Ars Goetia

Se antes Maxwell acreditava que era uma pessoa completamente maluca, agora ele certamente precisava buscar ajuda psiquiátrica. Não se lembrava de ter usado nenhum tipo de droga, logo tudo o que vira não tinha como ser algum tipo de viagem alucinógena. Merda. Merdamerdamerdamerdamerdamerda. Ele dava passadas aceleradas de um lado para o outro no quarto em que estava. Encontrava-se no apartamento de seu irmão, passara a noite ali dormindo e quando ele acordara o mesmo questionara-o sobre o que tinha acontecido. Mas como explicar o que vira? Ele tentou, mas tudo o que recebeu foram alguns olhares de dúvida, seguidos por uma expressão de preocupação. Então, Nathanael deixou-o no quarto e foi fazer uma ligação.

Sentou-se na cama, seu pé esquerdo batendo ritmicamente no chão. Olhou para o lado, viu os remédios que Nathanael havia comprado. Um para a dor de cabeça, outro para o estômago. Também buscara o remédio para a ansiedade que Maxwell havia conseguido alguns dias atrás. De maneira ilegal, é claro, tinha medo de realmente acabar no hospício. Pegou uma das pílulas de seu remédio e tomou, para ver se conseguia se acalmar. Seu mundo inteiro acabara de ser destruído na noite passada. Mas ele precisava voltar para aquela igreja. Tinha que dar um jeito. Precisava ver se tudo aquilo fora realmente real ou não.

- Max! – Ouviu a voz de Nathanael chamando-o, do outro cômodo do apartamento. – Eu vou no banheiro. Assim que eu sair a gente conversa!

- Beleza! – Sua chance surgira, como se Deus tivesse lhe dado aquilo. Merda, talvez isso não fosse tão impossível assim.

Assim que escutou a porta do banheiro fechar-se, ele saiu do quarto silenciosamente. Sorrateiramente, ele passou pela sala e deixou o apartamento, fechando a porta atrás de si. Então começou a caminhar rapidamente, pegando o elevador e descendo até o térreo, deixando para trás o complexo e passando a caminhar pelas ruas de Windfall.

Era quase como um viciado correndo de volta para o seu vendedor. Precisava daquilo. Se fosse mentira, ele teria que se internar. Imaginar uma pessoa, ou demônio em seu caso, era uma coisa. Era como um amigo imaginário de uma criança solitária. Agora, um mundo paralelo, com demônios e outras criaturas? Impossível.

A igreja ficava longe do apartamento de Nathanael e ele sabia logo seu irmão estaria em seu encalço. Foi pelas piores ruas, pegou os atalhos por aonde seu irmão não iria e, após mais ou menos trinta minutos, chegou à igreja abandonada. Agora era dia e ele podia ver a estrutura de uma maneira melhor. A única indicação de que aquele lugar um dia fora à casa de Deus era a cruz que estava acima da entrada, de resto aquilo poderia muito bem ser um local amaldiçoado.

A madeira era velha e mal pareciam aguentar-se de pé, os vidros foram quebrados, fosse por vândalos ou pelo tempo. Havia pichações por fora, dos mais diversos símbolos de gangue, citações de pessoas famosas e é claro que havia sinais fálicos em um determinado ponto. A falta de respeito era enorme, mas era de se esperar com um lugar tão antigo como aquele. Havia uma nova igreja, é claro, feita de concreto e muito maior do que aquela. Esses tipos de pichações nunca seriam encontrados nessa nova igreja.

Precisou de um tempo para se preparar, sentia que seu coração ia saltar para fora do seu peito. Mas inspirou e entrou. Caminhou e caminhou. Não havia mais bancos, o local estava vazio e as madeiras do altar estavam rachadas. Sobrara apenas a imagem de Jesus Cristo, presa à parede. Talvez tivesse sido esquecida. Ou talvez fosse muito complicado tirar ela.

Subiu no altar. E fechou seus olhos. E assim que os abriu... Ainda estava na igreja.

- Eu sabia... Merda, eu preciso me internar urgente. – Murmurou, olhando para o fundo do altar.

- Se fizer isso, você irá selar o destino dessa cidade. – Falou uma voz conhecida, atrás dele.

Maxwell girou em seus calcanhares e olhou. Ali estava o homem da noite anterior. Louis Cyphre. Olhando para fora, ele via a mesma distorção de antes, com a igreja parecendo ser o único local encostado. Ele caiu sentado no chão, recuando para trás com pressa. Aquilo era real demais para ser uma alucinação. Sentia seu coração acelerar cada vez mais, como se fosse pular para fora do seu peito. O rapaz estava começando a suar.

- Eu... – Não conseguia falar nada.

- É bom que esteja sentado, tenho muito para te explicar. – Disse Louis, subindo no altar e olhando nos olhos de Maxwell, aquele sorriso calmo e controlado em seus lábios.

Mesmo com o rapaz estando na beira de um ataque de pânico, o homem lhe explicou como aquele local funcionava. Havia um ser a quem chamavam de Rei, este seria Ishmael, ele era quem fizera com que o Tabuleiro fosse necessário ali. Como uma peça importante, ele estava longe do alcance do Peão, que seria Maxwell. Havia também a Rainha, o Bispo e a Torre. Para chegar até o rei, ele precisaria passar por eles antes.

Louis explicou para ele a funcionalidade das cartas. As ligações que ele fizera e foram atribuídas a uma das cartas tinham poder no Tabuleiro, podendo virar a situação a favor do Peão. Quanto mais ligações, mais cartas e logo mais poderio ele teria. Porém o poder daquelas cartas não poderia ser aplicado em Maxwell, apenas em seus aliados.

Na verdade, nas próprias palavras do homem, em um combate Maxwell era um inútil. Não tinha poderes, apesar daquela camuflagem que Louis lhe dera, logo não tinha como chegar nem perto de ferir os seres que vagavam por aquele lugar. Para isso, ele precisaria de seus aliados. Eles lutariam as batalhas dele por ele, enquanto ele ficaria encarregado de destruir as efígies erguidas para Ishmael.

- Mas eu não tenho aliados. E não quero envolver ninguém nisso. – Foi o único momento em que ele conseguiu se pronunciar, até então ficara em silêncio, tentando prestar atenção no que Louis falava e também tentando se acalmar.

- Não se preocupe, tenho três aliados que poderão lhe ajudar. Fica por conta da casa. – Disse Louis, calmamente. – Não se preocupe se eles morrerem também, eles são descartáveis.

- Eu não estou entendendo... – O rapaz estava completamente confuso.

- É, eu sei. – Louis deu de ombros, qualquer resultado ali não lhe era importante.

E então, seus aliados surgiram. Senhor nos céus se ele soubesse que criaturas eles iriam ser, teria os recusado. O primeiro que surgiu foi um ser que parecia ser feito de algo verde. Possuía apenas o peitoral e a cabeça de um humano, semelhante a um adulto. Flutuava calmamente a alguns centímetros do chão, com um sorriso enigmático em seu rosto.

- Uma criança... Você quer que a gente jogue com uma criança? – Uma risada de escárnio deixou os lábios daquele ser, conforme ele olhava para Maxwell.

- Acalme-se, Aeros, ele não parece ser tão ruim assim. – Disse outra voz masculina, esta era mais profunda.

Pelas portas da igreja entrou o que deveria ser a criatura mais bizarra que ele já vira até então. Era um leopardo antropomórfico, ao invés de patas ele possuía pés e andava como um humano vestia algo que lembrava uma cueca por cima do que seriam suas partes íntimas, possuía uma capa verde presa ao redor de seu pescoço e duas espadas em suas costas.

- Louis. – Disse o leopardo, abaixando sua cabeça em reverência e cumprimento ao homem.

- Ose, é bom vê-lo novamente. – Respondeu Louis, fazendo o mesmo cumprimento.

- Eu espero que você tenha certeza absoluta de que é esse pivete quem vai ganhar esse jogo, não quero morrer de novo. – Disse uma voz, desta vez feminina. Não tendo mais do que trinta centímetros de altura, ao redor de Louis flutuava uma fada. Cabelos azuis espetados, quatro asas e roupas prateadas e pretas.

- Não ter certeza absoluta é o que faz esse jogo ser divertido, Pixie – Louis respondeu, estendendo seu dedo indicador para frente, onde ela se sentou.

Maxwell estava de boca aberta. Ele devia ter tomado algum tipo de alucinógeno, ou quem sabe respirado algum tipo de gás? Ou ele realmente estava enlouquecendo. Levantou-se e caminhou até a criatura que fora chama de Ose, cutucando-o no braço. Ele era real. Aquilo era real.

- Eu acho que vou pirar. – Maxwell deu dois passos para trás.

- Se for vomitar, faça isso onde ninguém possa ver. – Disse Pixie, em seguida olhando para Louis. – É sempre assim. Por que eles não conseguem aceitar?

- Tem um leopardo de pé, um vento falando e uma fada. Você quer que eu pense o que, caralho? – Retrucou Maxwell, inspirando profundamente logo em seguida. – Eu preciso destruir essas efigies com as cartas brancas que possuo e vocês vão me ajudar, correto?

- Se você sobreviver até chegar a uma delas é claro. – Provocou-o Aeros, aquela voz debochada estava começando a dar nos nervos de Maxwell.

- Certo certo, tem algo mais que eu preciso saber? – Seus olhos pararam em Louis, ele estava tentando fazer o seu melhor para não perder o pouco de sanidade que lhe restava.

- Ah sim, os Cognitivos. – Louis disse, parecendo se lembrar de algo. – Quando as pessoas criam uma imagem muito forte de si mesmas, isso reflete no Tabuleiro. Você vai encontrar pessoas aqui, conhecidas suas, mas elas são diferentes. Elas são como essas pessoas se enxergam.

- Você tá falando baboseira de propósito ou isso não é para fazer sentido nenhum mesmo? – Maxwell questionou.

- Melhor dar um exemplo. Se uma pessoa pensa sobre si mesma como um anjo na terra, ela será um anjo aqui. É claro, são raros os casos, mas eles acontecem. – O homem loiro proclamou, após suspirar pesadamente.

- Então... Se eu me visse como um gigante, eu teria uma versão minha aqui que é um gigante? – Questionou Max.

- Basicamente isso. Em casos mais extremos, onde a pessoa não só se enxerga como algo, mas outras pessoas a enxergam também... Bom, pode levar a consequências drásticas, como interferência no outro lado do Tabuleiro. Então tome cuidado ao julgar as pessoas, você nunca sabe quando vai piorar tudo para si mesmo. – O sorriso que Louis agora vestia era um maquiavélico. Ele sabia de algo.

- Eu... Vou precisar de hoje para tentar digerir isso tudo. Amanhã eu volto e começamos... Puta que pariu, eu tô fudido.

Seus olhos se fecharam novamente e quando se abriram, ele estava na igreja. Suas pernas amoleceram e ele caiu no chão, recuando até recostar-se na parede. Abraçou as próprias pernas. E chorou. Max não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo e como aquilo o envolvia. Na verdade sabia era ele a quem Ishmael acompanhava, ele quem dera tanta força e alimentara aquele ser. Soluçou. E continuou a chorar.

Aeros:

Ose:

Pixie:

♙ Maxwell retornou, é claro que retornaria. Considerara explicar o que acontecera para Nathanael. Ou melhor, explicar de novo. Porém sabia que seria uma perda enorme do seu tempo. Ao chegar lá, novamente aquelas listras azuis percorram o seu corpo, uma camuflagem perfeita para afastar os outros seres do local. Louis sabia que aquele garoto não duraria nada sem a camuflagem provinda da Magatama, mesmo com a ajuda de seus aliados. Recebeu uma breve explicação do que as cartas que possuía faziam e como ativá-las. Algumas cartas não funcionariam para alguns seres. Memorizou que tipo de carta funcionava para cada um dos seus aliados, sabia que iria precisar delas logo. ♙

♙ Dessa vez, estava mais calmo. Andava por um pesadelo vivo, é claro, mas ainda assim sabia que o único jeito de se livrar daquilo era jogando aquele maldito jogo. Louis acenou de maneira debochada para ele, conforme o rapaz deixava a igreja, acompanhado por Ose, Aeros e Pixie. Daqueles três, apenas Ose parecia acreditar no garoto, mesmo que fosse só um pouco. As ruas estavam quebradas, assim como as construções, aquele céu vermelho escuro continuava a sufocá-lo. E aquelas... Aquelas veias, por onde um líquido negro passavam. Aquilo fazia seu estômago se revirar. Parou no meio da rua da frente da igreja e inspirou profundamente. Pelo menos o ar dali era normal. ♙

- Não temos tempo, vamos.

♙ Acreditava já ter visto de tudo em sua vida. Fora sequestrado duas vezes, fora torturado, imaginara um demônio que acabara por ser real, vira outras criaturas estranhas e estava em uma versão paralela de sua cidade. Nada mais poderia surpreendê-lo. Absolutamente nada. Exceto, é claro, uma versão alternativa de sua melhor amiga. Específico, porém altamente verídico. Quando Melissa pousara na sua frente, Maxwell estava em caminhada e precisou parar para não se chocar com ela. Seu queixo caiu, pois ele só havia visto o rosto dela. Era, obviamente, idêntico. Mas... Haviam claras diferenças quando não se olhava apenas na superfície. ♙

♙ Atrás dele, Ose cruzou seus braços. Não sentia que aquele Cognitivo era uma ameaça, caso contrário já teria os atacado. Aeros apenas manteve-se flutuando, aquele sorriso cheio de sabedoria falsa permeando os seus lábios... Ou que contava como lábios em uma forma gasosa. Já Pixie apenas flutuou e pousou displicentemente em uma das espadas de Ose, observando a situação de cima. Os três estavam interessados em ver como aquilo terminaria. ♙

- Você é... Ela. - Estendeu sua mão, indo até o lado do rosto dela, sentindo a pele dela em sua mão. A sensação era similar, mas não era a mesma. - Você é diferente... Muito diferente.

- Um pouco, mas entendo porque ela se enxerga assim... Ela atraí pessoas, as seduz e então as queima. Bom, a única pessoa que ela seduziu no sentido original da palavra foi eu. Mas ela não poderia estar tão longe da verdade... - Maxwell deslizou sua mão pelo rosto dela, descendo, passando pelo lado do pescoço e indo até a nuca. - Não se deixe levar apenas pelas aparências.

♙ De certa forma, nenhum dos dois eram da maneira que são do outro lado. Melissa tinha suas maiores diferenças em proporção de corpo e a mais óbvia era o par de chifres que saíam de sua testa. Já Maxwell... Ele possuía aquelas listras azuis que percorriam o seu corpo, não parecendo deixar nenhum canto intocado. E ele parecia carregar um peso em suas costas, era possível ver isso em seus ombros caídos, sua expressão corporal era uma de cansaço. ♙

- Apesar de que... - Sua mão voltou até o rosto dela, seu dedo polegar passando suavemente pelo lábio inferior dela, um sorriso começando a desenhar-se em sua boca. Ele olhou ela de cima para baixo, um olhar curioso, notando cada diferença. Ele conhecia bem o corpo de Melissa, apesar de só ter visto-a nua uma vez, era algo que ele se lembrava bem. Era uma visão e tanto afinal de contas. - De todas as formas para assumir, essa aqui está longe de ser a pior.

- Céus não, eu sei que não fui o único. Se eu tivesse sido... Bom, ela seria ainda mais impressionante do que já é. - Maxwell deu uma pequena risada. Apesar de ter sido uma única noite, ele vira e provara o suficiente de Melissa para saber que estava longe de ter sido o primeiro parceiro de cama dela. Não, não. Certamente haviam tido outros. Ele próprio tivera outras pessoas. - Eu sei. Dias atrás estávamos para usar a bebida como desculpa de novo. Mas fomos interrompidos. E bom, posso ser o único em Windfall, mas quem sabe ela não encontre outra pessoa, não é mesmo?

♙ Falava de maneira despretensiosa, como se aquilo fosse só uma possibilidade que ele aceitara. Mas vestia um maldito sorriso confiante, de quem já havia visto como toda a situação se desenvolveria. Conhecia bem Melissa, apesar de só ter começado a conversar com ela meses atrás, sabia que tipo de pessoa ela era nesse quesito. Ele seria o único por um longo tempo. E essa era uma ideia que certamente o agradava. Gostara muito daquela noite. Bom, pelo menos do que lembrava-se dela. E sabia que ele não era o único que queria repetir aquilo por mais algumas vezes. Ambos sentiam atração um pelo o outro, ambos tinham algo dentro de si que os levava para o outro. Um prazeroso magnetismo. ♙

- Gosto dessa ideia. - A mão do rapaz cujo dedo polegar passava pelos lábios cheios dela começou a descer, as costas da mão deslizando pelo rosto dela, descendo pelo pescoço e, sem cortesia alguma, passando suavemente pelos seios dela pressionados contra si. A outra mão, que estava livre, desceu um pouco mais, passando pela cintura dela e indo ainda mais embaixo. Sentiu os glúteos dela por debaixo de seus dedos, mas não fez nada além de passar a mão. Ainda vestia aquele sorriso. - Gosto muito dessa ideia.

♙ Os três seres que acompanhavam Maxwell se entreolharam, havia curiosidade em seus olhos e expressões. Já haviam visto alguns humanos relacionando-se com Cognitivos antes, fosse por desespero ou por uma perversão interna. Aquilo era, porém, um pouco diferente. Ambos conheciam-se. Maxwell e a garota que gerara aquele Cognitivo. Haviam se envolvido, tanto em uma amizade como sexualmente. Era um novo parâmetro. Porém havia o senso de urgência, Maxwell não tinha muito tempo. Dois meses, apesar de soar como muito no papel, deveria ser um pouco mais do que o suficiente. Isso, é claro, se ele agisse corretamente. Distrações como aquela poderiam custar-lhe a vida e a daqueles que habitam a cidade. E é claro, sendo seres surgidos da mente e da fé humana, criados das profundezas das almas mortais... Eles nada fizeram, apenas observaram. ♙

- Mas eu acho... Que é você quem está com mais vontade entre nós dois. - Os lábios de Maxwell percorreram suavemente a bochecha dela, parando contra o ouvido. - Mas hoje não. - Dito isso, ele afastou-a de si, seu sorriso alternando-se para um calmo. - Eu estou tentando fortemente não morrer e levar todo mundo junto comigo. Foi mal, fica pra nunca, que tal?

♙ Com isso sendo dito, ele passou por ela fazendo um sinal com a mão para que os outros o acompanhassem. Não fazia a menor ideia de qual seria o resultado em ignorar e brincar com uma Cognitiva. Principalmente se tratando de Melissa. Bom, dependia muito. Era capaz de ela tentar queimá-lo, como a Melissa real faria em seus piores dias, ou simplesmente aceitar a brincadeira, como a Melissa real faria em seus dias não tão ruins. ♙

- Como eu poderia não estar? Foi uma noite incrível. Inveja de si mesma? - Ele ainda não entendia bem aquele sistema de Cognitivos. Não era só porque aquela era a Cognitiva da Melissa que ela se identificaria com ela. Não, aquela era uma versão exagerada do peso que Melissa colocara em suas costas, de seus próprios julgamentos e de sua autodepreciação. Maxwell, após aquele noite, culpara a bebida também. Pensou que mesmo são ele jamais faria algo como aquilo de novo, Melissa era sua amiga. Mas no fundo ele sabia que mesmo estando completamente são, se fosse lhe dado a oportunidade de dividir uma cama com ela por algumas horas... Bem, sabia que não teria nada para culpar a não ser a sua própria vontade. - Eu tenho uma boa ideia do que foi feito. Preciso compensar para ela de alguma forma depois.

♙ Ah a imagem que se formara em sua mente era tão provocativa, tão excitante... Imaginar ela em seu quarto, sozinha, pensando nele enquanto... Merda, precisava se focar naquele instante. Caso contrário ele acabaria caindo nas provocações da Cognitiva. Sabia que algumas palavras aqui, alguns sentimentos despertados ali seriam o suficiente para ele perder a razão por alguns instantes. Apesar da situação ser certamente estranha e aquela ser uma versão diferente da Melissa... A atração que sentia por ela era inegável, mesmo perante a sua Cognitiva. ♙

- Ah, é mesmo? Isso muda as coisas... - Ele também só tinha olhos para ela. Ela poderia escutar um suspiro baixo, após seus lábios roçarem-se contra os dele. Era difícil aguentar, a carne era fraca e o rosto dela... Se tirasse os chifres, era Melissa. Com os chifres, era como um fetiche. As costas de sua mão passavam contra os seios dela, de maneira lenta, os dedos uma hora parando entre os dois. Queria ver até onde aquilo ia, mas ao mesmo tempo não podia se demorar. A outra mão, nas nádegas dela, pressionou-se suavemente contra ela não seria nem mesmo um apertão só uma forma de encostar nela. Sabia o que ela queria que ele fizesse com aquelas mãos, então enrolar ela com isso era a sua vantagem.

♙ Afastou-se a tempo. Mais um pouco e ele iria ignorar completamente a sua missão e aqueles que o acompanhavam. Mas seria extremamente estranho, ela era um outro ser. Era... Não era Melissa, apesar de ser ela. Certamente possuía um corpo levemente mais provocativo, mas o que ela tinha de curvas desejáveis, a Melissa original tinha de presença. Caso Melissa fizesse com ele o que a Cognitiva fizera, ele não iria se segurar nem um pouco. E então ela o abraçou por trás, os seios pressionando-se contra ele. Precisa de força, muita força. Se ao menos tivesse feito algo com Melissa naquela noite, ele não iria sentir tanta vontade assim.♙

- Vai me acompanhar pela minha missão toda então, porque eu não vou mudar de ideia. Mas claro, pode vir. Gosto da sua companhia.

- E é por isso que está buscando se conectar comigo? - Em questão de atração física, por mera aparência, aquela Cognitiva era simplesmente perfeita. Corpo sedutor, atitude que acompanhava a aparência... Não fosse por seu senso moral, ele certamente já estaria se perdendo no corpo dela. Mas ela ainda assim não era Melissa. Mas aqueles dentes... - Bom, a ideia de ter minha cabeça bem presa entre as suas coxas me parece maravilhosa.

♙ Apesar das respostas provocativas, apesar dos toques, apesar da vontade ele conseguira se afastar dela. Se Nathanael não tivesse atrapalhado-o naquele dia ele estaria bem satisfeito após passar mais algumas horas com Melissa, mas a sensação de estar perto do prazer e ser tirado disso era tão... Irritante. Ele queria poder fazer algo quanto aquilo, queria poder ir para a oficina que ela fizera e simplesmente jogar-se em uma cama com ela. Bom, precisaria conversar com ela antes disso, mas isso era assunto para dali alguns dias. ♙

- É claro que eu sou uma pessoa boa, querida. - Já havia chamado Melissa de querida e de amor. Bom, estava bêbado quando fizera isso, mas a chamara ainda assim. Portanto corresponder ao apelido com a Cognitiva dela não lhe era algo estranho. - Tem medo de que algo aconteça com ele antes que possa provar?

♙ Claro que ia aproveitar qualquer chance que tivesse para provocá-la um pouco. Mas bem, continuava andando, acompanhado por aqueles três seres que optaram pelo silêncio. Não por estarem desconfortáveis com a presença da Cognitiva, mas por simplesmente não se importarem. Não estavam ali para fazer uma amizade com Maxwell ou algo do tipo. Tinham que protegê-lo e ponto final. Conforme andavam pelas ruas destruídas, mais e mais Maxwell sentia um leve pesar em seu coração. ♙

- Estamos perto do território de uma efígie. Caso destrua a efígie, este território irá se tornar uma área segura como o terreno ao redor da igreja. Isso não afetará só o tabuleiro, mas também a área em questão da cidade. - Informou-lhe Ose. - Fiquem atentos. Assim que entrarmos nesse território, toda e qualquer criatura irá nos atacar.

- Gosto dessa imagem. - Ela o provocava tanto. Se ela não tivesse a voz da Melissa, talvez ele pudesse aguentar melhor. Mas ouvir ela dizer que queria-o de todas as maneiras possíveis... Veja bem, existe um limite para quanto ele consegue aguentar e ela parecia estar prestes a quebrar esse limite. - É... Você de joelhos na minha frente seria...

♙ Não completou. Não precisava completar. Agora estava difícil dizer quem estava provocando e quem estava sendo provocado. No momento que ela fez aquele biquinho, ele levou seu dedo indicador direito até a boca dela, circulando os lábios cheios da Cognitiva. Colocou a ponta do dedo no meio dos lábios, empurrando suavemente para dentro. Não precisava ser um gênio para ver o simbolismo que estava sendo colocado naquela ação dele. ♙

- Quanto você diz caçar... É caçar para matar? Ou transar? - Sentiu um calafrio percorrer a sua espinha. Melissa se enxergava como uma súcubo, que atraía, seduzia e queimava. Se aquela Cognitiva estivesse considerando queimá-lo... Foi tirado de seus pensamentos pelo beijo na bochecha. - Bom, você não seria a Melissa se não estivesse em cima de mim.

- Sim, queime todos eles exceto nós três. Pode ser que o rapaz te dê um prêmio se fizer tudo direito. - Comentou Aeros, rindo suavemente no processo. Maxwell piscou seus olhos fortemente. Queria socá-lo, mas não tinha como bater no ar.

- Posso... Pensar no caso. - Precisava se garantir que a Cognitiva estivesse ajudando-os completamente. Pelo o que já vira, ela poderia atacar um de seus aliados.

- Isso eu tenho certeza que seria. - Ele respirava de maneira pesada, queria muito largar o controle de tudo... Mas é claro, apesar da tentação ser grande, ele precisava se esforçar e ignorar. Mas o jeito que ela chupava o dedo dele é óbvio que logo imaginou aquela boca em outro lugar de seu corpo. Precisava manter o foco. - Aposto que quer saborear algo mais diferente.

♙ Não gostava muito da reação dela. Claro, não podia ver muito, ela estava sentada em seus ombros. Sensação não muito ruim, diga-se de passagem. Ela não pesava nada, logo ele podia continuar a andar e também havia a visão das belas pernas dela. Merda, se não afastasse aquela vontade que o consumia ele acabaria fazendo algo. Apesar de saber que não haveria problema em fazer algo porque bem... Literalmente ninguém ia saber, ele ainda queria sobreviver. ♙

- Vou ser sincero. Ser capturado? Me dá tesão. Morrer? Não me dá tesão. - Maxwell só estava fazendo tantas piadas porque se ele não tivesse nem um pouco de humor que fosse naquele momento, ele entraria em desespero. - E acredite eu adoraria te colocar nessas posições, mas minha sobrevivência vem primeiro.

- E em troca, o prêmio do garoto será um prazer enorme também - Disse Pixie, e Maxwell inspirou profundamente.

- Eu sinceramente só não bato em vocês porque eu iria apanhar. - Após falar isso Maxwell parou e logo os outros três pararam juntos. Na rua mais a frente, havia uma linha vermelha no chão. Parecia ser sangue, mas cruzava a rua toda de maneira reta. - O que é aquilo?

- Ali é uma outra área do Tabuleiro, uma que pertence a uma das efígies. Assim que passar por aquilo, é território hostil. - Informou-lhe Ose.

- Pronta? - O rapaz perguntou, olhando para cima nos olhos da Cognitiva.

- Gosto do jeito que me chama de querido. - Seu dedo indicador saiu da boca dela, a ponta que fora beijada entrando em contato com os próprios lábios dele. Um sorriso repleto de malícia tomou conta de seus lábios após isso. - Ah sim, e como eu adoraria. Tenho certeza de que você é ótima.

♙ Voltou a estremecer, desta vez com a lambida dela. Não estava gostando nem um pouco das imagens que formavam-se em sua cabeça. Sabia que não precisava de muito para que ele fosse capturado por ela. Apesar de não ser necessariamente indefeso, aquela era uma Cognitiva. Possuía capacidades que iam além das comuns. Duvidava que qualquer tipo de arte marcial que seu irmão lhe ensinara ajudaria contra ela. Sempre poderia seduzir ela, não que isso fosse algo difícil, mas também corria o risco de ela se aproveitar disso. ♙

- Depois... Posso pensar no seu caso.

♙ E precisaria pensar sobre aquilo. Primeiro porque era estranho, transar com a forma como Melissa se imaginava. Apesar de saber que aquilo era, de fato, uma parte dela... Então em teoria estaria transando com a própria Melissa?? Aquilo era confuso demais. E segundo que sabia bem como ele era com a Melissa real, ou Melissa completa, haviam bebido um pouco naquele bar e já estavam agarrando-se e indo para a cama. Pensava que no momento que a beijasse, qualquer controle que tinha seria jogado fora. Maldita versão sedutora de uma garota tão sedutora quanto. ♙

- Devo levar isso em que sentido? - Sorriu para ela e em seguida deu dois tapas suaves nas pernas dela. - Desça, duvido que consiga lutar estando em cima de mim.

♙ E assim que ela descesse, eles passariam pela linha. O ar havia mudado um pouco, sentia como se fosse um pouco mais difícil de respirar e houvesse uma espécie de peso em cima de si. Ose e Aeros tomaram a frente, com Pixie flutuando atrás de Maxwell. Ele sacou suas cartas do bolso. Havia a carta do Carro, pertencente a Melissa, a carta dos Enamorados, pertencente a Hanna, a carta do Sol, pertencente ao Dante, a carta da Força, pertencente ao falecido Noah, o Mágico, pertencente ao seu irmão. E o Diabo, mas este ele não sabia a quem pertencia. ♙

- Todos em guarda. - Alertou Ose, sacando suas duas espadas.

- Que tal sempre? - Realmente apreciava o modo como ela o chamava de querido. Não que a Mel completa nunca tivesse feito isso antes, mas havia ternura e perversão atrás da voz da cognitiva. E ele apreciava isso. - Adoraria te provar...

♙ Ele pensaria. Ah como ele pensaria. Fosse por perversão ou pela futura necessidade que a cognitiva apresentaria, mas ele iria pensar bem sobre como lidar com ela. Estava fazendo aquilo nesse exato momento. Louis havia lhe explicado que algumas cognitivas possuíam poderes além do esperado, e ele sentia que Melissa era uma dessas. Também havia o fato de cognitivas serem praticamente imortais no Tabuleiro. O único jeito de elas serem mortas, era se a pessoa real morresse. ♙

- Mantenha isso em mente então, sei que está gostando das nossas provocações. - Arfou com a mordida em sua orelha. Estavam em território inimigo, não podia deixar sua mente viajar. - Se tudo der certo, pode ser que você tenha oportunidades para me mostrar tudo.

- Aí vem eles. - Falou Aeros.

♙ As criaturas que vinham possuíam uma aparência esquisita. Eram humanoides, possuindo braços e pernas. Porém era como se fossem feitas de uma gosma negra, similar ao petróleo. Porém, claro, ainda mais pegajoso. Elas literalmente pingavam no chão conforme avançavam, e um braço de uma das criaturas chegou a cair, porém logo um outro braço surgiu no lugar. Os olhos brilhavam em roxo e as bocas abriam-se, muito maiores que as de um humano, indo literalmente de um extremo ao outro da cabeça. ♙

- Os seres mais fracos desse mundo, não há motivo para usar suas cartas. - Informou-lhe Pixie. - Mas há força em números.

♙ Eram vinte no total. Maxwell até pensou em perguntar para eles sobre o nome das criaturas ou algo similar, mas observando o modo manco como se aproximavam, os guinchos que soltavam de puro medo... Eram criaturas simplesmente patéticas. Tão patéticas que não mereciam um nome. Elas claramente tinham medo do grupo, mas era seu instinto avançar, seu instinto lutar. ♙

- Os olhos. - Ose falou, olhando principalmente para a Cognitiva. - São como pedras. Destrua as duas e eles morrem definitivamente. Caso contrário só vão se regenerar.

- Eu posso acabar pedindo mesmo...

♙ Céus e como queria pedir. Queria arranjar algum local onde não seriam observados pelos outros três e perder-se no corpo dela. Era uma situação extremamente bizarra? Com toda certeza era. Mas quem poderia julgá-lo ali? Ninguém mais era capaz de entrar naquele Tabuleiro, ninguém ficaria sabendo e ele certamente não contaria aquilo para ninguém. E de certa forma, apesar de ela ser completamente diferente em questão de aparência e personalidade, ele ainda estaria transando com Melissa. Aquela era uma parte dela. Uma parte negativa, é claro, mas ainda assim era uma parte. E Maxwell gostava de Melissa como um todo, não só pelas partes boas. E isso incluía aquela Cognitiva. ♙

- Então vai ficar pensando em mim enquanto eu não estiver aqui?

♙ Ele pegou o que ela disse e levou para uma direção completamente oposta. Mas é claro que faria isso. Melissa foi a primeira a avançar, destruindo aqueles que atacou. De fato, Ose falara a verdade, era só destruir as pedras que as criaturas não iriam se regenerar. Então, aquele estranho ser leopardo com espadas avançou. Ele cortou o primeiro ser, nem prestando muita atenção nele, mas suas lâminas atravessaram as duas pedras como se não fossem nada. Aeros utilizava do vento, como sugeria seu nome, lançando lâminas que cortavam através das cabeças das criaturas. Pixie, por sua vez, não era uma combatente. Ela ficou em pé no ombro de Maxwell e pôs-se a cantar, uma melodia lenta, porém estranhamente poderosa. A Cognitiva de Melissa notaria que quando o som do cantar dela chegou aos seus ouvidos, sua velocidade aumentou. Apesar de naturalmente rápida, ela estava ainda mais agora. E Maxwell assistia, sabia que não adiantava nada tentar atacar aquelas criaturas. Porém segurava as cartas em sua mão. ♙

- Eu adoraria pedir para que você se ajoelhasse... Mas não posso perder tempo... Agora.

♙ Sua falta de controle lhe fez adicionar aquela última parte. Céus como aquela cognitiva era atraente. Ela tinha toda aquela personalidade provocativa, sabia o que falar para atiçá-lo e deixava claro que o desejava. E aquele corpo... Deveria ser um crime ser tão gostosa daquele jeito. Sentia que se ficasse deixando sua mente correr livre da maneira que estava naquele momento ele provavelmente nunca sairia do lugar. Precisava focar-se. Mas merda como gostava do que via. ♙

- Com muito esforço, suponho.

♙ Era difícil para Maxwell acompanhar aquela batalha. Sempre fora uma pessoa rápida, fosse em uma luta ou em uma fuga, mas aquilo era velocidade em um outro nível. Porém se comparar com criaturas sobrenaturais não lhe parecia algo muito são de se fazer. Assim que o sinal da Cognitiva foi dado, Ose saltou para trás e Aeros afastou-se ainda mais um pouco. Devido aos ataques dos três, os números haviam diminuído bastante e aquele último ataque dela foi o suficiente para finalizá-los. ♙

- Vamos prosseguir. - Pronunciou Ose e logo Maxwell aproximou-se dos outros a passos rápidos. Ele passou seu braço pela cintura da Cognitiva e puxou-a para perto, com um sorriso em seus lábios.

- Mandou bem, querida.