Quarto do Dante

- Eu só tento ser uma pessoa boa. - O rapaz disse, sorrindo. Fechou seus olhos por um momento, conforme seus cabelos eram despenteados, um sorriso inocente cruzando seus lábios. - Prometo nunca mudar.

✮ Dante mantinha suas promessas, isso era um fato conhecido sobre ele. Apesar de ter passado por experiências terríveis, por ter feito coisas ruins e pensado sobre si mesmo como uma pessoa horrível, ele superara isso. Não sozinho. Precisou de algumas palavras bruscas e rudes para despertar. Mas no final das contas ele voltara a ser a pessoa que sempre fora. Aquele rapaz doce de sempre. Apesar de agora ter consigo uma sabedoria ainda maior sobre as pessoas e como elas funcionavam. ✮

- Ah, que nada! Seu irmão é uma pessoa legal! - Ele respondeu, com um sorriso. Então este se diminuiu lentamente e Dante deu uma risada sem graça. - Bom, se você ainda está aqui... Imagino que seja por causa daquele cara japonês... Ou por causa do meu pai.

- Obrigado.

✮ Agradeceu do fundo do seu coração. Ultimamente era só isso que ele vinha tentando fazer, ser uma pessoa boa. Sabia que só precisava voltar a ser como era antes, aquele rapaz repleto de carinho e alegria. Mas a cada dia isso vinha tornando-se mais difícil, sua vida passada ainda o incomodava muito. Sentia dentro de si a culpa que Griffin sempre ignorara. Queria fazer algo por aquelas pessoas que tanto machucara, mas elas estavam mortas. E a única que sobrevivera... Fora ela quem dera um tiro nele. ✮

- Entendi entendi. Bom, eu não sei o que meu pai anda fazendo, então fico com medo de ele irritar a pessoa errada. E eu tenho ficado de olhos abertos por causa desse tal de Akira. - Dava para notar que Dante levava aquela situação a sério, apesar de estar longe de envolver-se diretamente. Sua maior preocupação era evitar que ele machucasse alguém da escola, ou alguém próximo do rapaz loiro. - Eu acho isso bom! Você e o Lennart merecem isso!

- Eu vou continuar. - Gostava daqueles carinhos de Nymeria. Sentia mesmo como se ela fosse uma irmã mais velha para ele. - É, eu acabei notando isso.

✮ Deu mais uma risadinha. Sigmund não parecia levar muitas coisas a sério, logo isso acabava por irritar pessoas. Seus comentários sarcásticos, seus sorrisos brincalhões, tudo isso podia pegar nos nervos de algumas pessoas. Mas Dante gostava disso. Porém também entendia o motivo de muitas pessoas o odiarem, além dos motivos do trabalho dele é claro. Ele vivia a vida como se não tivesse nenhuma preocupação, como se tudo fosse uma grande piada. ✮

- Bom, isso é preocupante. - Dante estava mais sério. Tinha estado muito mais sério ultimamente, apesar de continuar sendo aquela pessoa adorável. Porém aquilo sobre Akira o preocupava. O preocupava muito. - Isso é bom. Acho que vocês dois merecem um descanso e um pouco de normalidade.

✮ Bom, o máximo de normalidade que uma filha de um líder mafioso e o seu guarda costas poderiam ter. Imaginava que o relacionamento dos dois estivesse sendo mantido em segredo. Não sabia praticamente nada sobre a família Lindberg, mas não conseguia imaginar o chefe de dita família ficando feliz com um de seus homens envolvendo-se com sua filha. ✮

- Eu adoro crianças!

✮ Dante não tinha irmãs e nem irmãos. Bom, em teoria ele até tinha, uma vez que todos aqueles que passaram pela Casa consideravam uns aos outros irmãos. Mas ele nunca tivera esse tempo entre eles, fora um experimento diferente. E apesar de saber que estava longe de ser o único, nunca conhecera os outros e nem mesmo sabia se haviam sobrevivido. Mas ele conseguia ver em Nymeria uma irmã. Apesar de terem se visto pessoalmente poucas vezes, eles conversavam bastante. Havia um enorme afeto entre os dois, assim como preocupação. De certa forma eram muito protetores um com o outro. ✮

- O Edrik disse algo parecido. - Dante não conseguia ver alguma pessoa daquela academia sendo atacada. Mesmo aqueles que quebravam a lei e envolviam-se com drogas, fosse o uso ou a venda, não deveriam atrair a atenção de uma pessoa como Akira. - Vocês vão conseguir sim. Se bem que... Eu acho que o Lennart pegou qualquer curso e não pensou muito mais além disso.

✮ Lennart havia dito para a própria Nymeria que escolhera uma matéria ''ao modo à caralha'' porque não se importava muito com o que aprenderia ali. Apenas uma desculpa para poder ingressar na academia e poder ficar próximo dela como segurança. Dante acreditava que, mesmo com isso, ambos conseguiriam aproveitar bem o tempo que tinham ali como alunos normais. ✮

- Hummm... Claro! É alguém da sua família?

- Se eu ver algo suspeito eu aviso você. - E com essas poucas palavras, Dante se tornara um informante de Nymeria. Claro, ela sempre poderia recusar, mas não é como se fosse mudar algo. Dante fazia aquilo pelo bem de Windfall. Não queria nem pensar no que aconteceria se alguém inocente se machucasse. - Bom, desde que ele não se incomode muito com isso.

✮ Duvidava que Lennart fosse ficar muito preocupado sobre estar cursando algo que não lhe interessava. Desde que pudesse continuar perto de Nymeria, protegendo-a e vivendo com ela, Dante sabia que o segurança estaria feliz. Às vezes se preocupava com aqueles dois, sabia que estavam em um relacionamento perigoso e de certa forma Lennart poderia ser considerado o seu irmão, afinal ambos fizeram parte da Casa em algum momento. Porém Dante era um pouco mais velho que Lennart. ✮

- Não, podemos ir agora se quiser!

- Ow! Prometo, prometo! - Dante não queria trazer problemas para o seu lado também. Apesar de certamente possuir o potencial, nunca fora treinado como um verdadeiro membro dos Treze Fúrias logo não poderia lutar. Não que quisesse, odiava violência apesar de reconhecer a sua necessidade. - Estando junto de você, tenho certeza que é mais que o suficiente para ele.

✮ Dante não fazia a menor ideia de como aquele relacionamento dos dois começara. Bom, na verdade sabia, seu quarto não era tão longe assim do de Lennart então escutara alguns sons algumas vezes. Mas quando passara de sexo casual para romance, ele não sabia dizer. Mas ficava muito feliz pelos dois. Conversara com seu pai e lera uma ficha sobre Lennart e alguns outros membros, gostava de manter-se informado afinal de contas, e certamente o assassino precisava de muito amor. ✮

- Aliados seus? - Assumiu Dante, levantando-se e passando seu braço pelo de Nymeria, com um sorriso doce nos lábios.

- Eu sei! Vocês formam um casal lindo!

✮ De certa forma, desde que vira os dois juntos caminhando pelos corredores e discutindo, o rapaz colocara na sua cabeça que eles iriam acabar juntos. Naquela época, até onde sabia, estavam apenas no sexo ainda não tendo nenhuma emoção envolvida e ainda assim ele acreditara firmemente naquilo. Talvez tivesse um bom olho para essas coisas. Claro, nunca disse isso para nenhum dos dois, não queria estragar nada. ✮

- Eu não estou preocupado, eu vou estar com você.

- É claro que vocês são!

✮ Não falava que estava seguro ao lado dela por Nymeria ser uma mafiosa ou por ela própria ter um segurança extremamente habilidoso, mas porque ela lhe passava uma certa sensação de tranquilidade. Apesar de ela ter uma atitude fria e neutra, isso era algo que Dante apreciava bastante nela. A garota era uma pessoa tão calculista, que quando Dante conversava com ela sentia como se nada pudesse dar errado. ✮

- Não tem problema, gosto de andar!

✮ O que era um fato, pois se havia algo que Dante gostava de fazer era andar. Ele ia de um lado para o outro a pé, sem nem mesmo se preocupar com o clima ou com a distância, apesar de que às vezes ele também usava o carro quando este estava disponível, mas sempre dependia muito do assunto em questão. No encontro com Hanna ele usara o carro, pois achava injusto sair com ela e nem ter como levá-la até o restaurante. ✮

- Quem é ela?

- Filha?

✮ Dante murmurou, um pouco incrédulo. Então a expressão dele alternou-se para uma claramente pensativa, ele não lembrava-se de ter visto Nymeria grávida, mesmo que não tivessem conversado muito naqueles últimos dias ele certamente se lembraria de ter visto ela com uma barriga. Mas não, não lembrava-se disso. Ela sempre fora aquela pessoa esguia. Logo pôde deduzir que se tratava de uma criança que ela adotara, quem sabe junto com Lennart. ✮

- Saquei.

✮ Dante ficou em silêncio por um tempo, tentando compreender aquela situação. Era uma pessoa inteligente e sempre fora rápido o suficiente para entender as coisas, logo pôde fazer algumas deduções sobre o motivo de Nymeria ter adotado uma criança, apesar de ser uma menor de idade. Desde que a vira, notara que a garota de cabelos brancos tinha muita compaixão por outros, mesmo que ela não gostasse de demonstrar isso ou até mesmo notasse que sentia-se assim. ✮

- Entendi. E como ela está? Ela está bem?

✮ Dante tinha em mente que Nymeria não era necessariamente uma pessoa compassiva ao extremo, até mesmo ele não era capaz de sentir compaixão ou piedade de certas pessoas, mas conseguia ver o bem em outras pessoas e notava que a sua amiga era capaz do mesmo. Imaginava que a vida que ela levara até então não fora muito boa e que provavelmente tivera incontáveis dias de sofrimento e dor, porém uma pessoa assim acaba sendo moldada de uma maneira única. Mesmo que Nymeria fosse uma pessoa fria, ela já demonstrara que era capaz de sentir carinho por outras pessoas e de compadecer-se por aqueles que estavam passando por situações similares as que ela enfrentara. ✮

- Vocês se amam, certo? Então são uma família. - Dante falou. - Se uma pessoa está passando por um momento de azar, significa que a sorte ainda vai chegar.