Estacionamento

( Tenho que admitir que na maioria das vezes é algum meme ruim que eu vi em algum lugar. )

- Esta aí uma coisa que eu adoraria ver.

Biker riu logo em seguida, não estava muito claro se ele ria da ideia de ver alguém tentar agarrar Melissa pelos cabelos apenas para se arrepender depois, ou se gargalhava da imagem de alguém sendo ferido. Para Noah Smith, coisas como aquela não tinham muita importância no geral, como ele mesmo dissera ele estava ali apenas pela adrenalina e em Miami ele descobrira que não havia nada parecido com a sensação que corria em suas veias após matar. Isso era algo preocupante, extremamente preocupante na verdade, porém não seria um problema no momento, pois o único motivo que o fizera parar com aqueles assassinatos em massa era o fato de que aquilo perdera a graça que tinha. Era como se ele, junto do homem mascarado do vídeo, fossem a encarnação do caos que era Miami naquele momento, um dos lados não demonstrava emoção alguma, apenas ia e fazia o que tinha que fazer sem, aparentemente, tirar prazer do que fazia, enquanto o outro adorava o que estava fazendo, sorrindo enquanto cortava e abria caminho entre os seus inimigos. Verdade seja dita, aquela estrada pela qual Biker dirigia era uma sem saída, e ele podia sentir que o fim se aproximava.

- Eu estou com pena de quem ainda está dormindo - Mesmo Melissa estando de costas para ele, era como se ela pudesse ver aquele enorme sorriso que estava nos lábios daquele homem, sorriso este que enviaria calafrios para a espinha da maioria das pessoas - Se segure firme.

Após falar isso ele acelerou, acelerou e acelerou ainda mais. Estava prestes a atingir uma velocidade que com toda a certeza não era permitida naquela cidade, uma que até mesmo em rodovias seria algo inaceitável, mas isto não era algo que impedia a gargalhada de Biker de soar pelas ruas, ao lado do ronco de sua moto. Era como se os portões do inferno tivessem sido abertos e o ronco do motor daquela Hayabusa fosse a trombeta que avisava que o fim havia chegado, pois ela ecoava por toda a cidade, acordando aqueles que estavam dormindo, assustando os acordados. Até mesmo os mortos poderiam escutar aquele enorme som, que se assemelhava ao rugido de uma enorme fera enfurecida.

- Filme um dia e mande para mim - Ele falou, rindo no processo. Novamente não dava para saber se ele estava falando sério ou não. Isso era algo constante com Noah, nunca dava para ter certeza sobre nada com ele, isso era uma óbvia consequência daquela personalidade um tanto insana que o rapaz possuía - Até tentaram me falar sobre a parte de ser uma garota problema, mas eu meio que ignorei. Não é como se eu fosse uma das pessoas mais certas do mundo.

Que Biker estava longe de ser são era um fato, porém ele estava longe de ser um dos piores casos naquela cidade, haviam pessoas ali que, no quesito de instabilidade, eram muito piores que ele e que não davam sinais de melhora, enquanto ele por mostrar um certo remorso por suas ações passadas em Miami, parecia que podia mudar para ser alguém melhor. Claro que dita mudança estava longe de acontecer, ele ainda continuava a buscar a adrenalina acima de tudo, parecia não se cansar daquela sensação estimulante que percorria suas veias toda vez que fazia algo arriscado, algo que colocava sua vida na linha. A verdade precisa ser dita, Noah Smith podia até mesmo falar sobre o cara da máscara de galo, mas ele só precisava perder suas emoções para acabar como ele. Era como se aqueles dois fossem opostos idênticos, se é que isso faz algum sentido. Eles eram iguais, porém eram completamente diferentes e isso era algo que pesava e muito na cabeça de Biker, era um dos motivos pelo qual ele bebia tanto. Odiava notar que era igual aquele monstro que encontrara.

- Argumento justo!

O sorriso de Biker era algo que, se Melissa pudesse ver, provavelmente acharia que soltar-se dele e cair daquela moto em alta velocidade era uma opção completamente viável. A adrenalina começara a agir novamente, causando aquela sensação do mais puro êxtase, era como se ele estivesse no paraíso, toda aquela emoção... Biker acelerou ainda mais, agora eles estavam em uma velocidade tão alta que caso ele batesse aquela moto, a morte viria de maneira instantânea e indolor, pois a súbita parada seria mais do que o suficiente para fazer com que alguns ossos dos corpos deles quebrassem. Sobreviver não seria algo preferível ali.

- Sou um fã de pessoas recebendo o que merecem - Ele falou, abrindo um sorriso. Era um tanto óbvio que ele não anunciaria que era um fã de violência em geral, ele podia ser um desajustado porém tinha noção que gostar de algo tão agressivo assim não era algo exatamente aceitável, principalmente se fosse levado em conta que ele amava a violência - Não é só pela adrenalina. Eu gosto do barulho do motor também.

Um dos motivos pelo qual ignorara os avisos de que Melissa era uma pessoa completamente volátil, era que Biker jurara já ter visto o pior lado da humanidade, quando enfrentara o homem na máscara de galo. Até mesmo assassinos treinados tem um mínimo de raciocínio em combate e evitam a morte á todo custo, mas aquele cara não parecia se importar com isso. Estava longe de ser uma tendência suicida, é como se ele simplesmente tivesse confiança total de que iria vencer e de que a morte não era um problema, e isso era uma das coisas que assustara Noah em um primeiro momento, todos, mesmo que não desejassem admitir, tinham medo de morrer, pois tinham algo pelo qual valia a pena viver. Ou aquele cara não tinha nada, ou ele dançara com a morte tantas vezes que ver uma faca ser arremessada contra a sua garganta era algo risível para ele.

- Disse algo? - Ele perguntou, enquanto dirigia a moto e gargalhava. Ele sabia que adrenalina não era algo estimulante para todas as pessoas existentes, porém ele não conseguia se conter, quando ele subia naquela moto ele simplesmente precisava acelerar até que seu coração se entediasse. Quando sentiu que Melissa lhe apertara um pouco mais forte, ele desacelerou a moto e começou a andar em uma velocidade aceitável, ele virou o rosto para o lado, o suficiente para que pudesse ver o rosto dela - Perdão, estava indo rápido demais?

- Não é? Não tem som mais bonito do que uma Hayabusa acelerando ao máximo.

Por mais que fossem diferentes em muitos aspectos, uma das coisas que ajudava na relação daqueles dois era o respeito que Noah tinha por pessoas como Melissa, ele simplesmente não conseguia odiar alguém que nunca abaixava sua cabeça para outras pessoas, sempre se mantinha em pés firmes, e que quando a vida batia, ao invés de tomar o golpe em silêncio, revidava com mais força ainda. Por um lado, Biker desejava que tivesse sido assim quando mais jovem, ajudaria bastante em algumas situações que se envolvera.

O rapaz soou uma clara gargalhada e começou a dirigir a moto em uma velocidade que a lei permitia, sem ter um lugar fixo em sua mente, apenas dando algumas voltas pela cidade. Era um feito impressionante ele dirigir uma Hayabusa e não se borrar toda vez que acelerava daquela maneira, eram poucos que conseguiam dito feito. Ele moveu seu cabelo azul da frente de seu rosto, jogando-o um pouco mais para o lado, só agora notando que durante todo aquele percurso rápido, seus cabelos estiveram obstruindo sua visão.

- É um pouco. Mas é que eu não tinha chegado na velocidade máxima dela ainda.

- Você vai presenciar isso logo logo e vai concordar comigo.

Um sorriso surgiu nos lábios de Biker, ele não podia dizer que era uma das pessoas mais sãs do planeta Terra, se levado em conta o seu histórico em Miami, junto de sua infância conturbada e suas frequentes festas regradas a álcool e drogas, era impressionante ele não estar em algum tipo de manicômio ou centro de recuperação, porém ele achava que fizera um bom trabalho de se manter inteiro até então. É claro, ele simplesmente achava isso, a vida nunca fora muito justa com ele e sua mente era menos ainda.

- Um pouquinho sim, mas todo mundo é um pouco louco - Biker parou sua Hayabusa, um pouco antes do estacionamento da Academia Blackwell e desceu da moto, apenas para checar os pneus da moto, acelerar daquela maneira e reduzir bruscamente nunca era bom.

Após essa rápida checagem ele ergueu seu rosto, sorridente para Melissa. Porém o que ele viu não foi ela. Aquela máscara de galo agora estava na cabeça de Melissa, a garota ainda estava com suas roupas de antes porém agora havia um tipo de capa por cima dela e de sua cabeça, e então o bico da máscara abriu-se e começou a se mover, e ele ouviu aquela voz. Uma voz que colocaria até mesmo o mais corajoso dos homens de joelhos, implorando por sua mãe para lhe proteger.

- Todo mundo tem um pouco de louco dentro de si? - Questionou-lhe o galo, apenas aquelas palavras foram o suficiente para fazer com que Noah recuasse alguns passos - Essa estrada pela qual você dirige a sua moto cara não tem fim, e a parede com a qual você vai se chocar está se aproximando - Se um animal podia sorrir, aquele certamente estava fazendo isso - Não se preocupe, deixar esse mundo não é tão assustador quanto parece.

Então, tão súbito quanto ele aparecera, tudo voltou ao normal. Agora Noah via Melissa novamente e ela deveria estar com uma expressão confusa em seu rosto, pois o rapaz começara a balbuciar subitamente algumas palavras sem sentido, algo sobre uma estrada e o mundo, porém nada fizera sentido para ela. E não tinha como fazer.

Alucinação:

Enquanto Melissa tinha dificuldade para lidar com toda aquela velocidade, para Noah aquilo chegava a ser prazeroso. Sentir o vento conforme ele acelerava, escutar o ronco do motor e passar por tudo e todos em uma velocidade tão alta que ele mal poderia ser visto, aquilo era algo que o deixava em êxtase. Claro que aquilo valia apenas para ele, o resto das pessoas teriam uma reação parecida com a de Melissa, ou até mesmo pior dependendo de quem fosse.

- Toda loucura é saudável - Riu Noah, pouco antes de sofrer aquela alucinação. Não era a primeira vez que aquilo lhe acontecia e provavelmente não seria a última. Como fizera uma longa viagem de Miami até Oregon, ele tivera tempo para ver aquele estranho ser que aparecia a sua frente nos momentos mais aleatórios. O vira incontáveis vezes e em todas ele sempre lhe alertara sobre como seu tempo estava acabando e como a morte não era algo assustador. Biker o encontrara uma única vez em Miami e quase morrera nas mãos dele, desde então adquirira uma paranoia onde sentia-se que estava sendo perseguido por aquele homem.

Verdade seja dita, o homem na máscara de galo era como um anjo da morte, sua presença sempre resultava em desgraça. Até onde Noah sabia, ele era o único que sobrevivera a um encontro com aquele homem, ficara sabendo recentemente que ele havia desaparecido de súbito o que apenas piorava a sua condição. E se ele estivesse vindo atrás dele? E se quisesse matá-lo, já que falhara em fazer isso antes?
Biker suava frio naquele momento, olhando de um lado para o outro esperando ver aquele homem novamente, vindo em sua direção. Porém a rua estava vazia. Ele suspirou aliviado.

- Não é nada - Ele falou e em seguida murmurou quase inaudivelmente - Não é nada.

- É por aí mesmo.

Quando a paranoia de Noah atacava ele se tornava uma pessoa completamente diferente, como um animalzinho assustado ele recuou ao ver que Melissa apontara o dedo para ele, suas sobrancelhas estavam levantadas e juntas, suas pálpebras superiores estavam elevadas enquanto as inferiores estavam contraídas. Os lábios do rapaz estavam levemente esticados horizontalmente na direção de suas orelhas. Uma expressão clássica de medo puro. Não era nada parecido com o rapaz que minutos atrás rira ao acelerar sua Hayabusa pelas ruas de Windfall.

- Eu... eu... - Ele falou, dando alguns passos curtos para trás. No momento que ela perguntou sobre Shadow, no entanto, a expressão dele foi uma de certa confusão e até mesmo alívio - Eu já ouvi falar dele, um pouco antes de vir para cá, mas não faço a menor ideia de quem ele é. Nunca conheci o cara.

Atrás deles passava um carro, em uma velocidade considerada normal para aquela cidade, porém sua janela estava abaixada e do lado de dentro estava um homem negro e magro, de cabelos raspados com um cigarro em sua boca. Biker observou enquanto ele passava, notando que os olhos daquele homem estavam cravados nele. Então ele pôde ver no banco do carona, uma máscara de lobo. Aquela expressão de medo voltou ao seu rosto, porém em uma intensidade menor.

- Sobe na moto. Sobe na moto agora! - Ele gritou enquanto saltava para cima da Hayabusa e a ligava novamente - Se segure firme, feche os olhos se precisar, mas não solte por nada nesse mundo.

Máscara:

Por um segundo, Noah jurou que sua sorte era a pior do mundo pois considerou que Melissa fazia parte das pessoas que o perseguiam. Porém, ela não o atacou e isso foi confirmação o suficiente, quem estava envolvido com os Fifty Blessings tinha o costume de ser extremamente violento e não gostar de dialogar. Na verdade, ela até batia um pouco com a descrição, mas ela lhe dera uma chance ali, portanto ele decidira que podia confiar nela.

Ele teria até mesmo perguntado de quem ela estava falando, porém teria sido inútil, afinal ele sabia que Melissa não iria simplesmente lhe dar informações assim e porque o carro atrás dela tinha um dos membros da Fifty Blessings e aqueles caras não eram um bom sinal. No momento que Melissa subiu na moto e segurou-se nele, o rapaz acelerou e o homem dentro do carro colocou a sua máscara, começando a acelerar atrás deles. O carro era rápido, de fato, porém não chegava nem perto da velocidade da Hayabusa. Noah não estava indo rápido demais por motivos óbvios, caso precisasse fazer uma curva eles provavelmente iriam parar em uma parede.

- Explico depois, prometo! - Ele gritou para ela, conforme o vento batia em seu rosto - Se eu viver para isso, é claro.

Conforme a Hayabusa cortava as ruas de Windfall, o carro lentamente sumia atrás dele até que uma hora ele desapareceu por completo. Noah diminuiu a velocidade da moto, afinal não adiantava nada sumir da vista do perseguidor e continuar fazendo um enorme barulho naquele local. O rapaz começou a ir por algumas ruas menos utilizadas para o caso do carro aparecer novamente ele poder acelerar sem medo de atingir outro veículo. Então, quando por fim acreditou estar longe o suficiente ele entrou com sua Hayabusa em um beco e parou ali, desligando a moto por completo e descendo da mesma.

- Vamos ficar por aqui um tempo antes de voltar para Blackwell - Biker falou dando uma pequena corrida até a saída do beco e dando uma olhada sorrateira, porém não viu nada do carro. Ele voltou até Melissa, caminhando lentamente. Não era um beco sem saída, ele não era burro o suficiente para se enfiar em um desses - Me desculpe, não queria te envolver nisso.

O vento passava tão rápido pelo rosto de Biker que era como se ele fosse feito de navalhas, chegando perto de cortar sua pele conforme ele acelerava pelas ruas de Windfall naquela manhã. Dentro do carro, o homem com a máscara de lobo não parecia demonstrar emoção alguma, fosse frustração por seu alvo estar perto de escapar, fossa excitação por finalmente ter encontrado quem ele deveria matar. Ainda assim, aquele carro sumiu atrás deles, conforme o motor da Hayabusa rugia e acordava quem decidira que aquela seria uma boa manhã para descansar.

O coração de Noah estava acelerado, batendo mais rápido a cada segundo que se passava. Eles sabiam que ele estava ali. Mesmo percorrendo a longa distância de Miami até Oregon ele não conseguira sair do radar deles, e o mesmo notava que não lhe faltava azar em sua vida, pois eles estavam dedicados a matá-lo, enviando os seus homens mascarados atrás dele. Se Noah morresse pelas mãos daquelas pessoas, não haveria necessidade de um caixão, pois sobraria muito pouco de seu corpo para colocar em uma caixa glorificada feita de madeira. Quando a chave de fenda foi lançada, ele tentou esquivar-se mas ainda estava um pouco abalado pela perseguição e o objeto metálico atingiu o lado de sua cabeça, fazendo com que seu olho esquerdo se fechasse devido ao impacto e ele praguejasse em voz baixa.

- Calma, calma, eu não vou fazer nada com você! - Ele falou, erguendo suas mãos como se aquilo bastasse para mostrar que ele não tinha nenhuma intenção de fazer algo com Melissa - É sério, esse povo eles... eu... caralho como que eu posso explicar isso? Olha, só... se acalme, não grite nem nada do tipo e eu tento explicar a situação, ok?

Ele ainda mantinha suas mãos erguidas, deixando-as a vista de Melissa para que ela pudesse notar que, de fato, ele não desejava fazer nada contra ela. A respiração do rapaz estava completamente fora do ritmo, ele estava tão assustado quanto Melissa, mais até. Pois diferente dela, ele já cruzara caminhos com uma daquelas pessoas mascaradas e o resultado fora horrível. A cicatriz em seu rosto estava ali para provar.

290 quilômetros por hora. Era essa a velocidade com a qual ele percorre as ruas daquela cidade, sangrando-as a cada mudança de marcha, a cada vez que a acelerava, era possível ouvir aquela moto na distância e mesmo assim o som já era alto, quando passava pelas pessoas era ensurdecedor. Deram sorte de não dar de frente com a polícia, mas esta certamente estaria procurando-os naquele momento, além do homem mascarado é claro. Como estavam rápidos demais para serem vistos, sabiam que a lei não os encontraria tão facilmente assim, não havia descrição da moto, número da placa, nada.

Sangue começou a fluir pelo ferimento. Não era muito, afinal de contas não fora profundo, mas fora o suficiente para cortá-lo. Ele limpou-o com sua mão, antes que ele pudesse pingar no chão e massageou levemente o ferimento, usando cuspe para tentar desacelerar o sangramento. Ele era como um animal, fazendo de tudo para se curar e impedir que deixasse um rastro de sangue para trás. Ele inspirou profundamente, explicar aquela situação seria algo difícil.

- Lembra-se do que eu falei dos caras mascarados em Miami, que lhe mostrei um vídeo de um cara com uma máscara de galo? - Ele questionou, por mais que soubesse bem que ela lembrava-se - Então, um amigo meu disse para mim que tinha algo que eu poderia fazer, para sentir mais adrenalina sabe? Ele me alistou com esses porras, sem eu saber no que eu estava me metendo, eu não fazia a menor ideia de quem eram ou o que faziam, no começo eu pensei que eles tinham um novo tipo de droga e era disso que ele estava falando, eu obviamente estava enganado. Uma semana depois, comecei a receber ligações.

Ele parou para inspirar, pigarreando um pouco no processo.

- Eles nunca falavam claramente o que era que eu tinha que fazer, sempre falavam ser de alguma loja ou coisa do tipo, porém estas não existem, eu procurei. Me davam um endereço e um horário para eu comparecer. Do lado de fora da minha casa havia uma caixa, com uma máscara e um papel que eu deveria queimar, com as ordens. Eu deveria entrar nesses locais e matar a todos que eu visse - Ele parou novamente, coçando sua nuca - Eu não obedeci e as ligações começaram a ficar cada vez mais ameaçadoras. Um dia acordei pela manhã para descobrir que alguém havia invadido minha casa e deixado uma mensagem bem clara sobre o que aconteceria comigo caso eu não cooperasse. E foi isso que eu fiz.

Noah estava absolutamente aterrorizado. Ele fugira de Miami justamente para ter que evitar continuar com aquela loucura, usando as informações que obtivera como um tipo de escudo invisível, achando que desde que não abrisse o bico os Fifty Blessings o deixariam em paz. Aquela lógica era falha, porém era a lógica que um ser apavorado tinha a sua disposição. Inspirou profundamente, tentando controlar seus batimentos cardíacos.

- Olha o estilo de vida que eu levo! - Ele justificou-se, abrindo seus braços logo em seguida - Ia ser só mais uma fonte de adrenalina, não havia mais nada de novo na minha vida, a monotonia estava começando a me acertar. Sei que isso parece loucura, mas quem sabe eu que seja um maluco mesmo!

Ele socou a parede, já não sentia dor em seus punhos, afinal os usara para esmagar rostos, quebrar ossos e trazer a morte no geral. Por mais que estivesse fazendo um ato de fúria, Melissa poderia notar que ele estava desesperado, aquilo estava realmente assustando o rapaz de uma maneira completamente nova. Parou para inspirar mais uma vez, apenas para perceber como aquela ação era completamente inútil, seu coração continuava acelerado.

- Não! Eu não sou aquele cara! Foi ele que fez isso em mim! - Falou Biker, apontando para a cicatriz que tinha embaixo de seu rosto - Eu decidi descobrir quem estava atrás das ligações, fiz o necessário e cheguei a um local chamado Phone Hom, eles que estavam por trás de enviar as missões. Mas eles foram mais rápidos e mandaram o maluco da máscara de galo para o local onde eu estava. Ele me deixou viver, mas acho que ele nem sabia que eu ainda estava vivo, aquele cara não batia bem da cabeça - Noah decidiu esquecer que ele próprio não era um exemplo de sanidade - Eu não vou lhe dizer quem está por trás, não quero você na mira deles e...

Um carro freou bruscamente em uma das saídas e dele desceu o homem lobo de antes, caminhando lentamente até eles com uma enorme faca em sua mão. Biker estava prestes a escapar mais uma vez, ia virar e subir em sua moto, porém parou. Inspirou profundamente, seu coração continuava a bater aceleradamente. Porém aquilo já não era mais medo. Era fúria e adrenalina. A expressão de Noah tornou-se neutra e ele virou-se.

- Acho melhor você fugir - Falou pra Melissa - Você não vai querer ver isso.

Noah estava quase feliz por ver Melissa indo embora, quanto menos ela se envolvesse com ele, melhor seria. Porém também havia uma pontada de tristeza, mais uma pessoa que deixava sua vida por culpa das escolhas que ele tomara, por culpa de toda aquela necessidade que ele possuía por adrenalina. Estava prestes a chamá-la novamente, e oferecer carona até a academia. Ele a tirara de lá e a envolvera nesse espiral de loucura, levá-la de volta era o mínimo que poderia fazer. Então, o homem apareceu.

Biker estava prestes a fazer o que fazia de melhor, mas foi impedido por Melissa que o puxou para longe daquilo tudo. O rapaz xingou baixo e suas pernas começaram a se mover para acompanhar o ritmo da garota, enquanto eles corriam e deixavam a moto de Biker para trás, um meio de fuga muito mais útil do que as pernas dos dois. Ainda assim, havia algo que Melissa não sabia e talvez notasse logo. O homem não corria, ele andava numa velocidade alta o suficiente para não perdê-los de vista, porém ele não corria em disparada, buscando alcançá-los o mais rápido o possível.

- Temos que parar de correr! - Ele gritou para ela, olhando para trás, vendo o homem com a máscara perseguindo-os - Você só está piorando as coisas! Eles adoram perseguições! Os filhos da puta são como animais selvagens, quanto mais resistência para eles, melhor - O homem continuava a persegui-los - Vamos aproveitar os becos, deixa que eu lido com ele.

- É claro que eu sei o que estou fazendo.

'' Eu já fiz isso tantas vezes '', não chegou a falar este pensamento, porém ele estava ali. Biker já havia matado tantas pessoas de tantos modos diferentes que aquilo se tornara algo costumeiro para ele. O homem parou na entrada do beco e correu, avançando alucinadamente para cima de Noah, que apenas esperava. Ele aprendera algo quando enfrentara a Máfia Russa de Miami. Seres humanos, em situações desesperadoras, lutam como animais selvagens. Não há nenhum tipo de pensamento envolvido, apenas o desejo de eliminar o inimigo. E os mascarados eram os piores de todos. Era como se as máscaras de animais realmente trouxesse á tona o animal interior deles.

Com a proximidade, Biker deu um passo para frente e socou o homem, a máscara absorveu parte do impacto mas ainda assim não foi o suficiente. A força foi tanta que o homem largou a faca e cambaleou para trás. Foi atingido por um segundo soco vindo da parte de Biker e foi ao chão, e isso assinou o seu fim. Noah sentou-se em cima do homem e tirou a máscara dele, começando a socar enfurecidamente logo em seguida. Suas mãos enfaixadas estavam começando a ficar vermelhas, o som de carne batendo contra carne logo mudou-se, haviam ossos sendo quebrados e esmagados. Mais socos. Mais socos. Mais socos. Mais. Mais. Mais. Mais. Por fim, o som parou. O rosto do homem estava irreconhecível, sua face estava praticamente afundada e havia sangue para todos os lados, ossos de sua face haviam sido quebrados e estavam expostos. Ele, obviamente, estava morto.

- Pronto... pronto...