Estacionamento

- Pode ser! Vamos ver algum filme que esteja passando e escolhemos o que você quiser.

A ideia de ir ao cinema com Nymeria era algo que o animava. Até então o relacionamento deles, por melhor que fosse, se resumia muito ao sexo. Algumas vezes selvagem e em outras passional. Eles nunca tiveram tempo para agir como adolescentes normais. Céus, Lennart nunca agira como um, apenas fingia fazer isso na maior parte do tempo. Ter a oportunidade de deixar seus problemas de lado e simplesmente relaxar era algo que ele gostava, principalmente sendo ao lado da pessoa que ele amava.

- Vai ser ótimo

- Você fica ainda mais bonita quando está animada desse jeito.

Ele sorriu de maneira tranquila enquanto falava aquilo, olhando o rosto dela pelo espelho retrovisor. Não podia dizer que seus gostos para filmes eram os mesmos que os de Nymeria, já passara por altos e baixos e preferia algo um pouco mais tranquilo do que filmes de terror. Não que se assustasse fácil com os mesmos, só conseguia se lembrar de dois filmes que haviam o assustado profundamente e estes eram bem antigos.

- Eu prefiro filmes de espionagem, mas não vai ter nenhum no cinema. E depois do último James Bond eu perdi minhas esperanças - Ele falou, enquanto fazia uma curva com o carro - Estamos chegando lá.

- Eu prometo te deixar animada desse jeito todos os dias.

Lennart cumpria todas as promessas que ele fazia, e aquela seria uma delas também. Ele gostava de ver Nymeria daquele jeito, feliz, animada e sorrindo. Sabia que seria difícil, devido aos eventos recentes, mas ele iria tentar e iria conseguir. Não era algo no que ele podia falhar, ele simplesmente precisava fazer de Nymeria uma pessoa mais feliz. Mas primeiro, eles tinham algumas outras coisas para resolverem, caso contrário ele começaria naquele exato momento.

- Sinceramente falando, qualquer filme é melhor que esse último do Bond. Chega a me dar saudades do Austin Powers - Lennart falou, parecendo ter desgosto em pronunciar ditas palavras. Ele adorava os filmes do James Bond, porém acabara por ficar desiludido com esse último filme e com o quão ruim ele fora. Ele segurou a mão de Nymeria e virou-se para olhá-la - Vai dar tudo certo.

- Não não! Você tá me escutando, mas não tá me ouvindo - Natasha passou a mão por seu rosto e suspirou, Ivan era difícil de se lidar, principalmente quando Edrik e Nymeria estavam envolvidos.

Nua. Ela nem se preocupara em vestir suas roupas, apenas acordara com o som do celular tocando, levantara-se e fora até o mesmo para atendê-lo. E por que deveria se preocupar em se vestir? Ela estava com Edrik, depois de tanto tempo de enrolação e medo da parte dos dois eles finalmente haviam feito algo. As marcas da noite anterior encontravam-se no corpo de Natasha, em cada canto, marcas de mordidas em seu pescoço, seus seios, seus braços, suas pernas, suas nádegas. Edrik fizera questão de marcá-la em todos os locais possíveis e Natasha retribuíra o favor.

- Se você ficar quieto, eu posso falar! - Ela esperou, estava claramente escutando muito - Tá tá! Olha, vou repetir. Eu cheguei na porra do bar e o Edrik estava bêbado, eu trouxe ele pro apartamento dele e fiquei cuidando dele de noite... Claro que tô falando sério, caralho! - Mais uma pausa longa, ela revirou os olhos e voltou-se para Edrik, notando que ele acordara - Não, Ivan, eu e ele saímos plantar árvores e flores durante a madrugada inteira. Claro que ele ficou dormindo, tava caindo de bêbado! Pera, ele acordou.

Ela aproximou-se de Edrik, afastando o celular o máximo o possível, antes de dar um curto beijo nos lábios dele. Sorrindo maliciosamente, ela deu um leve apertão em um dos glúteos de Edrik e voltou a colocar o celular contra a orelha.

- Claro que não pode falar com ele, ele vai tomar um banho antes para afastar a ressaca! Te ligo depois - Dito isso, ela desligou a ligação e voltou seu olhar para Edrik - Você vai ter que compactuar com a minha história, abraça esse B.O

- Você pode ter ficado com qualquer uma no bar - Ela disse, então parou e olhou para o próprio corpo - Merda.

Estar sentada no colo de Edrik era algo extremamente excitante e ela sabia que isso valia para os dois. Na verdade, apesar de ter se imaginado ao lado de Edrik durante tantos anos, ela nunca pensara que um dia isso viria a acontecer. Pensou que era algo que ficaria em sua mente, uma vez que era um relacionamento proibido, Vladimir nunca aceitaria aquilo entre os dois. Porém, aconteceu. E céus, como acontecera. Ainda haviam rastros do que eles haviam feito naquele quarto. Uma mesa que tombara, um furo na parede onde uma das mãos de Natasha ficara apoiada. Malditas parede de drywall, frágeis demais.

- A gente pode falar que você ficou com alguém, eu fiquei com alguém e aí você ficou bêbado e veio para cá? - Ela parou para pensar, porém meneou sua cabeça. Aquilo não iria colar - Ah foda-se, pensamos nisso depois. Tem algo em mente para nossa tarde, príncipe exibido?

- Sempre podemos tentar usar maquiagem para tampar algo, mas eu não sei usar essas coisas.

Natasha não era uma pessoa boa. Era uma pessoa horrível e acreditava não merecer um final feliz. Crescera pronta para jogar sua vida fora em uma batalha, com uma arma nas suas mãos e com diversos corpos de adversários ao seu lado. Ela era uma verdadeira máquina de guerra, que parecera ter nascido na época errada. Sua brutalidade seria muito mais bem vinda ao lado de bárbaros ou de piratas do que atualmente, onde tudo era extremamente regrado. Mas agora ela via-se desejando por um futuro melhor, um futuro onde poderia viver ao lado de Edrik sem medo do que poderia acontecer.

Temia que seus sonhos ficassem sendo apenas isso. Sonhos.

- Tch - Ela claramente não estava satisfeita com isso, porém não estava com Edrik apenas pelo prazer. Céus, ela nem sabia que iria ter tanto prazer até a noite passada. Ele não precisava de uma amante naquele momento, precisava de apoio - Eu... Eu sei que eu não sou uma das melhores pessoas para isso. Eu estou longe de ser a pessoa perfeita para você. Eu... - Um suspiro exasperado deixou seus lábios, conforme ela olhava Edrik em seus olhos - Eu só quero que... Que você saiba que eu estou aqui. Você pode deixar todas esses fingimentos, essas mentiras de lado, você pode se permitir sentir comigo. Eu estou aqui por você, Edrik.

- Você está falando com um mestre dos disfarces, querida. Eu posso te ensinar algumas coisas... ou posso simplesmente pintá-la com meus dedos.

Ele acariciou levemente os ombros dela. Desejava ficar ali, ao seu lado, perder-se em seu corpo e labios. Edrik pensara estar com seus olhos viciados na figura de Natasha, mas agora estava viciado em cada parte de seu corpo.

Ele inspirou profundamente, ao ouvir as palavras dela. Suas mãos que acariciavam as costas de Nat cingiram-na e trouxeram-na ainda mais perto, neutralizando o espaço, enquanto seu queixo apoiava-se no ombro dela.

- Eu amo você. Eu realmente, realmente amo você. Você é perfeita do jeito que é. - ele ergueu novamente a cabeça, segurando o rosto de Nat para olha-la nos olhos. - qualquer coisa menos que isso... menos do que você é, seria insuficiente para mim.

Ele tocou suavemente seus labios nos de Natasha. Talvez fosse muito doce para ela, mas nao ligava. Edrik nao ligava que o amor de Nat fosse brutal e inconsequente. Se ele pudesse te-la, isso bastaria.

- Obrigado por ter ficado ao meu lado.

- Sinta-se livre para fazer o que bem entender.

Claro que aquilo trazia consigo um duplo sentido, afinal de contas eram um casal agora. Não precisavam mais segurar suas vontades, seus desejos de longa data. Queria fazer tantas coisas com Edrik, porém não tinham muito tempo, logo ambos teriam que voltar para os próprios trabalhos e ficariam distantes. Bom, pelo menos agora seus reencontros seriam muito mais quentes e muito mais interessantes do que antes. Era quase como uma promessa de prazer.

- Edrik, eu também te amo - Respondeu ao beijo dele de maneira suave, ela também sabia ser romântica e lenta. Porém precisava de muito esforço para isso - Não esconda nada de mim. Inclusive os seus sentimentos. Você pode se permitir a sentir perto de mim, não precisa guardar tudo.

- Então me surpreenda.

Natasha também não tinha muito tempo de sobra, céus ela quase não tinha tempo. Estava sempre trabalhando, tendo apenas alguns dias de folga onde poderia descansar, mas esses passavam tão rapidamente. As vezes eles coincidiam de ser no mesmo dia em que Edrik dava uma pausa no que estava fazendo, o que era algo ainda mais raro de acontecer. Antes do relacionamento deles, esses dias passavam de forma lenta e entediante. Mas, se por algum acaso, os dias de folga dos dois acabassem por se alinhar, certamente seriam muito mais prazerosos que o comum.

- Você realmente acha que poderia ter feito alguma diferença se tivesse tomado uma decisão diferente? Poderia ter te custado muito mais e... Essa mudança não é uma opção, não existe isso. Você precisa de parar de se torturar no passado, Edrik.

- Estarei esperando ansiosamente.

Era uma pergunta difícil de se responder. Ela tentou-se imaginar na situação que Edrik exemplificava, porém com ele servindo como a pessoa que ela teria que fazer odiá-la. E não conseguiu. Simplesmente não conseguiria fazer com que Edrik a odiasse para protegê-lo, por mais necessário que fosse. Ela não era esse tipo de pessoa, não era uma que manipulava a situação ao seu favor.

- Eu mataria esse algo ruim - Respondeu sinceramente - Não conseguiria fazer com que alguém que amo me odiasse, então eu me livraria daquele que me força a fazer isso.

Sabia que sua resposta estava longe de ser satisfatória, uma vez que acreditava que Edrik buscava evitar que isso acontecesse. Mas como ela poderia responder uma pergunta daquelas? Não estava em uma situação similar, nem nunca estivera. E sua linha de pensamento, apesar de brutal, era bem simples. Ela não era uma planejadora como Edrik, não colocava as peças no lugar e esperava que elas começassem a agir da maneira esperada, ela era a pessoa que tendia a destruir o tabuleiro, jogar os planos pelos ares e resolver as coisas de seu jeito.

- Certo, mas converse comigo - Ela queria saber mais sobre Edrik, assim como queria que ele confiasse nela. Apesar do rapaz já fazer isso, um sentimento se torna ainda mais validado através de uma ação - Não se agradece por esse tipo de coisa - Ela riu, de uma maneira levemente maliciosa - Vamos, a gente tem que se vestir e ir ver o Ivan.

Beijou-o suavemente mais uma vez e levantou-se, começando a buscar suas roupas pelo apartamento. Sentia vontade de largar tudo aquilo e simplesmente empurrar Edrik de volta para a cama, mas ambos tinham suas próprias responsabilidades e ela já fizera o seu melhor para evitar as suas. Terminou de se vestir rapidamente, ajeitando os bolsos de sua calça folgada e voltando-se para ele. Estava prestes a erguer seus braços e abraçá-lo quando ouviu aqueles sons. Pegou um revólver que estava em cima da mesa, a arma nem era sua, mas sim de Leah e deveria estar no carro que ela emprestara, mas preferiu trazer a arma junto de si por precaução. O cão da arma foi puxado.

- Abre a porta e deixa eu estourar a cabeça de alguém.

Natasha, ao notar a ordem de Edrik, removeu seu dedo do gatilho porém não deixou de apontar a arma para a porta. No momento que a mesma foi escancarada e algo jogou-se sobre seu namorado, ela acompanhou o movimento com o revólver pronta para disparar contra quem quer que fosse. Porém, quando viu os cabelos prateados, sua arma caiu e um suspiro exasperado deixou seus lábios conforme ela olhava para o teto em alívio.

- Caralho, que susto da porra! - Natasha colocou a arma em cima da estante novamente e suas mãos foram para a sua cintura. Passou então a observar o momento que os dois irmãos dividiam em silêncio, não queria atrapalhar mais do que já havia feito.