Quarto do Dante

☼ Dante normalmente não permitia levar-se por sentimentos e desejos egoístas, preferia estar ao redor de seus amigos ajudando-os e focando-se em seus estudos para poder ajudar outros no futuro. Porém naquele momento ele se permitiu sentir aquele egoísmo, claro que ninguém veria aquilo como egoismo, mas para uma pessoa que havia decidido dedicar sua vida em favor dos outros havia um certo peso na mente do rapaz. Peso este que logo sumia quando ele olhava nos olhos de Hanna, ele podia ter dias da sua vida onde dedicava todo o seu ser para ela e recebia aquelas energias tão boas em retorno, como se não bastasse a presença de sua namorada ser uma das coisas mais tranquilizantes do mundo, ele ainda tinha a sorte de ter encontrado o sorriso mais belo do mundo, um que preenchia sua alma e o fazia desejar a presença dela a todo momento. ☼

- Vou abraçar você assim mais vezes, então. - Dante disse, sorrindo. Sua mão passou pelo ombro dela, descendo pelo braço e indo até a mão dela e a segurou gentilmente. - Podemos ficar mais... Não é? - Ele inclinou seu rosto para frente, iniciando um beijo longo e apaixonado.

☼ Sua mão deslizou suavemente pela perna dela antes de ir parar na cintura, puxando Hanna para perto com um sorriso em seus lábios conforme a beijava. Hanna era uma luz radiante que clareava os caminhos pelos quais ele seguia, seu brilho jamais o cegava e sempre permitia que ele enxergasse a fonte de onde vinha, sabia que Hanna por vezes o comparava a um sol, porém dizer que ela era como sua lua seria um pouco triste, uma vez que a lua e o sol raramente estavam juntos nos céus. O sol era uma estrela, logo para ele Hanna era como uma estrela brilhante, uma tão grande e tão brilhante quanto um sol. ☼


☼ As aulas daquele dia haviam terminado e Dante estava em seu quarto novamente, trocara algumas mensagens com Hanna e ambos combinaram de se encontrar ali, portanto logo ela deveria estar chegando até ele. Nessa última semana ele tivera uma sensação estranha, como se estivesse sendo observado por alguém, mas toda vez que olhava nunca encontrava ninguém suspeito, portanto decidiu que isso era apenas uma paranoia sua. Estava sentado na cama olhando para o celular enquanto esperava Hanna chegar, ouviu alguém passar pela porta e ergueu seu rosto sorridente, sorriso este que sumiu logo em seguida e foi transformado em uma expressão de choque e medo. Hanna, que já deveria estar chegando, teria visto uma garota da idade dela de cabelos negros curtos entrando no quarto de Dante, a mesma estava de camiseta preta de mangas curtas, uma jaqueta sem mangas e calças jeans, era possível ver no braço dela uma tatuagem do que parecia ser um caderno com uma lista. Ela parecia ser problema. ☼

- Diana? - Dante perguntou, ainda em choque.

- Olá, Griffin. Imagine só, uma das amigas que fiz no orfanato conseguiu uma bolsa de estudos para essa academia aqui e um dia ela me manda uma foto de um festival que teve, com você no fundo organizando as coisas. - Diana ergueu sua mão, porém abaixou-a apenas para passá-la pelo seu rosto. - Como que você está vivo? E qual seu plano dessa vez?

- A garota da vez... - Disse Diana, olhando para Hanna e suspirando logo em seguida. - Feche a porta, nós três precisamos conversar.

☼ Ao menos estava disposta a conversar, foi o que pensou Dante. Assim que Hanna fechou a porta, Diana puxou a cadeira da escrivaninha de Dante e sentou-se na mesma com as costas da cadeira pressionada contra o seu peito. Diferente de uma imagem inicial, a garota de cabelos negros parecia estar muito mais calma e controlada, parecia um pouco cansada e agia como se já estivesse exausta de uma discussão que nem mesmo começara. Da última vez que Dante a viu ele ainda era Griffin, ela tinha lágrimas correndo por seu rosto e atirou na cabeça dele em uma vingança enfurecida e justificada. ☼

- Respondendo a sua primeira pergunta, eu quase não sobrevivi ao tiro, foi preciso que os doutores fizessem um milagre para que eu vivesse. Eu sofri um dano severo ao meu córtex cerebral, perdi minha memória de praticamente tudo. Quando eu acordei, eu nem sabia quem eu era.

- Mas você se lembrou, pelo modo como está falando. - Diana batucou impacientemente contra a cadeira.

- Sim. - Respondeu Dante, olhando para baixo.

- Você é a Hanna, certo? - Diana então olhou para Hanna, parecendo um pouco mais séria. - Qual a sua opinião sobre ele? Sobre o Dante, digo. Sei que é a namorada dele, então a sua opinião deve ser positiva. Só estou tentando formar uma imagem melhor aqui, tendo esquecido ou não, ele tem histórico e eu preciso me garantir de que ele não está só repetindo o que já fez antes.

- Diana. Diana Jones, trabalho em um orfanato em Nova Iorque. - Ela respondeu sem muita hesitação, também compreendia que Hanna pudesse estar um pouco agitada pelos jeitos como ela agia. Não importava muito. - Bom, tirando a parte sobre o passado, isso bate com o que ouvi de outras pessoas.

- O que você veio fazer aqui? - Dante perguntou, ainda sem entender bem o propósito de sua antiga companheira.

- Eu vim matar você. E dessa vez eu ia me garantir que você ficaria morto. - Diana respondeu, seu tom de voz e sua expressão ficando absolutamente frias. - Mas não é o que vai acontecer. Você é uma pessoa diferente de Griffin, como se tivesse renascido. Eu só... Eu só queria me garantir que ninguém ia passar pelo o que eu passei.

☼ A voz de Diana quebrou ao falar aquilo. Ela de fato viera até Windfall com o intuito de matar Dante, porém decidira estudá-lo um pouco antes de executá-lo de fato e não viu nenhum sinal de que ele estaria manipulando as pessoas ao seu redor, ele parecia estar feliz e estar espalhando essa felicidade por onde ia. Era como o oposto de Griffin, sem a maldade e a astúcia que fizeram dele o líder de uma gangue de adolescentes, Dante era bondoso e carinhoso. O rosto de Diana abaixou-se para olhar o chão, a garota parecia estar tremendo um pouco. ☼

- Por que você não foi assim quando estava com a gente? - Perguntou Diana, sua voz ainda fraca. Ela estava claramente chorando - Por que eu precisei passar por toda aquela merda pra depois ver você sendo uma boa pessoa com outros? O que foi que eu fiz de errado pra merecer o Griffin na minha vida?

- Diana, eu... Vocês não mereciam Griffin e eu não merecia vocês, tudo o que aconteceu pode ser o fruto de diversas situações ruins que culminaram em uma só. Eu não sei se isso significa muito para você, mas me perdoe. - O rosto de Dante se abaixou logo após falar aquilo, ele não conseguia culpar Diana por ter a reação que tivera. Jamais poderia culpar uma vítima.

- Não. Tudo o que eu vejo quando olho para ele é vermelho. Seria uma perda de tempo tentar recomeçar, certas coisas não vão ir embora por mais que eu tente. - Diana falou, usando as costas da mão direita para enxugar as lágrimas que haviam começado a escorrer de seu rosto. Ela inspirou profundamente. - Mas o que eu posso fazer é seguir em frente. É como eu disse, só vim aqui para me garantir que ninguém mais estivesse sofrendo por conta do Griffin. Eu fico um pouco aliviada em saber que ele morreu naquele dia.

☼ Dante não sabia bem o que dizer naquele momento, também sentia certa felicidade ao pensar no fato de que Griffin havia morrido naquele dia e que agora não passava de uma memória ruim. Porém também sentia tristeza por saber que não poderia ajudar Diana, não quando ele possuía o mesmo rosto da pessoa que arruinara a vida dela, era apenas natural que ela fosse sentir repulsa e raiva ao olhar para ele. Suspirou, não sabia o que dizer, não sabia o que fazer. ☼

- Eu não vou roubar mais do tempo de vocês. Já passei tempo demais nessa cidade. - Diana levantou-se, retirando de seu pulso uma pulseira feita de pequenos cubos que possuíam estranhos símbolos neles. Pegou a mão de Hanna e colocou a pulseira na mesma. - Fique com isso, por ter aguentado ouvir eu falar sobre matar seu namorado e tudo mais. Eu comprei de uma romani alguns anos atrás, ela disse que tinha propriedades mágicas de proteção, mas eu só achei bonito. E você...

- Sim? - Dante perguntou, no momento que ela olhou para ele.

- Eu não tenho nada para você. Então... - Ela caminhou até a escrivaninha e escreveu algo rapidamente em um dos papéis. - Quem sabe, um dia, eu esteja pronta para tentar me acostumar à você. Meu número, isso serve para vocês dois. Se precisarem de algo ou só quiserem conversar, me liguem.

- Eu vou ficar. Tenho um bom trabalho e boas pessoas na minha vida. - Diana disse, enquanto escrevia o número dela no papel. Nem chegara a considerar que Hanna poderia ficar com inveja, talvez por notar que ela não era esse tipo de pessoa. - Eu só... Não consigo ficar aqui e fazer amizade, quem sabe no futuro.

☼ Dante esperava que esse futuro não fosse tão distante assim, queria poder redimir-se completamente de tudo que Griffin fizera e isso só aconteceria quando Diana o perdoasse. Ela continuava tão acelerada quanto sempre fora, Diana tinha o costume de resolver tudo rapidamente e de um bom jeito, pelo menos um que fosse favorecê-la no final e se aquela era a solução dela, então que assim fosse. Seria bom se pudessem sentar e conversar, mas isso claramente não era possível. Após terminar de escrever seu número ela passou um papel para Hanna e deixou outro na escrivaninha de Dante. ☼

- Eu... Não sei o que dizer. - Disse Dante, olhando para baixo.

- Não precisa falar nada. Você não é Griffin. - Diana havia dito para Dante algo que ele vinha ouvindo fazia certo tempo, mas que por estar vindo dela ganhava um significado completamente diferente. - Eu vou indo. Foi bom conhecer vocês, desculpe pelas ameaças de morte. - Dito isso ela virou-se e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Parecia que um furacão havia passado por ali.

- Eu não sei.

☼ Não era uma das melhores respostas, mas era a mais honesta que tinha. Não sabia se ficaria bem, também não sabia se iria piorar com o tempo, porém sentia uma sensação estranha dentro de si, como se algo estivesse lentamente derretendo e escorrendo. Gostaria de ter dito muito mais para Diana, porém parecia que ela não aguentaria ficar ali conversando com ele o que era bastante compreensível, também podia dizer que era estranho estar preocupado com a pessoa que lhe dera um tiro na cabeça. Talvez fosse apenas o seu jeito de ser, mas naquele momento estava mais preocupado com o bem-estar de Diana do que com o seu próprio e adoraria poder fazer algo para aumentar o ânimo dela. ☼

- Eu... - Dante puxou Hanna para um abraço apertado, encostando seu rosto em um dos ombros dela. Ele estava chorando, porém Hanna notaria que eram lágrimas de felicidade. - Eu não sou o Griffin...

- Obrigado. - Ele enxugou as lágrimas do rosto e afastou-se um pouco, dando um beijo em Hanna logo em seguida. - Obrigado por tudo.

☼ As palavras de Hanna eram doces demais para serem a realidade, mas uma parte dele sabia que havia verdade nelas. Ele, mesmo antes de recuperar suas memórias, fizera seu melhor para ser uma pessoa boa e para ajudar os outros que estavam perto dele. Dante desejava poder proteger tudo aquilo que seus braços conseguiam alcançar, mesmo que isso fosse impossível ele ainda desejava tentar, e naquele momento o que estava em seus braços era Hanna. Já havia jurado sacrificar tudo por ela, porém não seria de todo mal se refizesse essa promessa agora que as duvidas haviam sumido. ☼

- Eu vou amar você até o fim da minha vida. - Dante deu um selinho nela. - Não vou deixar nada de ruim acontecer com nós.

☼ Era tão infantil sonhar com um final feliz, desejar um até, após todos aqueles anos de crime e erros. Porém ele queria um final feliz, não iria dizer que merecia um, mas queria um do mesmo jeito para poder viver ao lado de Hanna em paz e fazer dela a pessoa mais feliz do mundo. Não era errado sonhar com um futuro perfeito, não havia nenhum problema em desejar dias melhores para o seu futuro e certamente não era errado querer viver uma vida inteira ao lado da pessoa que tanto amava. ☼

- Felizes para sempre. - Dante falou, sorrindo. - Eu também te amo, Hanna.

- Exatamente. - Ele respondeu, sorrindo. Hanna já estava careca de saber que ele adorava os filmes da Disney. - E você é minha estrela, a mais bela que há nos céus.

☼ O tempo que passariam juntos seria o suficiente para fazê-lo agradecer todo dia por estar vivo, era algo que podia facilmente notar quando conversava com ela daquela maneira, quando passavam um tempo juntos em silêncio. Aliviou um pouco mais o abraço, notando que estava apertando um pouco mais do que queria e beijou-a mais uma vez, poderia viver várias vidas junto de Hanna, porém apenas uma bastaria para que a alma dele se desse por satisfeita. Apesar de seus erros do passado, apesar de seus erros atuais, ela continuava ali por ele e isso não era algo que qualquer pessoa faria, naquele dia havia convidado-a para assistir um filme novo que havia acabado de sair na Netflix, porém ambos iriam passar ainda mais tempo juntos, apenas aproveitando a presença um do outro. ☼