Pela Tristeza Pesar

- Arranjo uma para você. Se quiser, é claro.

♙ Maxwell era uma pessoa instável, algo que Melissa já compreendia bem desde que o conhecera. Meses atrás ele tentava convencer a si mesmo de que era uma criatura insana e pagã, que seu passado era risível e que nada poderia ser feito para acalmar a dor que ele sentia dentro de si, depois disso virara uma pessoa completamente abalada, cada dia era um motivo de tristeza e assim seguiu até que teve um surto. Foi um milagre ter aguentado aquilo, foi com muita dor que se rompeu o casulo que o prendia e o Maxwell atual saiu dele. Cada aspecto dele agora era como ele deveria de ser. Não estava curado e essa nova forma nem era necessariamente boa, mas agora ele estava mais calmo e havia encontrado alguém por quem poderia se dedicar completamente. Sim. Tudo por ela. ♙

- Não se preocupe, uma vez que uma imagem entra na minha mente ela não sai nunca mais. É uma benção e uma maldição.

♙ Ele piscou um dos olhos para ela, um sorriso embaraçado surgiu em seus lábios ao ser chamado de artista. De fato era um, mas sua principal área, que era o desenho, ele não possuía muito reconhecimento. De fato tinha suas roupas desenhadas, mas não era isso que ele queria. Ele queria algo que pudesse colocar em sua parede, um desenho que representasse tudo o que ele sentia e tudo o que ele desejava colocar para fora. Certamente iria sair como algo perturbador. ♙

- Adoro te deixar curiosa. - Maxwell riu um pouco, então coçando seu queixo. - Vamos sentar e comer então.

- Tipo isso. E certas imagens não são nada bonitas também, o mundo não é só feito de beleza afinal de contas.

♙ Ele fechou os olhos momentaneamente enquanto permitia que ela mexesse com o seu cabelo, havia feito isso muitas vezes antes de dar o pulo no tempo. Céus. O pulo no tempo. A presença de Melissa era tão confortante que ele quase esquecera por completo do motivo de tudo aquilo estar acontecendo, ele só tinha alguns dias para salvar Melissa e evitar que aquele futuro catastrófico realmente ocorresse. Não era errado aproveitarem aquele dia, mas logo na manhã seguinte precisaria começar a trabalhar arduamente em limpar aquela cidade dos cultistas e de Hans. Tudo precisava ser eliminado. Nada poderia ficar em seu caminho. Por isso precisaria ser rápido e preciso, caso contrário perderia a oportunidade que ganhara, realmente duvidava que tivesse chances infinitas naquilo tudo, e mexer demais com o tempo nunca é bom. ♙

- Eu diria que nas noites até então eu tenho atiçado a sua curiosidade, mesmo com você sabendo o que vai acontecer. - ele aproximou sua boca da orelha dela. - Como uma gatinha curiosa, avançando na minha direção.

♙ Maxwell deu uma mordidinha no lóbulo da orelha de Melissa e então deixou que ela fosse terminar de colocar as coisas em cima da mesa. ♙

- Não, isso aqui está ótimo. Seu café é excelente, não sei se já disse isso.

- Obrigado por isso, querida.

♙ Era correto chamá-la de querida? Não tinha certeza se o fizera antes de começarem um relacionamento e como estava buscando evitar completamente que aquilo acontecesse, talvez fosse melhor cuidar mais das palavras que deixavam a sua boca. Tempo. Cruel e impiedoso, lutar contra o tempo era o mesmo que lutar contra a existência em si, contra a natureza de tudo aquilo que era e que um dia seria, era encarar o destino no rosto e estar disposto a alterá-lo conforme achasse melhor. Maxwell duvidava de suas forças para tal coisa, não era de muito uso no Tabuleiro e até mesmo na vida real não era uma pessoa assim tão poderosa. Sim ele podia surrar outras pessoas se bem desejasse, não era indefeso, porém não era de força física que era necessário para ganhar aquela luta, precisava de força de espírito e força mental. Claramente ambas estavam em falta. O toque de Melissa era tão acolhedor que fazia com que sua alma se incendiasse, ele era a gasolina para o fogo dela, se precisasse enfrentar o tempo, então o faria. Se precisasse alterar o destino, também o faria. As palavras de antes, de observar as imagens que ele produziria eram prova o suficiente de que eles estavam conectados por um fio que jamais seria partido. ♙

- Maxwell, o audacioso. É um bom título. - as sobrancelhas de Maxwell se ergueram levemente logo em seguida, conseguia sentir um arrepio percorrendo todo o seu corpo. - Isso foi... incrivelmente sexy.

♙ Todo toque era familiar e ao mesmo tempo estranho, era como se seus corpos descobrissem um ao outro novamente a cada vez que se encontravam. Era uma dança selvagem a que possuíam, possuía diversos ritmos e diversas formas, a partir do momento que começavam a sentir a presença um do outro eles se aproximavam e as chamas ardiam, até mesmo as sombras produzidas dançavam sua própria dança. Maxwell era filho da lua de certa maneira, como um artista ele funcionava melhor à noite e seus melhores projetos vinham no tempo noturno, então não era surpresa que sua dança se tornasse ainda mais presente durante a noite, Melissa certamente notara, seu toque se tornava mais presente, seus olhares eram mais intensos, tudo sobre ele vinha à tona durante a noite. Agora, durante a manhã, a dança se iniciava mais uma vez com os toques que trocavam e algo dentro de Maxwell urrava, pois ele sabia que ambos estavam se contendo. Ambos sentiam algo que não estavam deixando surgir por conta de seus próprios medos. Em seu devido tempo ele retornaria para o seu real lugar ao lado dela. Por enquanto, só precisava aguentar firme. ♙

- Estou perto de um coração selvagem, então. Bem, não é como se eu não tivesse notado isso antes. - ele pegou a xícara de café e inspirou o aroma, era forte visto que ambos bebiam de um café mais pesado, porém havia algo de especial nele, estava no sabor. Difícil saber se era algo real no café ou apenas o coração apaixonado de Maxwell transformando tudo o que ela produzia nos mais refinados gostos e sensações. Tomou um longo gole e abriu um sorriso satisfeito. - Aceite mais este, então. Seu café ficou perfeito.

- Combina, não é? Considerando o tanto de problema que eu arranjo, precisa de muita audácia mesmo. - ele riu descontraidamente, olhando por cima de seu ombro e para a janela. O dia estava claro, um contraste perfeito com os dias que passara sem Melissa ao seu lado. Não era que os dias não possuíssem sol, era que tudo perdera a sua cor e seu brilho, tudo se tornara tão... insuportável. O comentário dela puxou sua atenção novamente, fugindo do devaneio sobre o passado... ou seria o futuro? Não, certamente não seria o futuro, estava ali para impedir isso. - Difícil dizer. Até quando briga comigo fica mais bonita que todas as garotas que conheço.

♙ Era retórica, mas ele respondeu mesmo assim. Era realmente difícil de se controlar perto de Melissa, sua outra metade era intimidadora para outras pessoas por conta de seus modos, mas eram justamente essas coisas que a tornavam tão sedutora aos olhos de Maxwell, algo que soaria estranho para os demais se fosse dito em voz alta e que era plenamente claro para os dois, Maxwell gostava dos rompantes de fúria de Melissa, tanto por saber como acalmá-los como por gostar de ver o fogo que havia nela arder. A vontade era a de se levantar daquela cadeira e segurá-la em seus braços novamente, sentir o calor do seu corpo, a maciez de sua pele e a doçura de seus lábios. Maxwell sabia que não seria nada tradicional, mas eventualmente se casaria com ela, disso tinha certeza. Queria as alianças nas mãos, queria ver a reação dela ao ser chamada de esposa, queria sentir o calor encher seu corpo toda vez que fosse referido como marido dela. ♙

- Não sou cego, na verdade tenho olhos bem observadores. E ultimamente tudo o que eles observam é você. - tomou mais um gole do café, aproveitando o gosto forte que sentia invadir o corpo, assim como o calor transmitido pelo líquido. - É do meu feitio apreciar aquilo que tem origem em você sem moderação alguma.

♙ Saciaram sua fome logo em seguida, mas estava claro que ambos ainda mantinham os pensamentos um no outro. Apesar de seus flertes e da clara vontade que possuía de estar do lado de Melissa, fosse romanticamente ou não, na mente de Maxwell ainda se repetiam cenas daquilo que um dia fora sua maior maldição. Ele foi até o banheiro em determinado momento e trancou a porta, apoiando as mãos na pia e olhando fixamente para o espelho na sua frente. Sentiu um súbito enjoo e cobriu a boca com uma das mãos, seu corpo começou a tremer e certas sensações começaram a voltar. Ele olhou para as suas duas mãos e a imagem de Melissa sendo apoiada por elas enquanto sua pele empalidecia retornou para a sua mente. Um riso juvenil alcançou seus ouvidos, porém ele sabia que não havia ninguém rindo naquela casa. ♙

- Max... por... favor... - a voz de Melissa veio, trazendo consigo as lágrimas de Maxwell. - Está... frio...

♙ Ele enxugou as lágrimas, sem deixar elas escorrerem pelo seu rosto e girou a torneira, abaixando o rosto e o lavando na água que saía. O enjoo ainda permanecia em seu corpo, porém estava diminuindo aos poucos, pelo o que se lembrava daquele dia ele teria o dia inteiro para passar com Melissa e no dia seguinte Amenartas chegaria e então ele poderia aproveitar para conversar com ela sobre o que precisava ser feito para salvar a vida de Melissa. Ele desligou a torneira e olhou no espelho novamente, ergueu o dedo mindinho, primeiro ele eliminaria Hans, garantindo que o assassino de Melissa nunca chegasse nela, o dedo anelar subiu logo em seguida, ele precisaria eliminar o culto para poder remover o envolvimento de Melissa da equação e por fim o dedo do meio subiu, ele precisaria se livrar de Ishmael para garantir que nenhum mal viesse até Melissa. Enxugou seu rosto e voltou para o lado de Melissa, para terminar o seu café. Desde que ela pudesse viver, ele faria qualquer coisa. Um mundo sem Melissa não era um ao qual ele queria pertencer. O dia se passou tranquilamente, com os dois aproveitando o tempo livre para passar o tempo preguiçosamente um ao lado do outro. O dia seguinte veio e Amenartas logo deveria chegar. ♙

- Surpreendente eu sei, mas tenho algumas coisas importantes para falar. Essas noites que passei fora foram bem aproveitadas. - as mentiras começavam ali e teriam que seguir seu curso por um bom tempo se ele quisesse manter Melissa segura. Ela poderia odiá-lo depois, poderia deixá-lo, mas ao menos estaria viva. Ele sempre guardaria as memórias daqueles dias consigo, dos dias em que foram um casal e em que ele parecera estar em seu próprio paraíso.

♙ Estava disposto a cair. No passado se comparara à um demônio, comparara sua vida ao próprio inferno e tudo o que sofrera fora obra do diabo. Agora sabia que havia de fato um culpado na forma de Ishmael que continuava a tentar roubar o que era precioso para Maxwell, certamente ele fora apenas uma das várias vítimas dele ao longo dos séculos, mas não estava prestes a deixar que isso fosse adiante, seria a última vítima e livraria aquele mundo daquela criatura. Por Mel. Fazia tudo por ela e por seus amigos, para que pudessem viver suas vidas e continuassem a serem as pessoas incríveis que eram. Porém quando olhava para si mesmo via apenas um projeto de rosa, murcha e marrom, caindo aos pedaços e que seria destruída com qualquer vento que viesse. Havia apenas uma pétala boa, que ainda resistia contra tudo o que havia ao redor dela, essa pétala era cuidada por Melissa. Estava disposto a deixar essa última pétala cair se isso significasse que ela poderia seguir em frente. ♙

- Boa noite! - falou Maxwell, sorrindo tranquilamente. Aquela Ame não havia enviado Melissa para investigar o culto, então não fazia sentido culpá-la. Não a culpara totalmente na linha do tempo original também. - Não está atrapalhando nada.

♙ Não podia mentir, sentiu uma pontada de ciúmes quando ouviu aquilo principalmente por nem saber de quem se tratava, talvez se soubesse tivesse a mesma reação, de qualquer forma ele sentiu aquele leve aperto no seu coração e se esforçou para afastar os sentimentos antes que ficasse óbvio que ele conseguia ser ciumento, mesmo que não estivessem namorando. É uma sensação esquisita, ele sabia que no futuro estariam juntos e seriam felizes, mas ao mesmo tempo como tudo estava mudando por conta da viagem no tempo ele não sabia dizer exatamente até onde essas mudanças iam. Estavam apaixonados um pelo outro, esse tanto era claro para qualquer um que olhasse para eles, então não era como se algo fosse acontecer. Ainda assim, ele sorriu, um sorriso que deixava bem claro o que ia acontecer. Ele parou ao lado de Melissa, passando seu braço pela cintura dela e depositando um leve beijo no pescoço dela. ♙

- Eu fico morrendo de ciúmes. Imaginar você com outro parte meu coração. - falava de um modo teatral e dramatizava todos os seus movimentos. Ele passou sua mão pelo queixo de Melissa, deixando o dedo indicador e o do meio apoiados ali, erguendo levemente o rosto dela. - Não me deixaria, não é?

♙ Era fácil falar aquilo já que possuía um toque de verdade, seu coração realmente se partia quando ele pensava que não poderia ter seu futuro perfeito com Melissa, ele realmente sentia ciúmes quando certas coisas eram ditas e do fundo do seu coração pedia para que Melissa nunca o abandonasse. Mas também não podia dizer que essas preocupações eram a única coisa que ele tinha em sua mente, em parte porquê sabia que Melissa era uma pessoa determinada e que quando se apaixonava por algo ia até o fim, foi assim com seu talento para com automóveis, foi assim com ele no futuro que se tornara passado. Era um dos pontos que tanto adorava dela. ♙

- Gosto de ver você vermelha assim. - ele estava perdido nos olhos dela, acariciando suavemente o rosto de Melissa. Subitamente foi lembrado de que não estavam sozinhos e pigarreou. - Enfim, temos coisas importantes para falar.

- Eu já estou morrendo de amor. Como posso conter esse amor que sinto dentro de mim? Seria embaraçoso admitir, mas dói não deixá-lo livre. Você roubou meu coração, Melissa Carter. - ele levou as costas das mãos até a testa e com a outra mão apoiou-se no ombro de Melissa, descendo para trás em uma pose extremamente dramática e exagerada. Soubesse ela que tudo o que ele estava falando era verdade, provavelmente notaria que a atuação dele estava fluída demais para alguém que estava fingindo ter todos aqueles sentimentos. Não. As palavras soavam honestas por serem honestas. - Então jamais me deixe. - Max endireitou-se novamente e levou sua boca até o ouvido dela. - Devo buscar as alianças agora ou depois?

♙ Ela o chamara de querido. Como sentira falta disso, dessa voz tão maravilhosa emitindo aquela palavra que alcançava seus ouvidos e o aquecia por dentro, fazendo cada veia de seu corpo acender-se com a chama que vinha dela. Foi ali que notou que havia se apaixonado por ela muito antes, antes de vir morar ali, talvez até mesmo antes da primeira vez deles, ele sabia que era o jeito como Melissa se portava que o atraía, era fogo verdadeiro e caloroso, mas mesmo que para muitos se manifestasse como uma tempestade de labaredas, Maxwell a via se manifestar como uma fogueira na qual podia aproximar e se aconchegar. Era verdade que gostava de atiçar aquele fogo, usar da sua gasolina para fazer ela inflamar-se e alcançar os céus, mas apreciava ainda mais os momentos quietos ao lado dela. Quando estavam deitados olhando para a tela do notebook assistindo uma série qualquer, os momentos durante a noite onde se abraçavam e aproveitavam da companhia do outro. Era esse lado dela que o atraíra e todo o resto o convencera a ficar, adorando a chama que se chamava Melissa. ♙

- Eu tenho algumas coisas para falar também, mas vou deixar que conversem primeiro. Se, por algum acaso, eu ver que tem a oportunidade certa para eu entrar com o meu assunto na conversa, eu aviso.

♙ Maxwell subiu primeiro e assim que chegou no andar de cima onde a sala ficava ele pôde notar que a cama ainda estava desarrumada e apressou-se para arrumá-la. Não era o tipo de bagunça que ficava após um casal fazer amor vigorosamente por algumas horas ou até mesmo algo que surgia após um tempo de carícias mais lentas, então não era como se estivesse com vergonha de que Ame fosse ver aquilo e fazer algum comentário que colocaria os dois em cheque, era apenas uma mania que adquirira e que Melissa viera a conhecer bem no tempo em que Maxwell passara ali. Ele só queria ver a cama desarrumada se fosse para desenhá-la desarrumada. Haviam passado uma noite boa juntos, mas definitivamente estranha para Melissa, apesar de terem os beijos e os toques que geralmente ocorriam, ela poderia notar como Maxwell estivera mais interessado em deixar suas mãos percorrerem a extensão que ele conseguia alcançar do corpo de Melissa. Estava se garantindo de que ela era real, de que ela estava ali. ♙

- É real ou não é? É atuação ou é sinceridade? - ele provocou, ia dizer mais algumas coisas, mas se o relacionamento deles realmente era um fator para adiantar a morte de Mel, era melhor se segurar ali. E é claro que no momento que pensava nisso, Mel jogou aquela provocação final. Ela sabia, ele sabia, Ame sabia, todos sabiam que provocar Maxwell daquele jeito era pedir para ele aumentar o nível das provocações. Por sorte, tinham visita, então mesmo que dentro de seu estômago ele sentisse um frio característico se acumulando e a vontade de aquecê-lo com Melissa, ele se conteve. - Vou me comportar, prometo. - Max deu uma risadinha e deu um beijinho na bochecha de Mel, levando sua boca até a orelha dela. - Depois que ela sair.

♙ Realmente, agora poderia falar com toda a certeza do mundo, que ele estava de volta no paraíso. Não seria possível ter uma sensação daquelas enquanto estivesse naquele inferno de futuro, aquele misto de excitação com uma mente nos ares era algo que somente a Melissa real poderia proporcionar. Bem, ela e a sua versão Cognitiva, mas ela não entrava na conversa ainda. Queria apertá-la, mordê-la e ser mordido, tê-la em seus braços por toda uma eternidade breve de prazer e amor. No momento não podiam fazer tal coisa, mas estaria no fundo da mente de Max, ele precisava do calor que Mel lhe provia para afastar todos aqueles dias que passara sem ela, sem esperança de fazer algo melhor com sua vida, sem esperança de salvar aquela cidade. ♙

♙ Maxwell sentou-se na cadeira e ficou em silêncio, sabia que investigação era, sabia exatamente o que aquilo levaria Mel a fazer e a vontade de dizer para Mel não aceitar era tão grande que ele abriu a boca para fazer isso, mas seus lábios se selaram novamente. A decisão era dela, se aquela conversa realmente tomasse o rumo que ele esperava e ele pudesse adicionar as suas informações para a mesa, era ainda dela aquela decisão. Só queria se garantir de que ela estaria mais informada e que entendesse que não precisava se envolver para garantir que aquela cidade estivesse à salvo. ♙

♙ A expressão de Max foi uma de tranquilidade pela maior parte do tempo desde que Ame chegara, havia o ocasional nervosismo, mas parecia estar se segurando bem. Mas não haviam máscaras existentes para bloquear a expressão que ele fez quando os sacrifícios foram anunciados, sua boca se contraiu e tremeu um pouco, os olhos pareceram afiarem-se conforme ele mantinha o foco total voltado para Ame, foi possível escutar a respiração dele sendo puxada lenta e firmemente. Aquilo estava longe de ser o mais puto que Maxwell já estivera em toda a sua vida, esse prêmio ainda permanecia com o dia que jamais poderia acontecer, mas era notável a fúria do artista. Ele passou a mão direita pelos próprios cabelos, chegando na base da nuca e coçando o local enquanto engolia em seco, sua barriga parecia estar vazia naquele momento e era a sensação como quem desce rapidamente de carro por um morro íngreme. Inspirou mais uma vez e permaneceu em silêncio. ♙

♙ Quando Ame mencionou que parecia algo que algum adolescente inventaria para tentar soar sombrio, um sorriso cruzou seus lábios, ainda que brevemente. Sim, por anos acreditara que Ishmael era uma invenção de sua cabeça, um bode expiatório para quem ele poderia jogar toda a culpa que sentira pela morte da mãe. Mas era real. Não só interagira com ele, como ouvira dele que cada crime que cometera era um passo no seu caminho para a evolução. Max não gostava de pensar nos outros locais em que estivera com Ishmael, certamente teriam muitos corpos neles e o sangue estaria nas mãos de Maxwell. Por fim colocou as mãos em cima da mesa, unidas. ♙

- É bom que eu esteja aqui. Eu e meu irmão estamos investigando essa seita. Sinto muito, não queria mentir para você. - ele adicionou, olhando para Melissa. - A gente está procurando nosso pai também, mas é algo que fazemos quando temos algum avanço significativo na pesquisa sobre a seita. Nós começamos isso porque... veja bem, não é que ela tenha se iniciado em Heaven's Gate, mas ela teve sua presença lá. É bem provável que essa seja a seita que levou minha mãe ao suicídio e enlouqueceu o meu pai. - Maxwell olhou para cima, pensando em coisas para adicionar. - Eu não sei o que o meu irmão faz de trabalho, ele se recusa a me contar. Mas ele é bom em investigar, em entrar em locais sem ser percebido e em seguir pessoas sem ser notado. Ele conseguiu reunir algumas informações importantes sobre esse culto. Eles estão infiltrados em todos os níveis da sociedade. Todos. Desde o político corrupto até a velhinha boazinha que mora na esquina, não há exceções. Isso tudo o que disse até agora é verdade, mas nessa próxima parte eu não tenho provas concretas para apoiar meu argumento.

♙ Maxwell levou uma das mãos até a de Melissa, segurando-a fracamente. Olhou bem para ela, olhou para o ponto onde a bala havia atingido ela. Não fosse o olhar sério dele poderia parecer que ele perdeu o fio da meada ao olhar para os peitos dela. Mas logo ele tornou os olhos para Ame com a maior seriedade do mundo. ♙

- Sei que é uma acusação pesada, mas me ouça. Eu não sei o que ele faz para vocês, se é agente, espião, vendedor de leite, sei lá. Só sei que muitos lugares que meu irmão investigou tiveram a presença de Hans ao mesmo tempo que outros cultistas estavam lá. Eu sei que ouvir alguém dizer que seu amigo trabalha para o inimigo não é algo aceitável, muito menos quando eu não tenho nada para oferecer como prova, a não ser que marcas de botas e fios de cabelo sejam o suficiente. O que acho que não são. - Maxwell abaixou os olhos, não aguentaria ficar olhando para Ame após chamar um dos membros do grupo dela de traidor. - Eu quero acabar com essa seita, mais do que qualquer um. Então estou compartilhando minhas suspeitas como sinal de boa fé. Eu e meu irmão armamos um plano para reunir essa seita em um lugar só e eliminá-los de uma única vez. Talvez queira investigar seu amigo e entender o por que de ele estar junto dessas pessoas. Não posso prometer a segurança de ninguém associado à eles quando o plano entrar em ação.