Aposentos da Hanna

- Claro que ensinarei!

✮ Dante tinha orgulho em ser um bom motorista, melhor que muitos naquela cidade certamente. Aprendera com seu pai, alguns meses depois do mesmo adotá-lo, Sigmund achara que seria importante para que Dante soubesse ao menos locomover-se rapidamente caso ele não estivesse por perto. Acabou que um dos passatempos favoritos de Dante era andar de carro, as vezes pegava seu carro e dava uma volta pela cidade, sem nenhum destino específico em mente. ✮

- Você canta muito bem! - Sorriu Dante, ao ouvir Hanna cantarolar - Só precisamos ficar de olho.

- Claro que vai conseguir!

✮ Dante tinha certeza de que conseguiria ensinar Hanna como ser uma boa motorista, apesar de saber da falta de coordenação que a garota tinha. Bom, para qualquer coisa que não fosse dança, pelo menos. Ainda assim, ele acreditava que conseguiria. Sem falar que dava-lhe um motivo a mais para ficar próximo dela, o que era algo sempre bom. ✮

- E eu vou estar lá para assistir - Não havia nenhuma dúvida dentro de si, eles estando juntos futuramente ou não, Dante queria assistir Hanna cantar em um musical. Ela era tão boa nisso que acreditava ser um crime perder uma apresentação dela - Claro que não, estamos falando dos filmes da Disney!

✮ Gargalhou de forma gostosa com a resposta de Hanna. Apesar de nunca ter se imaginado como um, ele gostava da ideia de ensinar pessoas, logo acreditava que ser um professor era uma boa escolha. Começara a fazer psicologia para lidar com seus próprios problemas, então se pudesse ensinar esse curso para outras pessoas, apesar de acreditar que nunca encontraria alguma em uma situação similar a sua, certamente poderia ajudar a evitar coisas parecidas. ✮

- Me deixaria feliz também - Como de costume, havia uma enorme sinceridade em sua voz. Gostava de ouvir Hanna cantar, então ver ela em um palco seria algo que o faria sorrir ainda mais - Exatamente!

✮ Ele falou como se alguém finalmente o entendesse, pela primeira vez em toda a sua vida. Apesar de já ter encontrado outras pessoas que gostavam das animações da Disney, ainda tinha que encontrar alguém tão viciado como ele. O carro parou, eles estavam no pequeno e singelo estacionamento do restaurante. Deviam haver pelo menos mais quatro carros no local. O restaurante em si era simples, não era muito grande e nem extravagante, e pelo o que puderam ver, haviam poucas pessoas dentro, apesar de ter muitas mesas. ✮

- Chegamos.

✮ O local, como Hanna notaria assim que entrasse, era um buffet. As maiores variedades de comida estavam dispostas para que eles pegassem e levassem para pesar. Todas possuíam aparência e cheiro agradáveis. Dante permaneceu próximo de Hanna, enquanto ela preparava seu prato. O de Dante foi bem balanceado e o preço, como Hanna notaria ao pesar seu próprio prato, era algo bem acessível, diferente de outros restaurantes onde aquilo costumava ser um pouco mais caro. Dante guiou Hanna até uma mesa mais simples, onde sentaram-se para comer. Para beber, o rapaz havia pedido uma jarra de suco de laranja natural para si, que logo seria levado até eles. ✮

- Gostou do lugar?

- Eu também estaria comendo porcaria, se não estivesse de dieta.

✮ Ele riu suavemente, logo em seguida dando uma garfada em seu prato. De fato estava fazendo uma dieta, não por escolha própria, mas porque estava começando a passar do peso ideal. Normalmente ele comia muito, uma vez que se exercitava bastante e gastava muita energia, mas há alguns meses atrás ele parou de se exercitar, mas manteve os hábitos alimentares o que obviamente não foi uma escolha muito boa. Depois de correr com Melissa, ele voltou a fazer exercícios e começou aquela dieta. ✮

- Como estão as aulas?

- Ah... - O rosto de Dante ficou levemente avermelhado, conforme ele olhava para baixo um pouco envergonhado - Obrigado, meu anjo.

✮ Notou que aquilo saiu um pouco mais afetuoso do que o planejado, porém não era como se ele pudesse mudar isso. Sem falar que, de fato considerava que Hanna era um verdadeiro anjo. Aquela garota era tão boa, tão doce, que nem parecia ser verdade. Nos últimos dias ele se pegara questionando-se se realmente deveria tentar entrar em um relacionamento com ela, partindo do pressuposto que ela aceitaria é claro, uma vez que Dante, apesar de ser igualmente doce, trazia consigo muita escuridão. Não queria acabar piorando a vida de Hanna. ✮

✮ Aquilo, como bem sabia, era apenas sua insegurança falando mais alto. Dante não era perfeito, nunca fora, mesmo na época onde não tinha memórias de seu passado. Mas agora, ele tinha muito medo. Medo de que algo de seu passado retornasse para ele, e abalasse a vida que estabelecera ali. Deixou seus medos de lado para focar-se no encontro bem a tempo de ver Hanna perder-se em seus próprios pensamentos e sorriu levemente. ✮

- Não tem problema - Ele riu suavemente, cobrindo sua boca com as costas da mão que segurava um dos garfos - Se precisar de ajuda com o festival, é só pedir.

✮ Dante voltou a comer de seu prato. Apesar do mesmo não ter muito, havia variedade o suficiente para o almoço não ficar tão entediante assim. Afinal, comer apenas um tipo de comida seria, no mínimo, chato. Com uma garfada, ele engoliu feijão, arroz e um pedaço de carne que havia cortado. Havia algumas saladas em seu prato também, o que o deixava um pouco mais colorido do que o normal. Dante sempre optava por ter muita carne em seu prato, ele era um verdadeiro carnívoro, porém com seu súbito, porém não inesperado, ganho de peso ele precisou cortar bastante isso. ✮

- Eu estou indo bem nas matérias, então não preciso me preocupar muito - Dante não era nenhum tipo de gênio natural, porém certamente compensava isso com seus estudos. Logo ele fora capaz de tirar boas notas, mesmo com todos os problemas que vinha enfrentando em sua vida pessoal - Ah, você conversou com a Nymeria? Ela é muito legal, não é?

✮ Hanna notaria o afeto que Dante sentia pela outra garota, mesmo que a situação de encontro dos dois tivesse sido um pouco estranha. Nymeria viera até ele para checar se ele não era algum agente de Shadow, porém como pôde notar ele nem mesmo conhecia essa pessoa. Depois disso ambos desenvolveram uma rápida, porém profunda, amizade. Dante sabia um pouco sobre quem Nymeria era, toda essa informação vinha de conversas que entreouvira entre seu pai e Lennart, logo não era muito. Sabia que ela estava envolvida com o crime, que buscara parar Shadow por ele interferir em seus negócios e que namorava Lennart, porém não passava disso. ✮

- Eu não sei, o que precisa fazer? Se precisarem ajuda para montar algo, eu acho que posso ajudar nisso.

- Muito obrigado, Hanna! - Dante abriu um sorriso belo como a lua, feliz com um elogio vindo de uma pessoa tão importante para ele. Normalmente era elogiado, mas raramente parecia ser algo verdadeiramente sincero, como fora o de Hanna - Ela é sim! Só demora um pouco para ela se abrir.

✮ Dante, por sua vez, já não era tão bom em controlar quaisquer ciúmes. Era preocupado demais, ansioso demais. Qualquer fala era rapidamente analisada por ele, buscando diferentes significados. Ele nem mesmo namorava Hanna, e talvez não viesse a fazer isso, porém sentira ciúmes do modo como Edrik a tratara no bar. Mesmo que isso fosse normal para pessoas que conheciam Hanna, até mesmo o próprio Dante já fora assim. ✮

- Sou bom sim! Eeeh, o que vocês já tem em mente para as atrações?

- Ela é uma das pessoas mais gentis que já conheci!

✮ Para qualquer um que conhecesse Nymeria, escutar Dante comentar sobre isso era, no mínimo, estranho. Mas havia muitas verdades sobre o que ele dissera, a garota tinha um coração meio mole em algumas situações, apesar do rapaz não duvidar que esse coração pudesse, e fosse, ser feito de gelo em algumas situações. Porém ele ainda assim gostava dela, conseguia ver a bondade que havia dentro de Nymeria e sabia que ela poderia ser bem gentil. ✮

- É, eu estou sem ideias, você citou algumas coisas bem legais. Eu posso ajudar a montar as barracas - Disse ele, logo em seguida dando mais uma garfada em seu prato.

- Acho que, parando para pensar bem, ela deve ter sido uma das primeiras pessoas que veio falar comigo quando eu cheguei na Academia.

✮ Os motivos para ela fazer isso não foram dos melhores, não era como se ela tivesse ido até ele lhe dar boas vindas e desejar boa sorte. Ela tinha suas suspeitas e fora até ele para confirmá-las ou descartá-las. Apesar de Dante ter notado isso na hora, ele havia chegado há pouco tempo na cidade, logo não sabia dos problemas que a mesma tinha e não sabia exatamente com quem estava lidando. Pensando bem, se soubesse dos problemas da cidade, era bem capaz que ele tivesse passado longe da mesma. Ainda bem que isso não aconteceu. ✮

- É claro que eu vou estar lá, não perderia isso por nada nesse mundo! - Afirmou de maneira alegre e categórica. Em seguida, comeu mais um pouco enquanto escutava Hanna falar. - Tem certeza? Sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, não importando o momento.

- Não foi bem para me dar boas vindas, - Dante riu de maneira nervosa, coçando sua nuca. - Mas bom, foi divertido!

✮ Mesmo que seus olhos demonstrassem que não fora por um bom motivo, mas Nymeria era uma pessoa rodeada de mistérios, logo seus motivos para ir até Dante poderiam variar muito. Mas o rapaz ficara feliz com aquela visita, pois acabara fazendo uma grande amiga. Era até um pouco engraçado como a vida era, uma vez que Nymeria andava junto de um rapaz que acabava por ser como um filho para Sigmund, o pai adotivo de Dante. Um pequeno sorriso cruzou os lábios do rapaz loiro. De certa forma, ele e Lennart eram amigos. E ambos já haviam visto muito da vida, apesar de terem experiências completamente diferentes. ✮

- Não precisa me agradecer, Hanna! - O sorriso de Dante era como uma lua durante a meia noite com um céu limpo, belo e brilhante, mas também capaz de mover ondas de emoções dentro de quem olhava-o. - Você está aqui comigo, só isso já faz disso especial.

✮ Dante não estava tentando ser romântico ou até mesmo seduzir Hanna, estava apenas falando o que estava dentro de seu coração. Apesar de notar a maneira como aquilo saíra, o rapaz conseguiu evitar que seu rosto ficasse vermelho e continuou a manter aquele sorriso doce em seus lábios. Aquela aproximação... O sorriso de Dante acabou por falhar um pouco, ele estava claramente nervoso e nem mesmo toda a sua força de vontade conseguiria impedir o sangue de fluir para seu rosto. Hanna era certamente a pessoa mais linda que ele já vira em toda a sua vida. ✮

- Ah... Obrigado. - Sua mão direita foi para sua bochecha, coçando-a levemente. Céus, aquilo fora um pouco constrangedor. - Vamos lá, eu pago e voltamos para aquele parque.

- É bem... interessante conversar com a Nymeria. Ela tende a ser bem direta.

✮ Direta não cobria nem metade do modo como Nymeria era. Sua constante velocidade e curiosidade tendiam a fazer com que ela questionasse tudo o que via. Algo certamente bom, mas em conversas isso normalmente levava para assuntos não tão bons assim. Bom, Dante nunca se incomodara com nada desse tipo e, apesar de mais recentemente, ter começado a temer o seu passado e evitar falar sobre ele, o rapaz sempre fora bem aberto e costumava conversar sobre todo o tipo de coisa. Desde assuntos mais simples, como o dia-a-dia, até coisas mais sérias, como o que as pessoas sentiam. Era, a final de contas, um estudante de Psicologia. ✮

- Se você está feliz, eu estou feliz.

✮ Era uma lógica um pouco simples. Os dois estavam saindo, logo ele queria fazê-la feliz. Ver seu sorriso era mais do que o suficiente para ele, era algo que mostrava-o que estava fazendo as coisas do jeito certo. Apesar de estar longe de ser uma pessoa inexperiente em relacionamentos, os de sua vida passada foram completamente desprovidos de qualquer tipo de sentimento. Diferente do que estava acontecendo naquele momento. Dante queria, acima de tudo, que aquele dia terminasse bem. ✮

- Nada disso. Eu pago. - Insistiu ele, puxando a carteira de seu bolso e passando seu cartão de crédito. Não possuía um emprego, mas haviam vantagens em ser filho de um homem rico. - Vai ser divertido!

- Então você acha a Melissa quente? - Perguntou, meio que por instinto, sem nem mesmo notar o que acabara de falar. Ficou instantaneamente vermelho e voltou seus olhos para a garota. - Desculpa! Acho que é a personalidade do Maxwell começando a me afetar.

✮ Coçou sua nuca de uma maneira muito sem graça. De fato, aquilo parecia algo que Maxwell falaria sem nem pensar duas vezes. O rapaz gostava de provocar e causar constrangimento nos outros, e já que os dois garotos conversavam diariamente era apenas natural que Dante acabasse por absorver alguns dos maneirismos de Maxwell. Inclusive, sua indecisão sobre o que vestir fora calada por Max, que acabara por ajudar o garoto a decidir-se. Ambos acabaram ficando bem próximos, e Dante já via o outro rapaz como seu irmão. Não chegara a conhecê-lo tão bem na época que Maxwell afirmara ser um demônio, onde ria na cara do perigo. Mas agradecia pela mudança pela qual Max passara. ✮

- Me parece ótimo!