Recanto da Nymeria

- Humm, que tal essa?

† Ele apontou para uma música um pouco mais recente e também mais tranquila, não queria dar uma música para Nym que exigisse que ela acabasse esforçando-se demais, já que era a primeira vez dela em um karaoquê que começasse devagar e aos poucos fosse pegando algumas músicas de ritmo mais acelerado. Após apontar para a música, ele apoiou seu cotovelo na mesa e tomou um gole de vinho, antes de pousar seu queixo em sua mão e olhar para ela, sorrindo. †

- Bom, eu roubei corações com a minha voz, segundo você, então por quê não vai lá e faz o mesmo? - Ele levou sua mão livre para o rosto dela, acariciando-a suavemente. - Já roubou o meu, mas sei que vai roubá-lo de volta.

- Sempre.

† Ele falou, encaixando o pente em uma sub-metralhadora e checando a mesma, garantindo-se de que tudo estava certo. Edrik sempre fora um mistério para Len, o rapaz parecia trocar de máscaras com uma facilidade incrível e era certamente bem eficiente em suas missões, assim como Nymeria, mas diferente de sua namorada ele nunca conseguira ler ele. Natasha era o contrário, ele conseguia ler ela facilmente e tendia a saber o que ela planejava fazer que normalmente era algo violento, porém nenhum dos dois tomaria uma atitude daquelas, não no meio de uma missão. Se ambos haviam sumido e não haviam recebido nenhuma forma de comunicação de quem sequestrara eles, isso poderia dizer que quem quer que fosse estava esperando o momento certo. Lennart preferia não pensar na segunda opção. †

† Vestia-se com roupas escuras, próprias para a noite e para infiltrações, usava um colete à prova de balas por cima disso tudo o que era de se esperar da parte dele, trazia uma submetralhadora consigo, uma pistola na cintura, duas nas costas e uma mochila que possuía mais dois coletes para serem usados por Natasha e Edrik na hora da extração. Todas as armas estavam devidamente silenciadas, apesar de isto não significar muito dado o local para onde estava indo, mansões grandes normalmente serviam para ampliar o som de disparos, com silenciador ou não. Locais fechados e grandes eram assim, normalmente. Em sua testa ele tinha o que parecia ser uma bandana feita de metal, Nymeria sabia que tratava-se de uma das tecnologias da Casa e que, quando colocada na frente dos olhos, servia de visão noturna. Ele havia oferecido uma para ela também. †

- Vamos lá pegar eles de volta.

- Isso vem no pacote.

† Lennart brincou, porém era claro que só estava tentando acalmar os nervos de Nymeria. Estava indo lá com o desejo de vingança, mas diferente dela ele fora treinado para agir com foco durante operações, portanto tentar tranquilizá-la e garantir-se de que ela pudesse estar no mesmo nível de calma que ele era importante. Irônico, considerando que Nymeria era a mais calma entre os dois e ele perdera qualquer sinal de tranquilidade quando ela fora sequestrada. Ele deixou o quarto junto dela, passou a mão suavemente pelos cabelos dela e deu um beijinho na bochecha da mesma. †

- Não se preocupe, vamos resgatar eles e torturar o maldito que pegou eles.

- Sim, teremos mais cuidado dessa vez.

† Todo cuidado nunca é pouco e da última vez que decidira jogar a cautela para fora da janela, quase acabara morto. Melhor dizendo, ele morrera, mas fora trazido de volta à tempo. Sabia o desespero que isso causara em Nymeria e não queria nunca mais causar tanta dor dentro dela, queria ver ela sorrindo e faria o que pudesse para isso acontecer cada vez mais. Devolveu o selinho dela, sorrindo um pouco para Nymeria antes de apontar para um comunicador que estava preso no seu colete à prova de balas, mais especificamente perto do ombro. †

- Um grupo muito grande vai chamar atenção demais, mas caso algo aconteça eu vou chamar eles. Estarão por perto.

† Lennart segurou a mão dela, assentindo conforme caminhavam. Para ele seria preferível uma infiltração simultânea na mansão, algumas pessoas entrando pelo telhado, pelas janelas dos andares superiores e pelas janelas dos andares inferiores, porém não tinham esse número de pessoas. Apesar do Inverno Soviético ser bem treinado, eles eram treinados para destruir tudo por onde passavam e infiltrações como aquelas não eram o forte deles, a Casa também não poderia ficar emprestando seus melhores soldados para eles sem cobrar algo, isso criaria uma imagem ruim entre o resto das máfias. †

- Me cubra. - Ele disse, erguendo sua submetralhadora e indo cautelosamente até a porta da frente, havia uma janela por onde poderiam entrar sem fazer muito barulho se necessário fosse. E aparentemente não era, ele puxou a maçaneta enquanto mantinha a arma apontada para a entrada e a porta abriu-se suavemente. Não havia ninguém ali, um bom sinal. Lennart entrou, passando por cima de uma madeira que deveria ter sido usada para trancar a porta pelo lado de dentro e fez uma rápida checagem no lugar. Abaixou a bandana para a frente de seu rosto, a visão noturna ativando-se. Sussurrou para Nymeria logo em seguida. - Limpo.

- Talvez devesse ser você...

† Ele respondeu aquilo com um leve toque de humor, assim como Nymeria. Apesar de em todas as operações que fizeram juntos ela ter sido quem liderava e era a primeira a avançar, daquela vez Lennart não queria arriscar e preferiu mantê-la atrás de si onde ela estaria mais segura contra outros ataques. Melhor dizendo, ele poderia proteger ela caso algo avançasse contra eles. Sabia que ela não aprovaria desse tipo de pensamento, mas era o instinto dele como namorado falando mais alto. †

† Lennart apertou um botãozinho ao lado do cano de sua arma e um pequeno laser surgiu, para ajudá-lo a mirar. Apesar de Nymeria poder ver o traço com certa facilidade, isso se dava por conta da visão noturna que agora estava ativada, para qualquer outra pessoa aquilo seria praticamente invisível. O alcance não era muito longo, mas isso era para evitar que alguém visse a ponta da mira contra uma parede por exemplo. †

- Provavelmente deles, mas vale a pena checar. - Ele então se colocou novamente na frente de Nymeria, começando a subir a escada lentamente. No topo ele mirou para a esquerda, onde haviam um monte de portas fechadas e então para a direita, que possuía mais portas fechadas e uma aberta. - Para onde acha melhor ir?

- Entendido.

† Lennart virou-se para a direita, a arma ainda apontada para frente conforme avançava pelo corredor. Era notável o quanto ele mudava quando estava em alguma operação, sempre levava algum equipamento que desse uma vantagem para ele sobre inimigos, sempre tão preciso na forma como se movia e como virava nos corredores. Resultado de anos de treinamento, assim como uma leve modificação em seu corpo feita pela Casa, ele fora feito para ser um soldado exemplar e superior aos demais portanto não era nenhuma surpresa que ele agisse de tal maneira. Mas a diferença entre o normalmente relaxado Lennart para o Lennart em missão era como dia e noite. Ele aproximou-se do local com a porta aberta, empurrando-a levemente para que a mesma se abrisse totalmente, enquanto mantinha sua arma apontada. A luz estava apagada, mas conseguia ver um interruptor. †

- Eu ouvi rumores de um culto na cidade, mas... - A mesa que possuía símbolos e manchas de sangue, os livros e as velas... Tudo aquilo parecia indicar um ritual.

- Sacrifícios deixam implícito que quem os fez poderia colocar um valor monetário na vida humana.

† Nymeria não estava sozinha, Lennart detestava esse tipo de coisa apesar de raramente encontrar algo similar. Durante algumas operações para os próprios Lindbergs ele acabara entrando no que deveria ser um templo para qualquer porcaria que estivessem cultuando, esses locais sempre demonstravam uma falta de humanidade enorme. Era estranho pensar isso, dado o fato que sua profissão envolvia matar pessoas, chegava a ser algo como ''eu sou ruim, mas nem mesmo eu faria algo assim.'' pelo menos esse tipo de pensamento ajudava ele à julgar essas pessoas. †

- Qualquer que seja a resposta, creio que eles estiveram aqui. Rastros de passos na poeira do chão, passos que não são nossos. - Lennart falou, ele mantinha a arma apontada para o chão, mas estava voltado para a porta pronto para erguê-la e disparar.

- Eu tenho a impressão que qualquer sacrifício que ocorreu aqui não foi voluntário.

† Lennart não pareceu notar que a última frase de Nymeria se aplicava ao império Lindberg, em tempos passados provavelmente teria notado e feito um comentário sarcástico, mas agora ele era um dos que oferecia sua vida de bom grado para aquela família, apenas por conta de Nymeria é claro, porém oferecia. Também havia o Inverno Soviético, que também fazia aquilo por querer. Na verdade este último era um grupo tão grande e com um poderio tão vasto que já poderia ter deixado os Lindbergs para trás, formando sua própria família ou seu próprio bando de mercenários e seria difícil derrubá-los. Eles escolhiam o sacrifício. †

- Sótão. Tem uma porta mais na esquerda que parece levar para o sótão, e bem... Todo mundo procuraria no porão, pode ter armadilhas lá.

- Certo.

† Não gostava da ideia de deixar Nymeria ir na frente, porém contava que sua reação seria rápida o suficiente para derrubar qualquer coisa que decidisse avançar contra eles. Na primeira e única vez que encontrara Akira Lennart acabara deixando seu emocional levar a melhor e quase morrera devido aos cortes gerados pelo outro, agora que tinha um pouco mais da sua mente sob controle ele esperava não ter que entrar em um confronto com o outro, havia algo estranho sobre ele e Lennart odiava o que não conseguia entender. Se fosse necessário um combate entre eles, Lennart iria garantir-se que daquela vez fosse sair vitorioso. †

- Abra devagar. - Lennart falou, assim que chegaram em frente à porta que levava ao sótão.

† A reação de Nymeria fora súbita, era de se esperar que Lennart no mínimo agisse de maneira surpresa conforme ela disparava por cima de seu ombro, tudo o que ele fez porém foi girar em seus calcanhares logo após o segundo tiro passar por ele e apontou a arma na direção do final do corredor enquanto recuava para emparelhar-se com Nymeria. Ligou novamente o dispositivo ao lado do cano da arma e o pequeno ponto verde firmou-se no que seria o corpo de Akira, mais especificamente seu tórax. †

- Vou adiantar as perguntas, onde estão eles e por que os capturou?

- Talvez eu esteja superestimando você, mas duvido que tenha matado aqueles dois. Seria estupidez e algo completamente desnecessário. Só nos diga aonde eles estão para pegarmos eles e aí você volta a fazer as suas coisas.

† Enquanto Nymeria e Akira trocavam palavras a mira de Lennart havia subido e fixado-se na cabeça do inimigo. Por conta de quem o outro rapaz era, ele não podia simplesmente puxar o gatilho e dar aquilo por acabado, precisava limitar-se às suas palavras e apesar de isso ser uma especialidade sua ele sabia bem que com pessoas como Akira não era tão fácil assim convencê-las de fazer algo que parecesse favorecer apenas um dos lados. Porém, se Lennart estivesse certo, Akira notaria que aquilo favorecia ambos sem nenhum deles saindo como perdedor. Uma vez que tivessem resgatado Edrik e Natasha, os dois iriam sair dali e deixá-lo aos seus afazeres e ele poderia agir sem interrupções como aquela. Mantinha apenas uma mão na arma, firmemente apontada para Akira enquanto a outra ia para o comunicador que havia em seu ombro e pairava ali, apenas um aperto e todo o Inverno Soviético estaria sobre aquele local. Porém preferia manter aquilo pacífico. †

† Nymeria havia se tornado uma mestra em ler as expressões de Len desde que ambos começaram a se relacionar de uma maneira mais romântica, e no que conseguia ver do rosto dele poderia ver que ele estava em conflito, por um lado ele queria aproveitar a vantagem numérica e mandar aquele maldito pra vala, por outro eles tinham que prezar pela relação entre a Yakuza e os Lindbergs. A missão de Edrik não deveria nem ter acontecido, porém não é nenhuma novidade que criminosos agem pelas costas um do outro, porém a resposta de Akira em tomar o filho de Vlad como refém era igualmente desproporcional. Por fim Nymeria viu derrota no rosto de Lennart, ele sabia que ela não iria desistir daquela ideia e apesar de ter plena consciência que ela era extremamente habilidosa com a espada, ele simplesmente não queria gastar aquele tempo com duelos que poderiam acabar com ela ferida. †

- Certo, antes de começarem esse seu duelo, eu quero ver o Edrik e a Natasha. Preciso ter uma confirmação de que estão vivos e não correm perigo.