direção geral das efígies, a localização exata era outra história, mas ele conhecia bem quem estava enfrentando. - Só não colocou uma em Heaven's Gate porquê não tem como.

- Por que ele ia colocar uma efígie na porta do paraíso do cristianismo? - Perguntou Pixie, confusa.

- Não, esse é o nome da cidade onde eu nasci. - Explicou Max.

- Nossa, que bosta.

- É eu sei. - Maxwell suspirou, colocando as mãos em sua cintura. Ishmael realmente iria fazê-lo passar pelos locais que tiveram alguma forma de envolvimento com os traumas que sofrera naquela cidade. - Todos prontos?

♙ Dante ergueu sua espada, colocando-a em cima de seu ombro e observou. Criaturas do Tabuleiro, principalmente as Guardiãs, tinham uma boa visão interessante ela era extremamente aguçada, mas apenas quando alguém estivesse dentro de uma certa distância. Golpes de longo alcance serviriam de pouco efeito, uma vez que seriam detectados imediatamente. Não era uma visão em 360 graus, como o sonar de um morcego, mas era extremamente boa. Dante parara antes desse limite, assim que passassem do mesmo seria hora de lutar. ♙

- Nesse caso, Melissa, Ose, comigo. - Dante cortou o ar e olhou para os inimigos na frente.

- Por que você cortou o nada? - Perguntou Maxwell.

- Ahn? Ah... Só pra esticar o braço mesmo. - Respondeu Dante, um pouco confuso.

- ...Você tava fazendo pose, né? - O tom de voz de Maxwell era tão irritante quanto uma criança fazendo birra no mercado.

- ...Não.

- Estava sim, pose heroica e tudo mais.

- Vai te catar. - O Dante Cognitivo tinha uma paciência claramente mais curta, voltando a olhar para os inimigos. - Hanna, Aeros, comecem a se preparar, vamos avançar assim que estiverem prontos.

- Claro, claro - Disse o espírito do vento, ainda sorrindo. - Vamos ter que ir com eles e fazer o ataque de perto, caso contrário eles vão ter tempo para notar e esquivar.

- E você. - Pixie deu um tapinha leve na cabeça de Maxwell, sentando-se no ombro dele. - Vai ir junto, não consigo curar se estiverem muito longe.

- Eu sei. Eu sei. - Maxwell falou, ainda olhando para Dante. Queria entender um pouco mais dele, mas teriam tempo para isso depois. Passaram-se alguns minutos, enquanto Hanna e Aeros preparavam suas respectivas magias. Precisariam ser golpes de grande poder, caso contrário iriam apenas jogar fora o plano que fora feito. - Vamos.

♙ Assim que todos avançaram, as duas armaduras enormes viraram-se na direção do grupo que avançava. Ose e Dante não ficaram muito atrás atrás de Melissa, avançando pela direita e pela esquerda respectivamente. Se aquele fosse um inimigo normal, estaria morto, pois os três ataques conectaram imediatamente. E se fosse a armadura azul que recebera o golpe, provavelmente estaria morta também, mas a vermelha colocara-se na frente e recebera os ataques de todos ali, refletindo-os de volta para eles. Porém, por conta das proteções criadas por Hanna e a rápida cura de Pixie, praticamente não sofreram dano. Maxwell certamente ficou satisfeito em ver que seu plano funcionara, pois quando Hanna e Aeros atacaram com suas magias, criaram o que era um tornado de relâmpagos (e fogo, caso Melissa decidisse atacar também.) que cessou-se em questão de segundos. Mas o dano fora feito e a armadura vermelha tombou para frente, morta. ♙

- Agora só falta a azul. - Disse Dante.

♙ Ele disse, cedo demais. A armadura vermelha explodiu em uma fumaça negra e vermelha e foi rapidamente na direção da armadura azul, entrando pelo capacete e fazendo a mesma brilhar por um segundo. Os espíritos já sabiam que derrotar seres Guardiões não seria algo tão fácil assim. Em questão de aparência, nada mudara na armadura azul, mas quando Dante atacou com sua espada ele encontrou algo que não estaria ali antes. Resistência. Não como a da armadura vermelha, que devolvera os ataques, a azul apenas era mais resistente à ataques físicos depois de absorver a essência da vermelha. Com um firme soco ela mandou Dante voando contra uma construção próxima, golpeou Ose com as costas das suas mãos mandando ele para longe também e avançou para cima de Melissa. ♙

- Ele vai matar ela. - Aeros falou, criando uma barreira de vento para tentar segurar o ataque contra Melissa que certamente já estava se preparando para defender-se ou esquivar.

- Isso é um problema. Resistente contra golpes físicos e imune à magia. - Pixie reclamou, rapidamente curando tanto Ose como Dante.

♙ O escudo de Aeros serviu apenas para segurar o golpe por um instante, instante este que Melissa poderia usar para esquivar completamente ou esquivar e contra-atacar, apenas para encontrar a mesma resistência que Dante e Ose. A mente de Maxwell, enquanto isso, funcionava à milhão buscando uma maneira de derrotar aquele ser. Talvez um ataque combinado em um lugar só? Talvez focarem em diminuir a mobilidade dele? Ou talvez... ♙

- Melissa! - Ele gritou, uma carta flutuando na sua mão. A carta que simbolizava o relacionamento que havia com a Melissa real. Quanto mais forte o relacionamento, mais forte o poder que a carta passaria para a Cognitiva... Também causaria mais cansaço em Maxwell, mas não via isso como um problema. - Ele é seu. - A carta brilhou e desapareceu, a Melissa Cognitiva sentiria um aumento enorme em sua força... Em seu poder num geral e... Talvez Maxwell não tivesse notado o quão forte isso a deixaria. Ou talvez tivesse, mas só não se importasse.

- Bom... Isso foi excessivo. - Disse Aeros logo após Melissa terminar de destruir a armadura.

♙ Os espíritos olhavam levemente impressionados, sabiam que as cartas tinham efeito e poder, mas não imaginavam que seria algo como aquilo, eles puderam sentir que por um momento aquela Cognitiva chegou à níveis ridículos de poder. Já Dante apenas mantinha um pequeno sorriso em seus lábios, contente pela situação ter se resolvido, mesmo que tenha sido de uma maneira brutal. Justamente pelo Dante real se ver como uma pessoa boa, com o potencial para ajudar muitos, que havia caído, a versão cognitiva dele não parecia se importar com violência excessiva. Não muito pelo menos. ♙

♙ Já Maxwell estava no chão. Bom, quase, Ose segurou-o antes que ele caísse de costas no chão. Fora avisado que usar as cartas teria efeitos no corpo dele, num geral sua exaustão aumentaria, mas em certos casos seus dias ali poderiam até mesmo diminuir. O que não era o caso, tendo em vista que ele estava apenas cansado. Ele apenas ergueu sua mão com o polegar estendido para Melissa, sorrindo feito um bobo. ♙

- Bom, pode esquecer a efígie por hoje, se ele for destruir ela assim vai acabar morrendo. Alguém carrega ele. - Disse Pixie, olhando para Melissa enquanto falava aquela última parte.

- Vou precisar ficar muito tempo no banco hoje. - Ele reclamou, parecia que tinha corrido por um dia inteiro sem parar. - Bom trabalho time.

♙ Quando recebeu o beijinho de Melissa, ele sorriu docemente. Sabia que havia errado desde o começo, pensara sobre isso no caminho até a igreja, sobre como agira da maneira errada com a versão Cognitiva de Melissa. O que levou ele à pensar isso fora o começo do relacionamento dos dois, é claro, mas também o fez notar que havia uma barreira ali que ela erguera (ele também erguera a mesma barreira) que impedia que fosse sincera com seus sentimentos menos carnais. Não estava tentando mudar a Cognitiva, sabia que era impossível daquela maneira, só estava tentando tratar ela do jeito que ela merecia. ♙

- Obrigado. - Ele agradeceu, assim que Melissa o ergueu.

- Bom, vamos retornar, não faz muito sentido continuar aqui. - Disse Dante, guardando sua espada e começando a andar.

† Conforme o grupo retornava para a igreja e para a zona segura, do topo de um outro prédio alguém acompanhava a movimentação deles. Mais precisamente, eram acompanhados através da mira de um rifle de precisão, que estava particularmente focado em Maxwell. Então no rosto de Melissa, no rosto de Dante e por fim no rosto de Hanna, o franco-atirador mirou nos espíritos também apesar de saber que não ia encontrar o que estava procurando. Suspirou e levantou-se, apoiando a arma em seu ombro. Toda vez que seus braços se moviam era possível ouvir o barulho de correntes. †

- Ela não está com eles... - Virou-se e a arma desapareceu em pleno ar. - Onde você está? Eu... Eu preciso de você, Nymeria. Não sou nada sem você.

- Oh, minha heroína. - Maxwell falou dramaticamente, passando seus braços ao redor do pescoço de Melissa tal qual uma donzela em contos clássicos.

- Vocês são todos estranhos. - Falou Pixie, voando mais para perto de Ose logo em seguida.

Dante tinha o costume de caminhar um pouco mais distante do grupo, por ser um Cognitivo ele conseguia fazer muito pouco perante os pensamentos que sua versão real tinha sobre si mesma. Se Dante acreditava que era alguma espécie de guerreiro caído ou fracassado, que deveria se distanciar dos outros para não feri-los, então seu Cognitivo assim o faria ainda que pudesse resistir um pouco e andar mais próximo do grupo do que o normal.

- Ia acontecer uma hora ou outra. - Dante disse, com um leve sorriso nos lábios. - Eu... Estou torcendo para que o meu eu real se acerte logo consigo mesmo. Ter que manter minha distância é angustiante, principalmente quando tenho que ficar longe de você.

♙ Resistência em algum momento quebra, o máximo que dá pra se fazer é rezar para que não se quebre em momentos importantes. Dante poderia até resistir a maior parte dos impulsos, mas sempre chegava uma hora onde ele distanciava-se bastante do grupo para ficar tão distante que chegava a ser ridículo. Por fim chegaram à igreja, os espíritos se despediram como sempre e o Cognitivo de Dante foi para longe. Hanna provavelmente o seguiria, sabia que o que normalmente ocorria entre os dois que ficavam no banco. Falando em banco, assim que Melissa o colocou sentado no mesmo, Maxwell deu alguns tapinhas ao seu lado conforme a sua força lentamente retornava. ♙

- Senta, hora da sua surpresa.

- Sim, ele tem muito, mesmo que pense que não merece o amor que recebe.

Apesar de preferir sempre manter sua distância, não muito por escolha e sim mais por instinto, ele forçou-se à ficar ao lado de Hanna por mais um pouco e entrelaçou seus dedos nos dela abrindo um pequeno sorriso. Todos os Cognitivos tinham uma certa capacidade de precognição, apesar de raramente se manifestarem em visões de fato, era algo como um sexto sentido que avisava quando uma mudança súbita estava por vir na vida de sua versão real. Fosse essa mudança positiva ou negativa, era apenas em casos extremos como a morte de dita pessoa, por exemplo. O Cognitivo não sentia que Dante ia morrer, mas sentia que algo estava vindo, uma tempestade que mudaria tudo sobre ele, ou ele iria se erguer ou sua queda seria definitiva.

♙ Se sentia um pouco mal por ter criado toda aquela expectativa, sabia bem que Melissa esperava algo muito mais sexual do que ele tinha em mente, mas não conseguia imaginar que ela não gostaria do que estava por vir. Passou seu braço pelos ombros dela e puxou-a mais para perto de si, dando um leve toque da cabeça dela para indicar que a mesma deveria aconchegar-se no ombro dele. E... Só, apenas ficou ali, abraçado à ela olhando aquela paisagem macabra. A presença dela, entretanto, mudava tudo, fazia o terrível ser muito mais fácil de ser visto e acalmava seu coração, mesmo que soubesse que estava em um lugar perigoso e que muitas vidas estavam em suas costas. Deu um curto beijo no topo da cabeça dela. ♙

- É isso. - Ele falou, referindo-se à surpresa. - Acho que venho tratando você da maneira errada. Você já tem malícia o suficiente sem eu agir, então espero que aceite um pouco de carinho.

- E você não é minha Melissa, ainda assim eu estou ao seu lado, não é? - Max riu um pouco após falar aquilo. - Acho que estamos sendo idiotas, na verdade. Você é parte da pessoa que eu amo, exagerada ou não, você é parte. E esse outro eu também é parte de mim. Eu sou seu sim, no final das contas, já que sou dela. Apenas um pedaço, o todo ou um pequeno fragmento, você é Melissa Carter e eu amo você do fundo do meu coração. Se encontrar esse outro eu, ele vai dizer o mesmo.

♙ Talvez ele estivesse sendo o idiota em falar aquilo, era claro que haviam diferenças entre a Cognitiva e a Melissa real, diferenças tão discrepantes que não fossem as similaridades em aparência e personalidade seria fácil dizer que elas eram totalmente diferentes. Mas bem, para Maxwell Watson a lógica poderia muito bem ir à merda, ele amava a Cognitiva da mesma maneira que amava a real. Poderia tratá-la de uma maneira diferente, seus desejos poderiam ser diferentes, mas o amor era o mesmo. Se estava errado em sentir isso, se aquilo tudo que falara era estupidez... Bem, não seria a primeira vez na sua vida que estava sendo estúpido e nem mesmo seria a última. ♙

- Não importa a forma que tome, não importa o que seja dito, não importa o que seja feito. Desde que você seja Melissa, eu vou amar você. - Ele acariciou ela suavemente. - Eu não me apaixono fácil, então não ache que meu amor é fraco o suficiente para cair só por conta de algumas diferenças. Eu pertenço eternamente à Melissa real e eu pertenço eternamente à você, Melissa Cognitiva.

- Bom, enquanto meu Cognitivo não der as caras, vou continuar de amando do jeito que posso.

♙ Não era muito, sabia bem disso, como ela dissera a mesma só seria completa caso o Cognitivo de Maxwell aparecesse. Ele não cruzaria a linha que tinha ali, apesar da tentação no início ter sido grande ele agora nutria outros sentimentos por ela que iam além de apenas um desejo carnal. Sempre os tivera, apenas recusara-se a notar. Continuou acariciando a nuca dela, com um sorriso doce em seus lábios, apenas aproveitando o momento. Imaginava que quando seu Cognitivo aparecesse, aqueles momentos seriam puramente carinhosos e não teriam aquela leve tensão que insistia em permanecer no ar, apesar de que imaginar uma versão alternativa dele envolvendo-se com uma versão alternativa de Melissa era demais para a cabeça de Max. Ou não, ele conseguia imaginar. Só não queria. ♙

- Contaram-me que passaram por um perigo enorme hoje. - Louis apareceu subitamente, tendo deixado a igreja pela primeira vez desde que Maxwell chegara ali. - Sua querida quase morreu, não foi?

- Bom, não. Cognitivos são imortais, você mesmo disse isso. Eu só agi na base do desespero mesmo. - Maxwell respondeu, estranhando a aproximação do outro.

- Ah, creio que a forma de imortalidade deles seja diferente da que imagina. Cognitivos podem ''morrer'' e quando isso acontece eles levam um dia inteiro para recuperar a sua forma real, não importando a maneira como tenham morrido. - Louis explicou. - O único jeito de um Cognitivo realmente morrer, é se a pessoa verdadeira morrer.

- Claro que vou cuidar dela. - Maxwell riu suavemente com aquilo. - Não vou deixar nada de ruim acontecer com ela.

♙ Louis era uma pessoa que Maxwell tentava evitar, apesar de reconhecer que os conselhos dele eram importantes e que por vezes precisava do mesmo para guiá-lo por aquela nova realidade, mas havia algo nele que fazia com que seu corpo inteiro se arrepiasse. Talvez fosse apenas por ele, entre todos os seres mágicos do Tabuleiro, fosse o que mais se parecesse com um ser humano normal. Até levaria a heterocromia dele como um sinal de que ele era diferente, mas Nymeria também era assim e apesar de ser uma mafiosa ela era uma humana. Não tinha bem como explicar, mas o modo educado com que ele se apresentava, seus gestos gentis e calculados, suas palavras doces e calmas e sua voz que mais parecia uma bela sinfonia eram coisas que gritavam para Max que ele deveria se afastar daquele homem. Porém, escutou-o do mesmo jeito. ♙

- Não precisa me agradecer. - Ele puxou a cabeça dela para perto e deu um leve beijinho no topo da cabeça dela. - Mas... Cognitivos podem morrer, apesar de ser um tipo diferente de morte.

- Sim, tudo que existe tem seu fim. E algumas coisas existem apenas para alcançar seu fim. - Louis falou, sentando-se no banco também e olhando para frente, para as construções e para aquelas estranhas veias que subiam por elas. - Nunca se esqueça disso, Maxwell. Você pode vencer qualquer coisa.

- Uhh... - Maxwell não entendia bem de onde aquela conversa toda estava vindo, mas escutou mesmo assim.

- Mas ninguém derrota a Morte. - Os olhos desiguais de Louis viraram-se para ele, frios como o fim do universo. - Qualquer vitória que tiver sobre Ela é, como tudo, temporária. Mantenha isso em mente, pequeno Peão. - Ele levantou-se, para voltar para a igreja. - Humanos são os campeões da Criação, capazes de tudo, mas nunca possuem o tempo para alcançar seu verdadeiro potencial. Até mesmo campeões perdem, da mesma forma como anjos caem.

♙ Louis afastou-se, voltando para a igreja calmamente. ♙

♙ Maxwell esperou um pouco antes de responder Melissa, não sabia se confiar era uma palavra boa para aquela situação. Certamente confiava na capacidade dele de informá-lo sobre qualquer dúvida que ele viesse a ter, mas não o considerava um aliado, ele estava mais para um guia com intenções extremamente ambíguas. Ao mesmo tempo que era plausível aceitar Louis como um dos guias do Tabuleiro, segundo o mesmo ele era apenas um de vários, também não seria nada estranho descobrir que ele era um jogador também. Ponderou por um tempo as suas opções, na verdade nunca havia parado para pensar o que Louis era para ele. Um babaca, talvez, dado a maneira como ele parecia trivializar as mortes que ocorriam em Windfall e que iriam ocorrer caso Max falhasse. Mas ao mesmo tempo não podia dizer que Louis não parecia valorizar a vida... Ele era uma pessoa confusa, com novecentas e noventa e nove faces, cada uma extremamente única. Só por estar pensando tudo aquilo era um sinal de que, se Louis estava realmente jogando, ele era muito bom com as mentes de outrem porquê Maxwell certamente estava perdido. Aquele ser era como uma cobra, não dava para saber se ia ficar na dele ou se ia dar o bote. ♙

- Não sei. - Respondeu após aquele período de contemplação. - Certamente não acho que ele é um aliado. Acho que ele está mais para alguém que está fazendo o trabalho dele, mas que tem suas próprias intenções. Como quando você vai comprar um tênis e a vendedora fala que ficou bom apesar de ser um tênis horrível.

- Prometo que vou me cuidar.

♙ Ele sorriu para ela, erguendo suas sobrancelhas em surpresa logo em seguida com o salto dela. Apenas continuou a relaxar conforme ela começava aquela massagem, soltando um pequeno suspiro de satisfação, sabia que teria que ficar ali naquele banco por mais tempo que o comum devido ao seu cansaço gerado por ter usado uma carta, mas se era para ficar assim então não se importava muito. Apesar de duvidar um tiquinho do auto-controle de Melissa, uma situação como aquelas com a Melissa real certamente acabaria levando à alguma outra coisa, mas como a Cognitiva havia reconhecido que ele não era o Max com quem ela deveria buscar tal relações, acreditava que ela manteria sua palavra. ♙

- Obrigado. - Mais um suspiro. - Ah, não vai é? Que pena. - Ele falou aquilo de uma maneira muito melodramática, mas manteve um sorriso nos lábios. Imaginava que, se ficassem por muito tempo assim, eventualmente haveria algo de malicioso no meio devido à natureza da Cognitiva, mas também decidiu que não teria problema se ela tivesse um pouco de malícia ali. - Você é boa nisso...

- Eu sei, eu sei! - Ele disse, rindo enquanto ela apertava ele. - Prometo, vou tomar mais cuidado.

♙ Em verdade, aquilo seria um peso enorme na saúde de Max segundo o que dissera Louis, o Tabuleiro agia naturalmente contra qualquer humano que entrasse nele apesar de, em teoria, também poder servir para disputas entre dois seres sobrenaturais. Aquele era um lugar onde a magia deixava de seguir um fluxo natural e era forçada à adaptar-se para criar um campo de batalha, a atmosfera que isso criava era pesada para humanos, logo a necessidade de Max parar para descansar. Mas sabia que os efeitos não ficariam apenas ali, poderia adoecer mais facilmente, assim como sua própria resiliência física diminuía consideravelmente e Max não era necessariamente uma pessoa frágil fisicamente, seus treinamentos de combate com seu irmão haviam aumentado sua resistência e sentir ela diminuindo com o tempo apesar dos exercícios contínuos era preocupante. ♙

- Eu preferia não contar, ela não precisa se envolver com isso. - Suspirou com a massagem, recostado sua cabeça no banco. - Terminaria ruim sim, mas sabemos que a Mel não pularia para essa conclusão. O dia em que ela questionar o meu amor por ela é o dia que vou saber que cometi erros demais.