Ars Goetia

♙ Alguns dias se passaram desde que Maxwell encontrara Melissa o esperando na saída do Tabuleiro e desde então ele parecia estar agindo com uma força renovada, a cada dia que se passava ficava mais fácil ir cada vez mais além dentro do Tabuleiro sem precisar se cansar muito. Até seu tempo de recuperação estava ficando mais curto graças ao seu corpo estar se acostumando com a pressão que existia dentro do Tabuleiro, para humanos pelo menos. ♙

♙ Maxwell notara um padrão naquele labirinto, toda vez que entravam nele pareciam perder mais e mais tempo e diferente da última efígie onde apenas precisaram caminhar até ela, ali eles estavam precisando usar mais de sua cabeça para poder decorar o ambiente e poder prever quando algo levaria para um beco sem saída. Porém, como estavam marcando todas as entradas não possíveis e como estavam indo e vindo todo santo dia, eventualmente ficou fácil transitar por dentro do labirinto e eles eventualmente acharam a saída do outro lado. Ele dava diretamente para algo que parecia ser um set de TV, com holofotes apontando para um cenário que fora construído no meio, uma sala expansiva onde havia algumas prateleiras com papéis e mais papéis, duas cadeiras e três manequins. Dois deles estavam presos nas cadeiras de metal e o outro estava simplesmente largado no chão, porém amarrado. Ficava meio óbvio que cena aquilo estava evocando. Ele estendeu seu braço, para que os Cognitivos e os espíritos não fossem mais adiante.♙

- Isso não me abala. - Declarou Maxwell, sua expressão estava fria. - Já fiz minhas pazes com o sequestro e com a minha inutilidade durante ele. Também aceitei o preço que paguei por tentar amenizar a dor que eu sentia de uma maneira completamente errada.

♙ A atenção das duas era bem vinda, ainda que a de Mel chegasse a distrai-lo um pouco uma vez que... Bem, ela era naturalmente provocativa para ele então quando fazia certas coisas ele acabava distraindo-se em suas vontades por um momento. Maxwell abaixou-se e pegou uma pedra do chão, jogando-a na direção da efigie que flutuava no meio daquele cenário todo e ela bateu contra algo no ar ainda que de primeiro momento não parecesse ter nada ali ao primeiro olhar. Porém com um pouco mais de atenção era possível ver que havia algo quase totalmente transparente ali, servindo como uma barreira entre eles e a efígie certamente fazendo parte da armadilha feita por Ishmael. Subitamente um som alto espalhou-se pelo local, o som do disparo de uma arma, Lennart havia criado uma do nada e disparara para testar a resistência da barreira, a bala mágica dele chocou-se contra o invisível e caiu contra o chão inutilmente. ♙

- É mais resistente do que aparenta ser. - Disse Lennart, uma vez que a barreira parecia ter propriedades de um véu.

- Não acho que jogar ataques aleatórios contra ela vá adiantar de algo. - Maxwell disse, começando a pensar. - O que acham se...

♙ Subitamente ele parou, os Cognitivos e os espíritos haviam desaparecido e apenas ele estava ali. De dentro da barreira da efígie passou uma pessoa, o véu invisível esfregando-se suavemente contra o seu rosto, havia uma lança em uma de suas mãos e o seu peitoral estava completamente ensanguentado. A pessoa tratava-se de Gale, a mãe de Maxwell. Ele lembrou-se, tivera um pesadelo enquanto era arrastado para aquele local e esse pensamento envolvera sua mãe ensanguentada, assim como ele terminando de matá-la dentro desse pesadelo. Maxwell deu um passo para trás. Para os Cognitivos Maxwell subitamente ficara transparente e Melissa, que estava apoiada em cima dele, caíra para o chão o atravessando como se ele fosse intangível. Eles não podiam ver Gale, mas conseguiam ver Maxwell recuando. ♙

- Você me matou, Maxwell. - Disse Gale. - A culpa é sua. Termine o que começou. - Ela estendeu sua mão para frente, oferecendo a lança para Maxwell.

- É da minha fé que você jamais me acusaria de algo tão horrível assim. E reusar meu pesadelo contra mim não adianta de muito. Seu nome não é Gale Marie Watson. Seu nome é Ishmael. Agora suma da minha frente. - Maxwell firmou-se e continuou a olhar para o fantasma de sua mãe que aos poucos desapareceu completamente, levando junto de si a barreira. Maxwell subitamente voltou a ser, tornando-se tangível novamente e podendo ver seus companheiros. - Isso foi fácil. A armadilha nessa efígie desse ser terrível.

- Desculpa, mas não era algo que eu podia controlar. - Maxwell riu, acariciando o topo da cabeça de Melissa. - Não, da última vez a armadilha estava dentro da efígie e foi liberada quando eu destruí ela. Imagino que essa aqui seja igual.

♙ Ainda assim, Maxwell estava confiante. Ele estava com a proteção que havia recebido de Louis e aquilo deveria servir para protegê-lo de quaisquer ataques mentais que fossem feitos contra Maxwell, ele também rezava para que fosse protegido contra ataques físicos uma vez que achava difícil Ishmael ficar nos mesmos ataques sempre. Ele soltou-se gentilmente de Melissa e caminhou na direção da efígie tirando uma das cartas brancas e erguendo-a, logo a energia maligna da efígie começou a ser sugada para dentro da carta que em questão de segundos solidificou-se como vidro, com Maxwell rapidamente dando um soco na mesma a partindo em vários pedaços. A efígie sumiu, não sem antes emitir uma onda de energia negra que foi na direção de Maxwell, porém ela foi paralisada na metade do caminho e desapareceu deixando para trás apenas fragmentos de energia dourada que foram na direção da cabeça de Maxwell e lentamente as memórias começaram a retornar. ♙

- Então foi assim... - Maxwell deu alguns passos para trás, parecendo um pouco tonto, mas num geral estava bem.

- Que tal voltarmos antes de continuarmos essa conversa? - Sugeriu Dante, tendo em mente o descanso de Maxwell.

♙ No momento que Hanna falou aquilo o cenário ao redor deles desapareceu completamente, desfazendo-se em pequenas partículas roxas. O labirinto também desapareceu revelando o caminho de volta, ele era muito mais curto do que realmente parecera ser dentro do labirinto e em questão de minutos eles estavam de volta na igreja dessa vez com Maxwell sentando-se voluntariamente no banco para descansar. Precisava de tempo para pensar e as propriedades curativas do banco eram ótimas para que ele pudesse relaxar um pouco para pensar na grande variedade de informações que estavam sendo repassadas para ele. ♙

- Heaven's Gate inteira estava sobre o controle de Ishmael. - Ele falou, assim que todos se arrumaram. - Não eram apenas alguns como eu acreditava, todos os cidadãos estavam sendo influenciados por ele de alguma maneira, inclusive eu. Todo mundo dançou do jeitinho que ele queria. Porém algo inesperado por ele aconteceu, meu irmão foi sequestrado e retornou não sendo influenciado por ele. Nathanael era a pessoa mais livre daquela cidade inteira.

- Okay, pera. A cidade inteira, tem certeza disso? - Dante perguntou, um pouco incrédulo.

- Sim. Todos estavam contribuindo para com o plano dele, eu só fui o escolhido por mero acaso. Ele tinha várias pessoas para me substituir caso tudo desse errado. - Maxwell abaixou seus olhos para as pernas, suspirando. - Ele precisava de alguém para enfrentá-lo no Tabuleiro, ele sabia que isso ia acontecer. Então ele escolheu alguém que pudesse derrotar facilmente. Aquela minha atitude maluca de se dizer um demônio foi influência dele para me deixar isolado. Porém ele não contava com vocês.

♙ Maxwell queria poder resolver aquela situação facilmente, só um confronto pessoal e direto com Ishmael onde pudesse soltar os Cognitivos em cima deles. Eles eram poderosos e com as cartas tendiam a ficar ainda mais fortes, portanto não deveria demorar tanto assim para vencê-lo, pois se Ishmael estava criando tantas barreiras entre ele e o grupo de Maxwell só poderia significar que não tinha muita certeza de que venceria em um combate corpo a corpo. Mas bem, não adiantava muito pensar sobre isso naquele momento, ele estava tão longe que chegava a ser risível ainda havia uma efígie e eles não faziam a menor ideia do que precisariam fazer para chegar até ela. Lennart traduziu rapidamente o que Nymeria havia dito para os demais. ♙

- Concordo, nossas chances são boas. - Dante assentiu, passando seu braço ao redor dos ombros de Hanna. - Só precisamos ficar espertos para as armadilhas dele, essa proteção que o Max ganhou pode não durar para sempre.

- Nós vamos conseguir. Estamos perto, falta mais uma e temos dias de sobra. - Maxwell sorriu, um pouco confiante.

- Vamos precisar de você bem descansado se formos lidar com ele. - Lennart falou, dando um suave beijo no topo da cabeça de Nymeria.

- Eu sei. Vamos estar prontos para isso, não se preocupem. - Maxwell puxou CogMel para mais perto com um sorrisinho besta, dando um beijinho na bochecha dela. - Vai dar tudo certo, não estamos aqui para falhar afinal de contas.

♙ Ele não queria ir tão longe apenas para desistir justo quando as coisas começassem a apertar, principalmente considerando tudo o que estava em jogo naquele Tabuleiro, eles não poderiam perder apenas para ter Windfall sumindo do mapa conforme Ishmael alcançava seu novo poder. Na verdade, ele não sabia dizer se aquilo era realmente verdade, se ele teria o poder para destruir uma cidade inteira e ainda fazer com que isso passasse despercebido pelo resto da raça humana. Provavelmente não, mas Maxwell não queria esperar para ver qual o estrago que ele iria fazer. ♙

- Vamos tentar fazer isso acontecer o mais rápido possível. - Maxwell falou, apoiando a sua cabeça contra a da cognitiva.

- Bom, se você vai ficar se recuperando, vamos te dar espaço. - Dante decidiu pelos demais, julgando que o tempo de descanso de Maxwell seria melhor apreciado tendo apenas Melissa no local.

♙ Lennart segurou a mão de Nymeria e sinalizou para ela que deveriam dar aos dois um pouco de privacidade. Era engraçado que mesmo aquela não sendo a Melissa real os Cognitivos a tratavam como se ela fosse, por mais que não fosse necessário que dessem espaço para os dois eles ainda sentiam que deveriam fazer isso uma vez que mesmo que adorassem a companhia dos amigos, Melissa e Maxwell sempre pareciam se divertir mais quando estavam a sós um com o outro. Isso se dava por motivos óbvios, é claro. Ainda era recente, aquele relacionamento, ambos ainda estavam aprendendo mais um sobre o outro e sobre como deveriam agir um com o outro, apesar de que já tinham a maior parte da coisa compreendida, faltavam apenas alguns pedacinhos que aos poucos seriam descobertos. ♙

- Bom, temos uma cidade para salvar. - Ele deu um beijo na bochecha dela. Em seguida desceu um pouco e deu outro beijo. - Mas é verdade, eu sempre fui bem apressado. Querendo ver tudo o que eu podia antes das cortinas se fecharem. Talvez seja por isso que eu queira provar tanto dela, esse amor merece ser aproveitado ao máximo. E é claro, - Ele deu um outro beijo no pescoço dela. - quero provar de você também.

♙ Era a vitória lhe subindo a cabeça, mas como já haviam definido ele era bem apressado. Talvez fosse uma de suas maiores falhas, ele nunca parava para poder apreciar mais de uma coisa ao mesmo tempo, estava sempre indo de sensação em sensação e a do momento era Melissa como um todo. Ele queria aproveitar da companhia dela, queria ouvir os seus risos, amparar suas lágrimas, esquentar o seu corpo e poder dizer após isso tudo que eram únicos, não havia ninguém naquele mundo que pudesse ter uma relação tão profunda quanto a deles. Não acreditava em almas gêmeas, assim como não acreditava que certas coisas estavam predestinadas a acontecer, o que ele acreditava, porém, era que estar ao lado de Melissa fora a melhor atração possível que o universo pudera gerar. Não bastasse tudo isso, havia o fato de que mesmo estando distantes sempre retornariam um para o outro, não importando a distância, não importando os desafios, iriam ver um ao outro novamente no final de tudo. Talvez... Talvez essa história de almas gêmeas não fosse tão maluca assim no final das contas. ♙

- Incomoda demais? Estarmos sempre perto de algo sem nunca realmente fazermos algo?

- Tem razão. - Ele parou com os beijos, ajeitando-se no banco e estralando o seu pescoço. Não havia passado um tempo necessariamente longo no Tabuleiro, naquele dia é claro, porém era inevitável que começasse a sentir cansaço e certo incômodo em seu corpo. - Não posso deixar qualquer vitoriazinha me subir a cabeça, preciso ter foco.

♙ Maxwell poderia ficar um bom tempo ali, dando atenção para a Cognitiva. A atenção que ele julgava que ela deveria estar recebendo do seu Cognitivo, logo ele esperava carinho e o máximo de luxúria que conseguia se forçar a ter com ela, o que se resumia a toques e beijos curtos no rosto, o que não era muito e era justamente por isso que ele perguntava, imaginava que se o relacionamento dela com o seu Cognitivo fosse parecido com o relacionamento real entre os dois, então ela provavelmente iria querer bem mais do que ele estava oferecendo naquele momento. Porém o que podia oferecer sem se preocupar em controle era amor, uma vez que aquela era uma parte de Melissa não havia dificuldade alguma em transmitir para ela o mesmo amor que oferecia para a Melissa real. ♙

- Não muito. Mas imagino que toda essa provocação deva ser frustrante.

- Estou tentando ser realista. - Maxwell deu de ombros, sabia bem que a animação de antes havia sumido. Passou seu braço por trás de Melissa, segurando-a em um abraço lateral. - Eu vou fazer o meu melhor para que tudo dê certo.

♙ Maxwell tinha um medo enorme dentro de si, ele não podia falhar ali ou toda a cidade iria pagar o preço dos pecados que Heaven's Gate cometera. Não sabia bem dizer como que Ishmael chegara naquela cidade em específico, mas sabia que alguém deveria ter feito algo de errado para atraí-lo e agora outras pessoas inocentes estavam sofrendo apenas por existirem. Maxwell era um culpado maior ainda, viveu anos com aquele ser ao seu lado sempre acreditando que ele era uma alucinação recorrente e nada além disso. Deveria ter notado. Deveria ter feito algo, qualquer coisa. ♙

- Bom, logo logo você não vai precisar se preocupar com isso.

- Bom saber que confia em mim.

♙ Era meio redundante falar aquilo. Melissa confiava nele, logo sua Cognitiva também confiaria, porém ainda assim era bom ver falas de confiança daquela maneira era algo que lhe alimentava a alma e dava energias para seguir em frente. Isso vindo de qualquer um de seus amigos, claro. Notar que ele tinha feito bem o suficiente para que os demais confiassem nele com seus problemas e suas alegrias era algo que ele jamais pensara que iria experimentar uma vez que sempre tivera poucos amigos ainda que tivesse certa fama por conta de suas artes e... Bem, por conta de um pedaço de sua vida que estava tentando esquecer no momento. ♙

- Porque ele vai aparecer. Tenho certeza que vai. Estamos perto do final, não há motivos para ele continuar desaparecido.

- Fico feliz em ouvir isso.

♙ Ele sorriu de volta e aconchegou-se contra Melissa, não gostava muito da ideia de deixá-la sozinha vagando o Tabuleiro em busca de seu Cognitivo enquanto ele estava descansando do outro lado, mas não havia muito que podia ser feito. Ele sabia que o seu Cognitivo jamais iria aparecer enquanto ele estivesse ali por conta dos perigos que haviam em ele ver o seu próprio Cognitivo, portanto a única hora certa de aparecer seria quando Maxwell estivesse do outro lado. Ainda assim ele gostaria de passar umas palavras adiante para si mesmo, era bom que ele tivesse uma ótima explicação para o motivo de estar desaparecido. ♙

- Tipo... Ishmael pegou ele e está com ele preso?

- Sabe, ele tem ajudado bastante, mas também não confio muito nele. Simplesmente tem algo sobre ele que me deixa com o pé atrás.

♙ Louis era muito misterioso para o gosto de Maxwell, ele não revelava muito sobre si e sempre parecia saber bastante sobre Ishmael e como o lado dele operava. Já começava sendo estranho que ele de começo se parecera como um humano para Max, ele imaginara que tinha mais um humano dentro do Tabuleiro e que o trabalho desse era ajudá-lo, mas o próprio clarificou que se tratava de uma criatura mágica apesar de não dizer exatamente qual era. Tudo sobre Louis era tão misterioso e Max nem mesmo poderia perguntar mais para ele uma vez que sabia que não receberia nenhuma resposta. ♙