Ars Goetia

- Não precisa ter modéstia, já provei bastante de ambos. - Maxwell mordeu seu lábio inferior, por um momento sua mão levantou-se indo apertar as coxas de Melissa, porém pareceu lembrar-se da conversa sobre o amor entre ambos não ser só aquilo e conteve-se. Mas a vontade estava sempre ali. - Deixe-me ver...

♙ Ele tentou forçar-se para ficar de pé, apoiando-se no banco para isso, mas apenas caiu para trás sentando-se mais uma vez. Suspirou. Dava para notar que sua respiração estava controlada e que sua febre havia caído consideravelmente, ele estava seguro para voltar para casa, porém lhe faltava a força física que fora drenada pela armadilha. Não, não era só isso, o motivo pelo qual Maxwell não conseguia levantar-se direito do banco ia além de fadiga. Ele olhou para Melissa, seus olhos mostravam que ele queria chorar. ♙

- Mel... Eu provavelmente vou conversar sobre isso com a outra também, mas... - Ele escondeu o rosto entre as mãos. - Minha mãe não se suicidou... Mataram ela, Mel.

- Talvez eu queira corrigir isso um dia desses. - Ele riu baixinho, seus olhos focando-se no busto dela e então nas pernas. Brincava, mas ela era a imagem da sedução, assim como a Melissa real, se eles não tivessem tido aquela conversa sobre como se sentiam ele poderia muito bem estar ''recompensando'' ela de um jeito mais específico. Ou não, mal tinha forças para levantar, não teria gás para fazer algo do tipo. Eram só palavras naquele momento.

♙ Maxwell ergueu suas mãos, passando-as pelos braços de Melissa com um leve sorriso em seus lábios. Alcançou os ombros dela e deu um leve puxão para que ela descesse e ficasse ao seu lado ou à sua frente. De qualquer maneira, quando ela desceu Maxwell a puxou para um abraço apertado, conforme enterrava seu rosto no ombro direito dela, escutando as palavras de conforto dela. Para a Cognitiva aquilo não bastava, ela precisava fazer mais, mas aquelas palavras eram as que ele buscava naquele momento. E as que alimentariam ele por um longo tempo. ♙

- Foi ele. - O ódio na voz de Maxwell foi cortante. - Ishmael. Ele vem manipulando isso tudo desde o começo. Eu, minha família, os homens que matei, nós só fomos efeitos colaterais do plano dele. A diferença sendo que ele precisa de mim.

- Eu queria passar uns dias assim, gosto das nossas conversas. - Maxwell riu um pouco, apesar das conversas normalmente terem um tom extremamente sexual e por vezes se tornarem mais sérias do que o esperado, ele adorava a companhia da Cognitiva. Não deveria ser uma surpresa, visto que ele amava ela e a Melissa real.

♙ Ele abriu um curto sorriso, fazendo seu melhor para abraçá-la de volta. Estabanada ou não, aquele gesto aquecia seu coração e fazia-o apreciar um pouco mais o quanto aquela Cognitiva estava mudando por ele, quando se conheceram ela realmente agia como uma súcubo e ele estava mais do que feliz em ser a vítima, porém conforme o tempo passou ambos assumiram uma postura diferente sobre o outro, ainda havia um pouco do relacionamento passado, mas agora eles eram aliados. Justo, aliados que se amavam, dando o relacionamento entre Maxwell e a Melissa real, mas agiam mais como companheiros de missão do que amantes em um relacionamento ou até mesmo como dois seres sedentos pelo outro. ♙

- Eu queria poder olhar para você e dizer que estou fazendo isso pelas pessoas que ele está manipulando atualmente. E eu estou. Realmente estou. - Maxwell olhou para ela, com um sorriso que beirava o maligno. - Mas agora eu quero o prazer de ver ele morrer, não vou deixar ninguém aqui cair até ele ser morto.

- Bom, se você aparecesse nos meus sonhos poderíamos estar em qualquer lugar. - Maxwell riu, pelo o que sabia Cognitivos tinham um pouco de influência no mundo real, só não sabia quanto. Talvez aparecer em sonhos fosse algo impossível para eles, ou talvez fosse algo fácil de ser feito. Sonhos tendiam a ser caóticos, portanto a aparição da Melissa Cognitiva iria ao menos mantê-lo em algo fixo por um tempo.

♙ Maxwell também alterava-se conforme passava mais tempo com a Cognitiva e com a Melissa real, ambas deixavam-o em um estado de tranquilidade onde a ansiedade e a preocupação com certas coisas sumia. Ele não era mais um rapaz com um complexo de salvador, não queria mais tomar para si as dores e as palavras de outros como se fosse o único capaz de aguentar esse peso, porquê não era capaz de aguentar, ninguém era. Mas aos poucos Melissa o despertou disso, ele ainda era um pouco elétrico em certos momentos e sua ansiedade era notada em alguns outros momentos, mas havia perdido muito do que o feria. Com a Cognitiva, isso fora algo que admitira para si mesmo recentemente inclusive, ele notou que estava tentando demais ser uma pessoa que não era. Aquela persona de uma pessoa pervertida ao ponto de não importar-se em tocar sexualmente uma parte da pessoa com quem transava na vida real, de alguém que estava sempre buscando mais e mais... Só quando abriu mão dessa versão exacerbada de quem era foi que pôde admitir que amava Melissa e que ela pôde dizer que amava-o também. ♙

♙ Maxwell passara tanto tempo tentando ser invulnerável a tudo que só notara tarde que as melhores pessoas de sua vida ficaram ao lado dele quando ele se mostrou vulnerável para elas. ♙

- Não sei, acho que depois dessa semana de descanso vou poder pensar melhor. Mas no momento não tenho intenções muito nobres. - Ele esforçou-se um pouco e conseguiu levantar-se do banco, titubeando um pouco antes de firmar-se. - Amor, obrigado por estar ao meu lado. Isso seria muito mais difícil sem você.

- Se quiser, pode ir em frente. Sei que seriam ótimos sonhos.

♙ Ele brincou no mesmo tom dela, não sabia da capacidade de Cognitivos de aparecerem em sonhos e até mesmo de seus leves poderes precognitivos quando se tratava da sua versão real. A Cognitiva de Melissa poderia facilmente entrar nos sonhos dele, era ainda mais fácil uma vez que ele e Melissa eram extremamente próximos, mas isso acabaria por despertar algumas perguntas na mente dele. Por que seu Cognitivo não estava se comunicando da mesma maneira? Por que não falar sobre o que iria acontecer? ♙

- Para meus amigos só tenho intenções boas. - Maxwell sorriu, sendo totalmente sincero com ela. Não era capaz de dizer que desejava o bem todos os momentos de seus dias, mas ao menos podia dizer que no que envolvia seus amigos mais próximos ele tinha apenas a vontade de fazer deles pessoas mais felizes. - Não adianta me repetir, pelo visto.

♙ Ele riu, segurando suavemente o queixo da Cognitiva e deu um beijo suave na testa dela. ♙

- Vocês duas são verdadeiras para mim. - Maxwell então soltou o queixo dela e começou a se afastar com passos lentos. - Prometo tentar!

- Entendi sim.

♙ Ele riu para ela, passando a mão pelo local atingido. Voltar para Melissa... Céus, isso seria um caos. Ela iria querer saber como ele ficara tão doente assim subitamente, iria querer ir até o médico e mais um monte de coisas, mas não tinham dinheiro para um médico e ele precisaria inventar alguma história muito boa para ela não descobrir que ele estava escondendo algo dela. Provavelmente iria dizer que fora com Nathanael para uma cidade vizinha, para investigar sobre os pais deles e acabara ficando assim na volta. Isso teria que bastar. ♙

- Até semana que vem, querida.

♙ Maxwell foi até a igreja, retornando para o mundo real e entrando em contato com Nathanael para que o mesmo lhe desse uma carona. Durante esse curto período de tempo, no qual a Cognitiva de Melissa partiu para fazer o que sempre fazia, uma porta dentro da igreja foi aberta e dela saiu o Cognitivo de Maxwell. Haviam rachaduras em sua face, como se a mesma fosse feita de vidro, e pequenos pedaços estavam descolando-se e flutuando no ar. ♙

- O que pensa que está fazendo? - Louis perguntou, sentado em um dos bancos. - Te dei a liberdade de andar lá embaixo, não disse nada sobre subir.

- A Melissa precisa de mim... Eles precisam de mim, já pensei em um jeito de ajudá-los sem entrar em contato direto com eles. - O Cognitivo respondeu.

- Eu sei. Sei exatamente o que está planejando e sinto muito, mas isso seria injusto para o outro lado. - Louis estendeu sua mão e o Cognitivo foi puxado por correntes invisíveis para baixo e a porta fechou-se e trancou-se. - Não há sentido em um lado criar armadilhas se o outro não puder cair nelas... Porém, eu creio que terei que dar alguma vantagem para o Maxwell logo. Atacar as memórias dele não é algo exatamente permitido. - Olhou então para a figura de Jesus, caída em um canto. - O que acha?

♙ A semana que passou longe do Tabuleiro foi boa, apesar das dores extremas que sentira nos primeiros dias ele fizera uma recuperação rápida graças à poção que Louis havia feito para ele, e ainda acabara revelando para Melissa sobre o Tabuleiro e tudo o que estava acontecendo naquela cidade. Apesar de não gostar nem um pouco disso, fora algo que precisara fazer e também sentia-se um pouco culpado por ficar saindo toda noite sem dar a menor explicação do que realmente estava indo fazer. Surgindo novamente naquela igreja a primeira coisa que aconteceu foi Louis vir falar com ele, entregando-o uma pulseira que o fez vestir, segundo ele aquilo iria protegê-lo de futuras armadilhas mentais. Após isso Maxwell saiu para o lado de fora da igreja, estranhando um pouco o fato de que estava começando a olhar para aquele mundo distorcido com certo carinho, mas isso se devia mais pelo fato de ter os Cognitivos de seus amigos ali do que por ter algum apreço real pela bizarrice que testemunhava. Parando para pensar, isso não era muito diferente do modo como ele levava a vida no mundo real, apenas aguentando tudo o que era jogado em cima dele em favor das pessoas que amava. Assim que avistou a Cognitiva de Melissa ele abriu seus braços e sorriu.♙

- Venha aqui, estou com saudade.

♙ Maxwell não se importou com o modo que foi abraçado, já estava acostumado com essa forma de afeto mais maliciosa da parte da Cognitiva, portanto apenas abraçou-a de volta e riu um pouco. Não que nunca a provocasse de volta, ele fazia isso diversas vezes enquanto aventuravam-se pelo Tabuleiro. Ele ergueu seu rosto quando ela aliviou um pouco o abraço e depositou um beijo em sua bochecha, mantendo suas mãos ao redor da cintura da mesma. ♙

- Eu estou completamente recuperado. - Ele começou a rir com os cutucões da parte de Melissa. - Mas você já sabia disso, não é? Tenho certeza que acompanhou tudo bem de perto.

♙ Os demais Cognitivos estavam começando a se aproximar, Dante e Hanna no caso, porém havia uma enorme mudança na aparência de Dante. Aparentemente o Dante real havia tido uma mudança de visão, pois agora estava trajado com uma armadura de cavaleiro e trazia consigo uma espada e um escudo. Não estava parecido com um herói de alguma aventura, porém ainda assim carregava um ar de alegria e dignidade enquanto andava ao lado de Hanna. ♙

- É bom ver que se recuperou. - Disse Dante.

- Imagino que tenha sido tudo sim.

♙ Maxwell sabia bem o modo como a Cognitiva podia ver através dos olhos da Melissa real e como ela gostava de espiar os dois enquanto eles tinham seus momentos mais privados, não que pudesse ser considerado espiar uma vez que ela era uma parte de Melissa que ganhara uma consciência e vivia no Tabuleiro, seguindo suas regras malucas. Ele abraçou de Hanna de volta, rindo com a demonstração de afeto e esticou uma mão para cumprimentar Dante. ♙

- Sim, eu notei isso, mas agora está tudo bem.

- Você tem uma constituição mais forte do que parece, pelo o que ficamos sabendo você já estava andando no quarto dia de recuperação. - Dante falou, cumprimentando Maxwell e sorrindo. A preocupação dele também fora passada para o Dante real, que estava ao lado de Hanna quando ela fez a ligação.

- Tudo graças aos cuidados da Mel. - Ele riu, preferindo deixar de fora os detalhes desses cuidados.

- Pelo o que eu explorei do labirinto não tem muitos inimigos lá e os que tem são bem fracos. - Dante explicou, passando sua mão suavemente pela cabeça de Hanna. - O problema é o labirinto em si, ele é enorme.

♙ E de fato fora justamente isso que descobriram quando chegaram até a entrada do labirinto, Dante e Hanna tiveram a ideia de usarem suas magias de luz para marcar passagens que não possuíam saída e que já haviam sido exploradas antes, assim ficava fácil tanto ir como vir dentro do labirinto. Sua maior dificuldade lá dentro foi notar como o tempo estava passando, porém o cansaço de Maxwell era um bom indicador e era normalmente nesses momentos que eles retornavam até a igreja e ao banco metálico. Faziam-se poucos dias desde que entraram pela primeira vez no labirinto e dessa vez, como a outra, estavam andando de um canto para o outro tentando entender e mapear aquele local quando escutaram um barulho. Tendo encontrado apenas um fraco inimigo da última vez, Maxwell entrou em guarda para o combate que estava por vir. ♙

- São eles. - Disse uma voz vinda um pouco mais da frente deles, parecendo estar observando-os atrás da curva na direita. De lá saiu um rapaz um pouco mais velho que Maxwell, de cabelos castanhos compridos presos em um rabo de cavalo, ele utilizava uma calça militar que estava um pouco rasgada e coturnos, não possuía uma camisa ou qualquer coisa do tipo, seu peitoral estava a mostra e de suas costas saíam seis correntes que arrastavam-se pelo chão. Aquele era, sem dúvida alguma, o Cognitivo de Lennart. - Bom, creio que podemos parar de andar sem rumo agora.

- Garanto-lhe que não morro fácil. Dos fogos infernais eu sou como um velho conhecido. - Lennart falou e as correntes que deixavam suas costas começaram a se balançar suavemente, de começo pareciam ser como rabos de cachorro, balançando-se de acordo com as emoções de seu dono, porém elas claramente estavam inclinadas na direção de Nymeria.

♙ Maxwell retirou de seu bolso duas cartas que pareceram esquentar um pouco, número 3 A Imperatriz e número 4 O Imperador. Sabia que eram as cartas que no momento representavam a ligação que possuía com Nymeria e com Lennart e que eram as que agiriam sobre eles ali no tabuleiro, porém não conseguia afastar a sensação de que havia algo faltando ali. Por algum motivo quando olhava para suas cartas ele sentia uma pequena sensação de vazio, como se estivesse faltando algo no meio daquilo tudo, porém ele não conseguia exatamente dizer o que era e o que precisava fazer para livrar-se daquelas sensações. As cartas, por sua vez, brilharam um pouco mais e tanto Lennart quanto Nymeria poderiam sentir um calor leve em sua testa, Maxwell as guardou logo que pararam de emitir aquela luz e deu um passo a frente, as mãos e braços abertos em um gesto acolhedor. ♙

- Vocês vão vir com nós, então? Poderíamos usar mais poder de fogo. - Disse com certa ansiedade, realmente queria mais dos cognitivos de seus amigos ao seu lado.

- Bom, nosso propósito de existir no Tabuleiro é para auxiliar você. Porém, depende. - Após falar isso, Lennart olhou para Nymeria no aguardo de uma aprovação ou de uma negação.

♙ Lennart observou atentamente ao gesto de Nymeria e então sorriu docemente, aparentemente ambos tinham uma linguagem que apenas eles eram capazes de entender, pois Maxwell e Dante estavam completamente perdidos assim como as demais deveriam estar. Os espíritos, por sua vez, estavam guardando a retaguarda deles e não podia dizer-se que eles importavam-se muito com o que estava acontecendo ali, para eles tanto fazia se tivessem mais ou menos Cognitivos. Por fim, Lennart fez um outro gesto para Nymeria e voltou seus olhos para o grupo. ♙

''Eles vão precisar de toda ajuda que puderem encontrar, concordo sim com você.'' - Em seguida ele pigarreou um pouco para chamar a atenção dos demais. - Nós vamos viajar com vocês, sim. Estão indo mais a fundo no labirinto ou planejam voltar?

- Isso tudo depende do Maxwell. - Dante respondeu, sorridente. Gostava da ideia de ter aqueles dois por perto, uma vez que era um bom amigo de ambos.

- Eu... Vamos voltar. Vocês devem estar de saco cheio de estar aqui dentro e a minha cabeça está começando a me matar. - Maxwell levou sua mão direita até a testa e meneou um pouco a cabeça. - Podemos continuar amanhã.