Aposentos da Hanna

- Nada! Nada não! - Aproveitou a brecha que foi criada para escapar da situação que ele mesmo criara. Ultimamente havia passado ainda mais tempo conversando com Max, era estranho o quanto aquele rapaz tão obviamente cansado conseguia ser, de certa forma, sábio e paciente com Dante. Não que fosse algo difícil de se fazer, mas conhecendo o rapaz era difícil imaginar tamanha calma vinda dele.

✮ Havia uma parte de Dante que adorava Hanna apenas pela inocência dela, uma parte meio pequena, que sobrara das épocas de Griffin. Essa parte se via curiosa perante essa ingenuidade dela ante malícia ou qualquer tipo de maldade óbvia para outros. Essa parte queria explorar até onde isso ia, qual seria o limite para ela notar que algo estava sendo feito com más intenções. Porém, a maior parte de Dante, a que dominava suas ações, amava Hanna como um todo. Amor poderia parecer ser uma palavra forte demais, pesada demais, para aplicar-se a uma pessoa que ele mal conhecia. Mas ele não conhecia alguma outra palavra que pudesse definir como ele se sentia. ✮

- A comida é excelente, não é? - Dante falou, abrindo as portas do carro e sentando no banco de motorista. Ligou o carro e tirou-o do estacionamento, começando a dirigir até o parque que haviam visto antes.

- Eu também estou me divertindo bastante.

✮ Havia um suave sorriso nos lábios de Dante, era uma coisa um pouco refrescante de se ver para quem conhecia o garoto e vira pelo o que ele passara ao descobrir sobre o seu passado. Apesar de realmente estar melhorando, ainda haviam os dias sombrios, onde o seu pessimismo e o medo tomavam conta de sua mente, onde ele se via incapaz de realizar até mesmo as ações mais básicas, uma vez que sentia o peso do mundo nas suas costas. Mas, ao lado de Hanna, ele parecia ficar melhor. ✮

- Chegamos. - Disse Dante, estacionando o carro perante o local de sorvete onde a garota queria ir. Não era tão distante do parque assim, precisavam só atravessar a rua.

✮ Dante desceu do carro, trancando-o e tentando abrir a porta apenas para garantir que estava fechada. E então pôs-se a caminhar ao lado de Hanna. A companhia dela era algo que lhe aquecia por dentro, lhe trazia aquela vontade enorme de sorrir de orelha a orelha. Mas isso seria um pouco estúpido, principalmente em público, então contentava-se com aqueles pequenos sorrisos toda vez que andava ao lado dela. Isso bastaria pelo momento. Quando estivessem em um local com menos pessoas, talvez ele pudesse sorrir mais. ✮

- Eu gosto de sorvete de chocolate.

- Deve ter sim!

✮ Ah... A proximidade. Era algo estranho, ele era também bem afetuoso com suas outras amigas, mas raramente sentia aquele calor dentro de si como sentia com Hanna. Era... Como uma fogueira, aquecendo-o em uma noite fria. Um calor calmo, aconchegante e de certa forma carinhoso. Seu sorriso expandiu-se um pouco mais, ele próprio parecia estar ficando ainda mais animado com tudo aquilo, o nervosismo saindo um pouco e dando lugar para aquela onda de sensações novas e boas. ✮

- Ah, uma vez, com meu pai.

- O que você preferir.

✮ A resposta de Dante foi acompanhada com um sorriso. Bom, ele só provara aquilo uma vez, não sabia o que era bom ou não. Logo achou melhor deixar que Hanna decidisse para ele o que comeria. Além do mais, gostava de vê-la feliz daquela maneira. Era extremamente refrescante se comparado a tristeza pela qual ele passara. Lhe fazia ver que ainda havia bondade no mundo e certa inocência também. Com aquele sorriso mantido em seu rosto, ele disse. ✮

- Vamos pedir, então?

✮ Dante gostava de quando Hanna ficava daquele jeito, animada com tudo que via. Parecia que até mesmo as coisas mais comuns e simples lhe agradavam. Era uma boa qualidade de se possuir. Foi até o balcão e apontou para algumas coisas, certamente mais simples do que o que Hanna pedira. Agora eles só precisavam esperar. Ele se deixara levar no restaurante e comera mais do que deveria e isso que ele deveria estar de dieta. ✮

- Eu não posso comer muito dessas coisas, sabe disso.

- Tenho certeza de que vai.

✮ O rapaz sorria durante todo o processo, pegando o seu sorvete e deixando Hanna pagar. Queria pagar por ela, mas sabia bem como seria a reação dela a isso. Logo, apenas manteve-se ali. Assim que foi pago, começou a caminhar ao lado dela. O parque não ficava muito longe, era literalmente do outro lado da rua. ✮

- Quer se sentar aonde?

- Que vai ficar gostoso, é claro.

✮ Queria poder enlaçar seu braço no dela novamente, sempre o deixava mais calmo. Por fora, Dante parecia ser a pessoa mais controlada do mundo, mesmo em uma situação um pouco vergonhosa como aquela. Mas por dentro... Ele sentia que seu coração ia explodir. Não sabia o que falar, não sabia o que fazer, não sabia se devia tentar algo ou simplesmente deixar seguir naturalmente. Como as pessoas faziam aquilo parecer tão fácil? Sabia que se saísse com qualquer outra pessoa seria diferente, ele estaria ainda um pouco embaraçado, mas suas emoções estariam no controle. Mas perto de Hanna era... Difícil. ✮

- Claro!

✮ Se Griffin tivesse escrito um livro sobre como manter suas emoções em controle em situações de estresse, Dante era mais do que qualificado para escrever uma sequência. Precisava controlar sua respiração para ela não sair de controle, se esforçava para que seu corpo não tremesse e fazia de tudo para que as palavras certas saíssem. Queria que aquele dia fosse perfeito. Tranquilo e sem maiores problemas. Bom, tirando o que havia acabado de planejar. Queria confessar-se. Mas como? Um simples ''eu te amo'' não bastaria, bastaria? E não seria estranho? Eles se conheciam a tão pouco tempo. Mas as conversas sempre fluíam, sempre sentia-se confortável e feliz ao lado dela. Achava que Hanna era a pessoa mais maravilhosa do mundo e... Precisava deixar isso para depois. Tomou uma colherada de seu sorvete. Não era tão grande quanto o de sua amiga, mas era bom. ✮

- Devíamos pegar sorvete ali mais vezes! - Ele comentou, dando mais uma colherada em seu sorvete. - Posso provar um pouco do seu?

- Podemos fazer isso sim! Quando você vai estar livre de novo?

✮ E ele acabara de convidá-la para um encontro. Mais uma vez. Desta vez essa não fora a sua intenção. Bom, na verdade fora, mas ele acabara falando no automático. A ideia de passar mais tempo com Hanna era uma que lhe alegrava tanto que ele mal conseguira conter as suas palavras. Engoliu mais um pouco do sorvete, antes de ela responder, precisava de algo para acalmar seus ânimos. Então ela estendeu aquela colher com o sorvete. Considerou pegar a colher e comer, mas ao mesmo tempo não queria fazer uma desfeita dessas com Hanna. Então abriu sua boca e comeu do sorvete que estava na colher dela, sorrindo alegremente após engolir. ✮

- É bom mesmo! Aqui, pegue um pouco do meu. - Como tinha menos sabores em seu sorvete, foi fácil pegar um pouco de todos em uma colher. Esticou-a, para que Hanna comesse.

- Bom, ainda assim vamos nos ver, eu vou estar ajudando você com o festival!

✮ Deveras. Dante prometera ajudar com a parte física do festival, montando estandes, colocando cartazes e preparando tudo para que ficasse perfeito. Seriam poucas as vezes que veria ela durante esses dias, assim como o tempo para conversarem seria curto. Mas cada segundo ao lado dela lhe alegrava. E também teriam dias livres, onde poderiam sair. Apesar de que... Ele tinha um ou dois dias livres que não casavam com os dela. Precisava achar algo para fazer. ✮

- Eu concordo plenamente com isso. - Como era de se esperar, Dante devorou seu sorvete que nunca teve uma chance que fosse contra ele. Dividiu uma ou duas colheres com Hanna e logo, havia terminado. Assim que a garota terminasse o dela, Dante perguntaria com um sorriso doce. - Quer voltar para a academia?

- Sim! Só precisa me apontar e me dizer o que preciso fazer. - Dante era um rapaz dedicado, principalmente quando o assunto era ajudar seus amigos. Claro, uma pessoa poderia olhar de fora e falar que ele ajudava apenas para ficar mais próximo de Hanna. Mas ele sinceramente a ajudaria mesmo que ela lhe rejeitasse.

✮ Fora uma tarde... Maravilhosa. Ele se divertira tanto com ela. Conversaram sobre diversos assuntos, riram e até comeram sorvete juntos. Ele não sabia como seria aquele encontro, sabia apenas que a levaria no restaurante e de resto não sabia mais o que fazer. Mas fora bom. Conseguia notar que ela se divertira tanto quanto ele, que ela gostara dos momentos que passaram juntos. E ele... Bom, ele queria que aquele fosse o primeiro encontro de muitos. ✮

- Claro! Quero dizer... Se você quiser. - Disse ele. A perspectiva de mais um encontro o animava. Após ela responder, começou a caminhar em direção ao carro com ela ao seu lado.