Aposentos do Lennart

- O mesmo vale para você, sabe disso né?

Apesar disso tudo, Lennart estava rindo com os comentários que ambos trocavam e ainda assim continuava a olhar apaixonado para ela. Era uma boa química, a que esses dois tinham. O rapaz adorava o modo como conseguiam brincar daquela maneira e ainda assim manter aquele amor ali. Era apenas algo para confirmar a certeza de que ele já tinha: ambos eram feitos um para o outro.

- Claro que pode - Lennart sorriu para Nymeria e para Dancer. Por mais que desejasse Nymeria, a ideia de dormir como uma família lhe era ainda mais atraente - Vamos dormir, sim?

Lennart sorriu para Dancer de maneira gentil e virou-se de costas, compreendia bem que a garota ainda tinha vergonha, apesar de ele ser o pai dela. Observou com um sorriso malandro conforme Nymeria trocava de roupas, apreciando o momento, apesar de não ser nada muito revelador. Ele retribuiu o abraço, ainda tendo aquele sorriso em seus lábios, quando aproximou sua boca da orelha dela, dando uma breve mordida no lóbulo dela.

- Vou estar no aguardo - Ele por sua vez nem se preocupou em por um pijama ou algo do tipo. Normalmente ele dormia sem roupas, mas podia abrir uma exceção naquela situação.

- Sabe que sou uma pessoa bem paciente.

Lennart sorriu, mesmo quando foi alertado de que Dancer havia terminado de se vestir. De fato, ele adoraria tirar todas aquelas roupas e simplesmente se afundar em Nymeria, como havia feito tantas e tantas vezes. Mas agora ele tinha uma família e deveria agir como um membro dela, principalmente quando era pai e marido. Pensou em como deveria agir, se talvez precisasse ser um pouco mais sério, ou um pouco mais brincalhão. Invariavelmente ele acabou por se lembrar de Sigmund e decidiu que iria agir como sempre agia. Não queria acabar sendo como seu ''pai''.

- Sim, tenho um longo dia amanhã - Lennart bocejou por um momento - O Sigmund pediu para eu checar algumas coisas para ele, que irão nos ajudar também. Algo sobre armazéns abandonados.

- Sempre vou ser paciente, quando você estiver envolvida - Lennart falou, sorrindo gentilmente no processo. Ele mal sabia que aquela frase cairia por chão nos dias que estavam por vir. Com o sequestro de Nymeria, ele ficara incontrolável, raivoso até, cometendo diversos erros durante todo o processo para salvar ela, erros que não cometeria se estivesse calmo.

Lennart já havia tirado da cabeça a ideia de dormir ao lado de Nymeria, como havia feito nas últimas noites. Ele até sabia que lugar Dancer iria escolher, era algo bem comum para uma criança, dormir entre os pais. Ele puxou os cabelos para trás e prendeu-os em um curto rabo de cavalo, era um costume que possuía para não acordar com seus cabelos em sua cara. Apesar de estarem longe de serem compridos, Nymeria deveria saber muito bem que o cabelo de Lennart era um verdadeiro símbolo do caos quando ele acordava.

- Sim, eu estava considerando justamente isso.

Shadow estava morto. Eles haviam ganhado. Mas, ao mesmo tempo, haviam perdido. Não haviam palavras naquele momento que pudessem ajudar Nymeria e Lennart sentia uma raiva enorme dentro de si por causa disso. Queria poder fazer algo, falar algo, mas não havia nada. Palavras possuem seu limite e sexo não é uma solução mágica para todos os problemas, como muitos pensavam. Ajudava a se distrair, porém não mudava o fato de que ainda havia um problema ali, um que não iria embora tão facilmente. Ele abriu a porta do quarto, seu braço envolvendo Nymeria, mantendo-a perto de si, mantendo-a segura. Ambos entraram.

Cansaço. Essa era uma palavra que definia Lennart. Ele estava cansado. Fizera tanto em tão poucas horas que pareciam meses. Apesar de seus ferimentos terem sido recuperados, de uma maneira da qual ele não aprovara, ainda havia um cansaço ali. Toda a tensão do sequestro de Nymeria, toda aquela ação da qual ele tomara parte e todo o estresse emocional se mantinham. Mas ele duvidava que aquilo fosse superar o que Nymeria sentia naquele momento. Nunca tivera uma mãe, pelo menos não que a conhecesse, e o relacionamento com seu ''pai'' era um saudável.

- Sente-se um pouco - Ele falou, quando chegaram na frente da cama - Descanse.

Lennart passou seus braços gentilmente entorno de Nymeria, aquecendo-a e tentando passar a ela uma sensação de proteção. Algo que pudesse acalmar aquela dor que ela sentia por dentro. Não podia dizer que entendia pelo o que ela estava passando, seria uma mentira, assim como não poderia dizer que tudo ficaria bem, quando não tinha como saber disso. Ele não podia mentir para ela, mas precisava fazer isso se quisesse ter uma chance de alegra-la ou ao menos de diminuir aquela onde de depressão que atacava a garota no momento. Tentou imaginar como seria se tivesse que matar John, que fora sua inspiração durante anos e mais anos e a imagem que se formou em sua cabeça não foi das melhores. Ele levou seus lábios até o topo da cabeça dela e depositou um suave beijo no local, conforme suas mãos faziam uma espécie de massagem nos locais onde estavam.

- Nym... Não, não fale isso - Ele não sabia o que falar, pela primeira vez ele estava completamente perdido - Você...Eu...Só; Não, okay? Você não cometeu um erro.

- Nym, não. Teria sido pior deixá-la naquele estado. Aquilo; Aquilo não é viver - Len continuava a acariciá-la.

Não sabia o que dizer nem por onde começar, não era capaz de compreender a dor dela, afinal ele nunca a sentira. Porém sabia que se Anya tivesse sido deixada viva, aquilo teria sido pior, aquela mulher havia enlouquecido além dos limites, com Nicolai aproveitando-se disso para vingar-se de Vladimir, uma vingança que veio vazia, pois por mais que isso tivesse afetado os Lindbergs, não havia chegado perto de afetar o líder deles, apenas a Nymeria. Isso o fazia ferver de raiva por dentro, pois o alvo de toda aquela enorme operação não tinha como ser atingido, pois aquele tipo de coisa não o feria. Lennart lembrou-se que tinha que preparar uma tortura especialmente cruel para esse homem. Nunca fora uma pessoa que gostava desse tipo de coisa, para ele bastava matar a pessoa e o problema estava resolvido, mortes lentas estavam acima dele. Porém, para aquele homem, Lennart abriria uma exceção.

- Você é sim, Nymeria. Você tem algo que ele jamais vai ter - Lennart ergueu suavemente o rosto dela, para olhá-la nos olhos - Você tem sua humanidade. Eu sou prova disso.

- Calma, calma - Ele falou, abraçando-a de forma apertada e afagando os cabelos dela.

Lennart se culpava pelo estado em que Nymeria estava, as tantas oportunidades que ele tivera para atirar em Shadow, porém não o fizera. Claro, matar a sua sogra não teria sido algo que melhoraria aquela situação, no final das contas Anya ainda teria se acabado daquela maneira e a dor viria em Nymeria. Mas aquilo acabara com ela tendo que matar a própria mãe. Lennart sabia bem que aquilo deveria doer, apesar de não ter como sentir dita dor.

- Não se preocupe, meu amor - O rapaz continuava a acariciá-la, gentilmente - Eu sei que dói, mas a dor não foi feita para manter intensidade. Uma hora ela vai diminuir. Você só precisa ser forte e aguentar. Você consegue isso, não consegue?

- Não, não vai. Edrik nunca vai te odiar - Ele falou com uma certeza que não era característica dele. Lennart estava acostumado a ver os múltiplos caminhos da vida, mas se ele tinha alguma certeza naquele momento, era que Edrik nunca seria capaz de completamente odiar Nymeria.

Não saber o que fazer era algo frustrante, todas aquelas habilidades que ele acumulou durante anos, toda aquela lábia e ele não sabia que palavras poderiam animar Nymeria ou ao menos tirar a mente dela daquela situação. Nem sabia se era certo fazer isso também, às vezes as pessoas precisam parar e pensar no que fizeram, refletir sobre isso e encontrar a saída. Talvez por aquilo também afetá-lo tanto, por ser tão próximo de Nymeria, ele não conseguia pensar racionalmente e muito menos emocionalmente.

- Eu nunca vou deixá-la Nymeria - Lennart depositou um beijo no topo da cabeça dela - Estarei ao seu lado até o fim dos tempos.

- Dê um tempo para ele ajeitar a cabeça, respirar um pouco. Amanhã você pode ir vê-lo, por enquanto quero que você descanse.

Lennart tinha uma ideia do que Edrik fora fazer, apesar de não ter certeza para onde ele fora. Apenas esperava que o rapaz não encontrasse conforto no fundo de uma garrafa, isso sempre arrastava as pessoas para o chão. Não conseguia vê-lo entregando-se ao álcool, mas o rapaz não se encontrava em uma situação onde poderia agir de uma maneira completamente sã, ainda haveria a dor do luto e da perda e isso poderia levá-lo a fazer algo do qual ele se arrependeria depois. Porém, só podia ajudar um dos gêmeos naquele momento, portanto apenas esperava que Edrik encontrasse alguém que pudesse ajudá-lo.

- Eu também te amo - O beijo que ele respondera fora um repleto de calor, carinho e paixão. Nenhum dos dois estavam em um estado onde sexo era uma possibilidade, porém não era só isso que havia no amor.

Ele queria confortá-la, fazê-la sentir-se querida e amada. Tentara transmitir tudo isso naquele beijo, para que Nymeria notasse que mesmo no fim do mundo, Lennart estaria ali por ela. Fosse na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza e na pobreza. Ele jamais deixaria o lado dela, estaria para sempre amando-a, mesmo quando as sombras caíssem, ou quando a luz decidisse sumir. O fim dos tempos poderia vir que Lennart iria garantir-se que Nymeria sobrevivesse.

- Precisamos mesmo - Ele riu baixinho - Vamos indo?