Recanto da Melissa

- Heróis são ótimos! - Dante ajeitou-se no banco, conforme falava isso. Ele era fissurado por heróis, tanto os da DC como os da Marvel, até mesmo se inspirando em alguns na hora de agir. Dante coçou sua bochecha, subitamente envergonhado por falar de Hanna. Na verdade, Melissa poderia notar, que Dante demonstrava muitas características de alguém... Apaixonado.

Dante sabia pouco do relacionamento de Mel com o Maxwell, apenas o que escutara e o que o próprio Max lhe falara. Alguns amigos seus lhe contaram que haviam escutado sons vindos do quarto de Max, quando a Melissa estava lá. Dante sabia bem o significado disso e considerando o tanto de garrafas de bebidas alcoólicas que haviam no quarto de Max, ele conseguia criar uma imagem de como aquilo ocorrera. Porém, não queria falar sobre aquilo com Melissa, pois seria um assunto constrangedor.

- Como é que é? - Os olhos de Dante brilharam, conforme ele se virava para Melissa - Você quer comer coisa gordurosa depois de correr? - Ele segurou o pulso dela e levantou-se, puxando-a junto e a carregando para dentro do shopping - Vai comer comida saudável sim senhora! - O rapaz olhava para os lados, buscando uma lanchonete ou restaurante mais saudável, daqueles que vendiam comidas fits - Onde é que já se viu, comer coisa gordurosa depois de um exercício. Eu mereço mesmo.

- Qual o seu favorito? - Os olhos de Dante brilhavam ainda mais, ele adorava o assunto de heróis, assim como adorava saber o que as outras pessoas achavam sobre ditos heróis. Eles eram um conceito muito fantasioso, apesar de existirem pessoas que possam ser chamadas de heróis, nenhum delas veste uma fantasia e tem super-poderes.

O modo que Dante amava Hanna era algo diferente do modo que ele amava Melissa. Mas isso não queria dizer que ele a amava menos, Melissa era uma pessoa que ele amava profundamente, ela o ajudara a sair de um buraco escuro e assustador, onde o próprio Dante não conseguia ver a saída. Mas Melissa o ajudara e ele a amava tanto por isso. E fazia questão de que ela soubesse disso também, fosse pelo afeto que demonstrava ou pelos seus gestos e cuidados com ela.

- Sim, eu sou uma mãe. Me obedeça!

Dante continuou a puxar ela pelo shopping, uma cena até engraçada de se ver para quem conhecia os dois. A grande e assustadora Melissa sendo arrastada pelo pequeno e adorável Dante. Quando ela parou e se firmou, Dante parou também e olhou para o restaurante de comida vegana. E Dante torceu tanto seu nariz para aquilo que ele poderia ficar daquela maneira de forma permanente.

- É pra comer comida saudável, não comida ruim - Ele, dessa vez, deu um puxão mais gentil e continuou a carregá-la pelo shopping, até encontrar um local que vendia comidas fits, feitas para pessoas que se exercitavam, malhavam e etc - Aqui serve.

- É, eu pensei que fosse ele mesmo! - O rapaz ainda sorria animadamente, ele fizera rapidamente a ligação entre Melissa e o herói, ou seria anti-herói? No final das contas, as semelhanças estavam ali, claro que ela não era 100% igual ao James Howlett, isso faria dela uma pessoa quase animalesca.

Era difícil encontrar uma pessoa a qual Dante não gostasse, bastava apenas conversar com o rapaz e ele já se apegava. Porém, haviam pessoas das quais ele nutria certo desgosto, principalmente aquelas que agiam de uma forma tão moralmente errada que era impossível não atraírem ódio. Por essa linha de pensamento, seria uma certeza de que Dante não gostava de Maxwell, uma pessoa que atraía ódio para si. Mas o loiro vira através das máscaras dele facilmente, e sabia o quão danificado o outro era. Para Dante, Max não era um alvo de desgosto, mas sim uma pessoa que deveria ser ajudada.

- Se você me obedecer, penso no seu caso - O rapaz deu uma breve risada, sabia bem que irritar Melissa não era uma das melhores ideias, mas tinha uma certeza dentro de si que ela não lhe faria mal, nem sequer tentaria feri-lo, apesar de já ter feito isso com várias outras pessoas. Pois, para o bem ou para o mal, ele sabia que Melissa Carter tinha um bom coração - Isso porque só come porcaria. Tá envenenada por essas coisas ruins.

Assim que se sentaram, Dante fez o seu pedido e esperou que Melissa fizesse o dela. Ele pedira um sanduíche natural e um suco de laranja, já que não era um dos maiores fãs de bebidas alcoólicas, apesar de beber de vez em quando - Qual o seu relacionamento com o Max? - Dante perguntou de súbito - Ele parece gostar bastante de você.

- Eu gosto dele também, ele é bem cool - Apesar de não aprovar o fato de que o Wolverine matava seus inimigos, ele ao menos tinha que admitir que ele era um personagem muito legal. O último filme a sair, Logan, provava isso ainda mais, demonstrando um Wolverine velho, no final de sua carreira, lutando para sobreviver e ainda assim sendo um dos melhores anti-heróis a existirem.

Ao contrário de Melissa, Dante tinha amigos para todos os lados. E de todos os tipos também, não havia um tipo de pessoa que parecia escapar das correntes da amizade de Dante Reed e Melissa estava incluída nessas pessoas. Era algo que fazia parte da natureza do rapaz, ele gostava muito de fazer amigos e conhecer pessoas novas, e também gostava muito de ajudar elas.

- Desculpa desculpa - Ele falou, ainda assim ele continuava a rir. Mesmo que Melissa fosse uma pessoa ameaçadora, Dante sabia bem que ela estava apenas fingindo naquele momento.

Ele sabia que havia risco em perguntar aquilo, mas tinha que levar a conversa para frente de alguma maneira. E a resposta dela já o ajudava a definir muitas coisas. Seus amigos, e algumas amigas, haviam lhe contado o que escutaram vindo do quarto de Maxwell em um certo dia, pouco antes de ele próprio chegar na Academia. Na verdade, um dia antes. Porém, com aquela resposta, parecia que eles não estavam namorando, mas o modo como um falava do outro... Era um relacionamento complicado

- Sei bem como é - Dante murmurou - Bom, ele é alguém que eu e Hanna desejamos salvar. Então, a partir de agora, você faz parte do grupo para salvar ele.

Dante tomou um gole do seu suco de laranja, ainda sorrindo para Melissa. Ele era um rapaz muito amigável no final das contas, fosse com pessoas como ele ou pessoas mais agressivas, ele jamais parava de sorrir quando conversava com alguém, a não ser que o assunto fosse algo extremamente sério. Mas como eles estavam apenas descansando depois da corrida e falando sobre Maxwell, Dante ainda sorria. Na verdade para alguém que estivera chorando horas atrás, ele parecia estar muito bem.

- Não é assim que a banda toca - Disse Dante, rindo suavemente - Não é você que escolhe o Esquadrão Salva Vidas, é o Esquadrão Salva Vidas que escolhe você - E ele riu mais uma vez - Brincadeiras a parte, talvez você não tenha notado ainda, mas de todos os amigos do Max, você é a que mais ajudou ele a melhorar. O próprio Max disse isso.

O suco de Dante ainda estava bem cheio, ele, ao contrário de Melissa, demorava para beber ou comer. Passava a maior parte do tempo falando com as pessoas, então sempre acabava sendo o último a terminar a refeição. Os sanduíches que ambos pediram finalmente chegaram, com Dante dando uma mordida no seu e logo em seguida tomando um gole de suco para ajudar a comida a descer. O lanche estava realmente saboroso e bem balanceado, apesar de não ter aquela gordura que os hambúrgueres de fast food possuíam.

- Não não. Ele afirmou isso. Como foi que ele disse mesmo? - Dante batucou na mesma por alguns segundos, antes de erguer seu dedo novamente, finalmente lembrando do que Max dissera - '' A Mel é muito importante pra mim. Sei lá, quando eu estou com ela eu consigo ser quem eu sou, sem ter que ficar fingindo. Ela pode até acabar me batendo, mas eu gosto de passar um tempo com ela. Me ajuda bastante, sabe? Com ela eu não preciso ficar pensando no passado ''.

- Disse sim - Dante sorriu e em seguida pegou a mão de Melissa, ainda sorrindo e olhando para o rosto dela - Você entendeu agora o porquê de ser a que mais pode ajudar ele? Nem todo carinho do mundo pode ajudar ele nesse momento, assim como eu, talvez ele precise de uma pessoa mais direta na vida dele.

De fato, com Dante e Hanna, Maxwell conseguia desviar-se dos assuntos e evitar aprofundar-se mais em seus problemas, mas com Melissa? Isso não acontecia. Ele não conseguia se desviar dela ou até mesmo mentir para ela. Ele podia tentar, é claro, mas sempre acabava desistindo. Não era como se Dante estivesse desistindo de Maxwell, ele apenas aceitara que ele precisava de alguém que fosse capaz de destruir as barreiras que ele erguia para que então pudesse ajudá-lo. E essa destruidora era Melissa.

- Vocês estão ficando ou algo do tipo? - Perguntou Dante.

- Pode sim. Você consegue mudar ele, eu sei que consegue. Acho que você nunca parou para notar o quanto a sua presença muda as pessoas. Olhe para mim, uma hora atrás eu parecia que ia quebrar, não é? Mas agora eu estou melhor, graça à você.

Onde Melissa via pouco, Dante via muito. Ele enxergava nela uma pessoa bondosa, com um coração de ouro, mas que havia endurecido-se pela vida e pelo o que passara, que se vira obrigada a ser resistente. Ela era uma pessoa forte, uma guerreira nata que estava pronta para lutar por tudo, fosse por sua própria visão de mundo ou por um amigo. Todo aquele lado rude dela apenas servia para denotar como ela escolhia ser sincera, sem enrolar-se atrás de meias palavras, indo direto ao ponto.

- Eu... Nunca fiz isso. Nem sei se quero, parece ser algo vergonhoso na verdade, eu sei que não me aguentaria de vergonha - Ele falou, após ela gritar, coçando a bochecha. E então seus olhos se arregalaram, com ele notando que havia jogado sal e álcool na ferida - Desculpa! - Ele uniu as duas mãos, olhando para Melissa com olhos de um filhotinho - Mas... Como vocês estão? Digo, ainda tem uma estranheza ou as coisas estão voltando para o normal?

- Eu sei que eu tenho razão.

Dante, após jogar sal na ferida de Melissa, começou a devorar seu sanduíche também, deixando apenas um pouco sobrando. Virou também o resto de seu suco, o que na verdade o ajudou a refrescar-se da corrida. Talvez, com o corpo em um estado melhor, ele pudesse se lembrar de ter mais cuidado com suas palavras. Não fizera isso de propósito, óbvio, mas ainda assim tinha que tomar muito cuidado com o que falava, principalmente perto de uma pessoa explosiva como Melissa.

- Estranho, como assim? - Dante coçou sua nuca - O bilhete que eu levei? O que estava escrito nele?

Ele riu suavemente com o peteleco que lhe fora dado na testa. Sabia que aquilo não passava de uma brincadeira da parte dela, apesar de ouvir falar que Max já havia levado uns bons cascudos de Melissa por fazer uma brincadeira na hora errada. Mas bom, Maxwell não parecia sofrer danos permanentes dessas porradas que levava, então ela deveria maneirar na força. Ou Max tinha uma cabeça bem resistente mesmo, já que a força de Melissa não era exatamente uma piada.

- Eu me exercito, ora essa! Ou melhor, me exercitava, eu parei por um tempo.

Após a resposta de Melissa, Dante usou o dedo indicador e o polegar para apoiar o seu queixo, recostando-se em sua cadeira e pondo-se a pensar. Bom, após a noite dos dois ela falara que tudo fora meio estranho entre eles e Max, quando falara que ele deveria ir ver Melissa, pareceu ficar um pouco vermelho só de citar o nome dela. Logo em seguida, ele escreveu aquele bilhete e pediu para que Dante o entregasse para Melissa. Dito bilhete fora uma piadinha cretina, como Melissa acabara de informar ele.

- Entendi. Ele está usando de humor e provocação para esconder que ele deve estar morrendo de vergonha - A vergonha provinha da situação em que ambos se encontravam e pelo o que tinham passado. Ou, e Dante não falaria isso para Melissa, ele estava com vergonha pois se via querendo ainda mais.

- Prometo que vou tentar, é que ultimamente eu tenho ajudado meu pai em casa, então não tenho tido muito tempo!

De fato, seu pai vivia sempre viajando por todo o país, e até mesmo para fora dele, e como Dante dormia na Academia Blackwell a casa tendia a ficar desarrumada e suja. Portanto sempre que sei pai voltava para casa, Dante corria até ele para ajudá-lo a limpar o lugar, assim como ficava dormindo lá por alguns dias, já que sempre sentia saudades dele. Quanto ao que ele fazia... Bem, Melissa não precisava saber sobre aquilo. Nem mesmo o próprio Dante buscara saber muito sobre o que seu pai fazia, porém tinha uma boa ideia em sua mente.

- Eu acho que ele deve estar morrendo de vergonha, na verdade - As palavras que não foram ditas ficaram no ar. '' Ele não consegue esquecer você ''

- Problemas?

A pergunta de Dante saiu suave e tranquilizadora, Melissa saberia que tinha nele uma pessoa na qual poderia confiar. Claro que ele não estava falando sobre Max, apesar de ele ser o motivo pelo qual os dois se encontraram, mas sim de outros problemas em geral que ela tivesse em sua vida. Dante sabia que seria bom se Melissa desabafasse com ele um pouco, mesmo que não quisesse. Todos carregam suas cargas emocionais, e elas apenas tendem a aumentar com o tempo e estourar depois. Todos possuem uma sombra dentro de si e é com o apoio de outros que ela se torna mais clara.

- Eeeeh... Quer saber, deixa pra lá - Ele riu, preferindo não falar o que pensara.