Aposentos da Hanna

Em sua casa, Dante olhava-se no espelho. Desde que acordara perguntara-se como iria vestido para o encontro. E céus, que encontro! Quando acordara no dia seguinte da comemoração ele não conseguira acreditar no que havia feito e que Hanna havia aceitado. Só isso era o suficiente para por um sorriso em seu rosto, ele realmente gostava muito dela. O suficiente para ela deixá-lo completamente bagunçado, como ele estava naquele momento. Não queria ir com as roupas de sempre, mas também não queria ir com as roupas que normalmente usava para ir a jantares com seu pai. Seria demais, era só um primeiro encontro em um restaurante comum e ele não queria se destacar demais.

- Tá fazendo o que? - A porta do quarto estava aberta e nela estava Sigmund, encostado e olhando para ele - Vai sair?

- Eu vou em um encontro com uma amiga minha - Só de falar isso ele já sentia seu rosto arder. Um encontro com Hanna... Ele queria gritar de felicidade, mas isso seria estranho.

- Mas meu filho é um garanhão mesmo - Seu pai adotivo riu alegremente, caminhando até o lado dele e olhando para o armário aberto. Ambos se conheciam muito bem, Sigmund sabia o que se passava na cabeça de Dante e Dante sabia o que se passava na cabeça de Sigmund... Bom, a maior parte das coisas que se passavam na cabeça dele - Vá com essa camiseta e com essa camisa por cima... essa calça aqui e o tênis vai o qual você quiser.

Uma boa escolha de roupas, as quais Dante vestiu instantaneamente. Não demorou muito e logo Sigmund estava levando ele para a Academia. Era o dia primeiro de julho, um domingo, então havia um pouco mais de movimento na cidade, porém ainda assim não era muito. No caminho, Dante enviou uma mensagem para Hanna de que estava a caminho. Chegando lá, Sigmund desceu do carro e jogou a chave para Dante.

- Eu tenho alguns assuntos para resolver aqui perto, com alguns conhecidos, então pode ficar com o carro - Conhecendo seu pai, era meio óbvio que esses conhecidos lhe dariam uma carona se fosse necessário.

Dante subiu as escadas ansiosamente, checando três vezes as suas roupas, para garantir que estavam impecáveis. Bateu duas vezes na porta e esperou para que Hanna a abrisse.

Era como se seu coração fosse saltar para fora do peito, a ansiedade dele estava em níveis jamais vistos. Conforme esperava que Hanna viesse até a porta, Dante fazia uma lista mental do que fazer e do que não fazer. Achava que andar de mãos dadas com ela seria estranho, principalmente sendo o primeiro encontro deles, porém seria estranho simplesmente andar ao lado dela sem fazer nada. Droga, ele realmente parecia que ia explodir. Mas assim que a porta abriu-se, uma calma enorme tomou conta de seu coração e ele sorriu para ela de volta, radiante como uma estrela na noite.

- Hanna! - Ele abraçou-a de volta, alegremente e então olhou para ela assim que ela afastou-se - Obrigado! Você está... maravilhosa!

Ele não conseguia por em palavras o quão bonita Hanna estava. Ela era, sem sombra de dúvidas, a pessoa mais bonita que ele já vira em toda a sua vida. Continuou a sorrir para ela, enquanto esperava ela fechar e trancar seu próprio quarto. Isso estando feito, Dante debateu consigo mesmo se deveria segurar a mão dela, porém decidiu que era melhor não. Cedo demais, apesar de serem bons amigos, aquilo seria uma ação íntima demais na opinião dele.

- Vamos indo?

✮ Os olhos de Dante pareciam refletir o estado de sua alma naquele momento, possuíam uma enorme calma, mas também brilhavam com uma certa paixão. Ele estivera nervoso o dia inteiro sobre aquilo e ainda estava um pouco nervoso também, mas agora que estava ao lado dela seu coração se acalmara como um mar após uma tempestade, tendo apenas ondas baixas e calmas. Céus, como aquela garota lhe fazia bem. ✮

- Um restaurante que eu descobri, é pequeno mas a comida é ótima! - Ele sorriu alegremente, conforme sentia que ela passava seu braço pelo seu, o coração queimando de uma maneira gostosa. Se não estivesse se concentrando, seu rosto provavelmente estaria mais vermelho que um pimentão. Mas ele planejava fazer com que tudo ali desse certo. Não poderia ter um erro em seu primeiro encontro.

- Não é um restaurante muito famoso ainda, acho que abriu mês passado na verdade

✮ Dante gostava de descobrir lugares novos, principalmente quando não eram muito populares, um ponto um pouco hipster na personalidade do rapaz. Na verdade, ele via-se frequentemente não gostando muito de coisas que a massa gostava. Céus, talvez ele fosse realmente um hipster. Ou talvez fosse apenas um costume que ainda se mantinha de sua vida passada, na qual buscara frequentar lugares pouco movimentados e seclusos, onde não poderia ser achado facilmente ✮

- Ah, ele é excelente! Eu fui lá semana passada com o meu pai!

✮ Para aquele encontro, tudo o que Dante queria era normalidade. Nunca saíra em um encontro antes, nunca tivera alguém por quem possuía um tão intenso carinho. Apesar de gostar muito de seus vários amigos, ele não era cego e não tentava negar suas emoções. Ele sabia bem que o amor que sentia por Hanna era diferente do amor que tinha pelos outros. Ele precisava saber até onde aquilo ia. Aquele encontro, apesar do óbvio propósito romântico, também lhe servia como uma resposta para finalmente limpar toda aquela ansiedade que tinha dentro de si ✮

- Ah, ele é... - Dante parou de falar, seu olhar parecendo focar-se no chão. Ele continuava a andar com Hanna, porém parecia procurar por em palavras o que sentia sobre o seu pai.

✮ Pois Dante sabia. As memórias de seu tempo como Griffin voltaram completamente durante uma semana inteira de dor de cabeça, a ocasional febre e muitos, mas muitos pesadelos. Ele acordava com o coração acelerado durante a noite, e sempre que isso acontecia ele sabia algo novo sobre si, algo novo para odiar. Era engraçado pensar que alguém tão doce como Dante conseguia odiar algo, porém ele odiava. Odiava a si mesmo, pelo o que fizera. Ele podia até não ser mais Griffin, mas no final das contas fora aquele corpo que machucara pessoas, fora aquele rosto que sorrira falsamente, fora aquela boca que beijara suas amigas em uma tentativa de fazê-las permanecerem fiéis a ele. Tudo isso, para voltar para a Casa. Pois Griffin queria, queria muito, vingar-se do que fora feito com ele. E agora, Dante vivia debaixo do mesmo teto do sucessor do homem que quebrara Griffin Walker. ✮

- Ele é uma pessoa maravilhosa! Ele é um pouco brincalhão, sempre fazendo uma piadinha com algo ou com alguém, mas também é uma pessoa muito boa, sempre se preocupando com os outros.

✮ Dante sentia como se estivesse em chamas. O ponto de onde o calor começara fora a bochecha que fora beijada por Hanna. Seu corpo inteiro era como se fosse fogo, esquentando-o, porém de uma maneira boa, uma maneira que lhe trazia um sorriso aos lábios. Um sorriso tímido, mas ainda assim repleto de uma felicidade que ele parecia querer esconder. Não era como se desejasse mostrar que não gostara do gesto de Hanna, porém eles estavam indo para um encontro, logo aquele tipo de atitude normalmente encorajava outra. Sabia que essa não fora a intenção de Hanna, portanto controlou a sua vontade. Sem falar que, ele era péssimo em esconder o que sentia, mesmo que fosse um sorriso controlado, a felicidade ali esbanjava. ✮

- Os melhores pais são assim! - Comentou Dante, conforme chegavam ao estacionamento. Ele ergueu sua mão, apontando para um Sedan prata - É aquele carro ali - Disse, desativando o alarme e abrindo a porta do carro para Hanna. Com ambos dentro do carro, ele ligou o mesmo e o acelerou suavemente para sair do estacionamento - Quer dar uma volta antes ou prefere ir direto para o restaurante?

✮ Ele queria que a proximidade entre os dois aumentasse, sentia que um beijo na bochecha não era o suficiente para justificar e acalmar suas emoções. Mas era cedo ainda, não haviam nem mesmo chegado no restaurante. E talvez, pelo fim do dia, seus avanços talvez não fossem o melhor caminho a ser seguido. Ele precisava de calma, precisava compreender totalmente o que ele sentia e precisava, também, entender o que Hanna sentia por ele. ✮

- Vamos dar uma volta então - Ele disse, conforme deixavam a academia para trás. Apertou um botão no painel do carro e vidro da porta do passageiro abaixou-se um pouco, permitindo que o ar entrasse e que Hanna pudesse senti-lo. Corou novamente com as palavras dela, não sabia dizer se era gentileza ou algo a mais. Engraçado, eram delas as primeiras palavras que ele não conseguia compreender o verdadeiro sentido - Certo - Foi tudo o que disse, timidamente.

✮ Dante sabia que nunca tinha se apaixonado por ninguém antes. Tecnicamente falando, ele só se tornara Dante Reed um ano atrás, mais ou menos, logo tudo o que ele sabia sobre aquilo vinha de suas memórias como Griffin. E seu eu anterior não fora uma pessoa necessariamente boa ou versada nesse assunto. Ele só esperava poder aprender um pouco mais sobre aquilo conforme ia, pois tinha certeza de que aquilo era paixão, que logo se tornaria amor. Mesmo nunca tendo sentido isso dessa forma, ele sabia dizer. ✮

- No começo foi um pouco difícil sim, mas é só questão de costume mesmo - Ele fez uma curva, passando na frente de uma praça da cidade - E um pouco de prática.

- Eu posso te ensinar, se você quiser. Só precisamos pegar um dia que não esteja muito movimentado e uma rua parada, aí posso te ensinar!

✮ A proposta foi feita sem segundas intenções, como passar mais tempo com ela. Dante só era naturalmente disposto a ajudar as pessoas, assim como a própria Hanna era. Poderia até ser difícil para ela aprender de começo, mas para Dante também fora, só era necessário paciência e um bom professor. Dante, apesar de não dirigir há tanto tempo assim, era um excelente motorista. O carro também ajudava e como o que Dante tinha era automático, seria mais fácil para Hanna. ✮

- Podemos fazer isso sim!

- Não vai acertar não, eu vou te ensinar bem!

✮ O rapaz riu com a ideia, sabia bem que Hanna não era uma das pessoas com as melhores coordenações motoras do mundo, mas também sabia que podia ensiná-la. Na verdade, Dante adorava ensinar as outras pessoas, fosse coisas simples como andar de carro ou até mesmo assuntos sobre Psicologia, que ele estava estudando no momento. Havia algo divertido e ao mesmo tempo prazeroso em guiar as pessoas para o caminho certo, um caminho de mais inteligência. ✮

- Eu amo a Disney! - Dante falou, no momento que foi questionado. Apesar de saber que a empresa tomara algumas decisões questionáveis e, muito antigamente, fora bem racista, ele não conseguia gostar menos das animações produzidas - Sério? Eu não sabia! Ah, mas agora eu tenho que ir!

- Acredite em mim, jovem Padawan!

✮ Apesar de Dante, por natureza, ser uma pessoa bem solta e que possuía uma facilidade enorme para conversar com qualquer pessoas sobre qualquer tipo de assunto, ele ainda assim tinha certa dificuldade naquele momento. Sentia que qualquer conversa logo levaria ao assunto do encontro deles e certamente sobre o que ele sentia por ela. Não que ele não fosse capaz de falar sobre isso, mas... Era difícil, muito difícil, tudo ali era novidade para ele. ✮

- As músicas sempre são a melhor parte! - O sorriso de Dante era contagioso, não havia um filme da Disney que ele não gostasse, todas as animações eram igualmente perfeitas para ele. Aquele sorriso, porém, aumentou perante a proposta de Hanna - Vamos sim! Vai ser divertido.

- Você ensinará o caminho, mestre?

Ela riu, realmente estava se divertindo com aquilo. Agora o clima ficara mais leve, e o vento que entrava pela janela afastou seus cabelos ruivos. Hanna ficava parecendo uma ninfa quando ria... algo que seria impossivel ignorar... que transparecia felicidade pura.

- Sim! "Sentimentos são... fáceis de mudar..."
- Hanna começou a cantarolar, sua voz doce percorrendo o ambiente. - Vamos sim, vai ser ótimo!