Aposentos do Lennart

- Muito - Foi a resposta, ela poderia notar que ele não parava de olhar para os olhos dela e que isso realmente parecia excitá-lo. Na verdade, aquilo era a presença dela agindo contra ele, mas ele decidira ignorar esse fato e se focar naqueles olhos dela - Nymeria. Você não precisa do comando para nada, sabe que vou obedecê-la. Você é minha mestra, afinal. E como seu fiel servo, farei tudo o que pedir.

A conotação sexual que ele colocara naquela frase era tão grande que era impossível não notar o que ele realmente queria dizer com aquelas palavras. Lennart não queria parar com aquilo, não tão cedo assim, ele desejava continuar aquilo pelas horas que estavam por vir, ele era insaciável quando o assunto era Nymeria.

- Sim, claro, sou um poço de humildade - Um poço vazio, é claro. Lennart começou a beijar Nymeria um pouco mais intensamente, era impossível ter os lábios dela contra os dele sem que ele iniciasse um beijo daqueles - Ah, mas é claro que ensinarei bem. Mas tudo depende do esforço da aluna.

Ao sentir a movimentação de Nymeria, ele abriu o que deveria ser o sorriso mais malicioso que já abrira em toda a sua vida. Ele estava prestes a perder o controle novamente, e é claro que o que estava prestes a acontecer ali levaria mais e mais horas do tempo deles, porém Sigmund aconteceu. Essa deveria ser uma frase para definir todas as vezes que ele atrapalhara algo, ou fizera algo que colocasse Lennart em uma posição que ele não desejava estar.

- Aah, nunca pensei que ia ficar triste por ter que esperar para usar algemas - Ele suspirou, pouco antes de caminhar até a porta e abri-la.

- Lady Nymeria e seu segurança - Falou ele, fazendo uma breve mesura. Aquele gesto não possuía respeito algum e estava ali apenas para zombar de ambos presentes, principalmente de Lennart, levando em conta o ênfase que ele colocara em segurança. Afinal de contas, como o próprio Lennart previra, ele achava uma enorme graça em ver o rapaz servindo de segurança - Sim, são poucos que podem ver meu rosto e viver. Mas tenho certeza de que você não sairá por aí falando sobre isso. Não quer colocar o meu filho em risco, quer?

- Filho? - Perguntou Lennart, levando em conta que o Imortal constantemente o chamava de filho.

- O nome dele é Dante Reed, e ele é uma graça - Falou Sigmund, com um breve sorriso em seu rosto. Pelo tom de voz usado, ele realmente parecia gostar de Dante - Mas enfim, não é para isso que eu vim aqui. Tenho uma coisa para lhe falar Lennart, assim como tenho uma dica para você, Nymeria - Ele fez uma pausa dramática - O John está vindo visitar você, Lennart.

- Ele está? - A animação na voz de Lennart era palpável.

John era, como Nymeria bem sabia, um dos responsáveis por ensinar os Treze Fúrias, para torná-los nos assassinos que são. Consequentemente ele fora o mestre de Lennart e uma segunda figura paterna para ele. Apesar de seu nome ser conhecido, era comum ouvir John ser chamado de Boss, um título que ganhara por seus feitos lendários. Era o maior e o melhor mercenário que já existira e era como um selo de garantia da Casa. Junto deles estavam vários outros que ensinaram Lennart, porém o mais notório era John.

- Já para você Nymeria, fiquei sabendo que conversou com meu filho. Ele é adorável, não é? - Questionou-lhe Sigmund, pouco antes de pigarrear e continuar. Ele puxou de seu bolso um pequeno papel dobrado e entregou-o para a garota - Nesse papel tem a localização de um dos armazéns do Shadow, achei que isso poderia interessar você. E como um favor extra, eu não estou mais alugando os Treze Fúrias, pelo menos até vocês lidarem com ele. E como um pedido de desculpas por atrapalhar a diversão de vocês, vou ordenar que a Leah comece a ajudá-los onde puder.

- Isso não é necessário - Disse Lennart, temendo uma segunda explosão de Nymeria.

- Tarde demais - Sorriu Sigmund. Poderia até parecer que ele estava ajudando eles, porém ficava claro que estava se divertindo as custa de todos ali.

Após a saída de Sigmund, Lennart suspirou. Ele sabia muito bem como era irritante ter que lidar com o Imortal, porém seus olhos agora brilhavam com animação. John estava vindo. Nymeria poderia até não entender muito bem essa animação da parte de Lennart, porém John era quase como um pai para ele, por mais que tecnicamente falando Sigmund fosse seu pai adotivo. O homem o treinara para ser quem ele era, fizera de Lennart o melhor assassino a já deixar a Casa. Havia mais do que respeito ali, havia um verdadeiro carinho e afeição pelo homem que era considerado um soldado lendário.

- Bom, depois que você se acostuma fica mais fácil.

Virou-se para ela com um leve sorriso em seu rosto. Ele tinha uma pergunta para fazer, e sabia que gostaria da resposta, não importando qual fosse. Fazia um bom tempo que não ia em uma missão de verdade essa informação da parte de Sigmund poderia ser a chance que Lennart precisava para poder disparar sua arma novamente.

- Então, continuamos de onde paramos ou nos preparamos para ir nesse lugar do Shadow?

- Bom, sim... mas te garanto que é fácil de se acostumar com o Sigmund.

Lennart não tinha como saber ou adivinhar em onde a mente de Nymeria estava naquele momento, em um lugar não tão feliz ele supunha mas não tinha como ter certeza. No final das contas, qualquer trauma que a garota pudesse ter sofrido, ou alguma coisa de seu passado não era do conhecimento de Lennart. Quando fora comprado, ele não recebera um bilhete com o passado dos Lindbergs nele, apenas que deveria seguir as ordens deles até a morte.

- Claro que é um convite para mais tarde.

- Ah, elas não vão sair dali.

Com um sorriso malicioso em seu rosto, Lennart apenas assentiu enquanto Nymeria deixava seu quarto. Apenas sorriu para os rapazes no corredor e fechou a porta, caminhando até seu armário e abrindo a parte que revelava seu estoque de armas. Ah, lembrou-se de pegar a munição incendiária. Aquela noite prometia e ele faria de tudo para deixá-la ainda melhor.

Ele estava deitado em sua cama, mascando um chiclete. Ele não conseguira dormir, não sem Nymeria do seu lado, portanto passara um tempo fumando, enquanto esperava ela voltar, mas sabia que ela não gostava do gosto do cigarro, portanto estava dando um jeito de se livrar desse gosto para que sua noite pudesse seguir sendo mais... cansativa. Ele ouviu os passos e levantou-se, pronto para abrir a porta e puxá-la para um longo beijo, mas então ela citou a visita e sua mão parou em cima da maçaneta. A voz era de uma criança. Bom, Lennart era infértil e Nymeria claramente não estava grávida, mas ainda assim um frio percorria a sua espinha. E se, apenas se, ele não fosse realmente infértil e a garota dera um jeito de achar uma provável filha dele? A mente do rapaz estava a milhão, ele não queria uma criança, não naquele tipo de lugar principalmente quando o trabalho dele era tão arriscado. Inspirou profundamente e abriu a porta.

Primeiramente, ele olhou para Nymeria, como de costume. Checou rapidamente se ela estava bem e voltou seus olhos para a criança. Rezou para que Nymeria não falasse o que ele não queria ouvir - Olá, Nym. Quem é... essa criança?

Ele estava sem palavras. Deu alguns passos para o lado, para deixar que ambas entrassem. Aquilo, acima de tudo, era uma academia. A presença de uma criança ali não seria tolerada, principalmente uma que não possuía pais. Ele suspirou com certo alívio perante as falas de Nymeria, saber que aquela criança não era sua filha era algo que o acalmava bastante, por mais que ele fosse, como a própria Nymeria havia dito, infértil. Mas, sempre havia a possibilidade de Sigmund ter mentido sobre esse pequeno fato e se havia algo que Sigmund adorava fazer era mentir para Lennart.

- Ooookaaaay - Disse Lennart, perante a explicação. Ele abriu um arremedo de um sorriso perante a pergunta de Dancer, tanto porque gostava de pessoas inocentes e porque aquilo abria espaço para ele provocar Nymeria - Bom... tecnicamente falando, creio que sim - Ele deu um sorriso para Dancer e voltou os olhos para Nymeria - Devo começar a te chamar de amor, de agora em diante?

- Ele reside bem aqui - Disse Lennart, apontando para seu próprio coração com um sorriso zombeteiro em seus lábios. Em seguida ele voltou seus olhos para Dancer, ainda um tanto surpreso com tamanha inocência da garota - Bom, se eu pudesse escolher, e eu posso escolher, eu diria que sou o marido dela.

Lennart fora inteligente, ele tirara as algemas que haviam na cabeceira de sua cama quando descobrira que o Inverno Soviético poderia estar na cidade, informação que fora cortesia de Leah. Odiava a ideia de receber uma súbita visita de Ivan e ele notar as algemas e fazer as possíveis ligações. E bem, isso também protegia um pouco a própria Dancer, que não merecia ver esse tipo de coisa. Ele olhou para Nymeria, no momento que essa tocou em seu peito e sorriu, passando o nó dos dedos no rosto dela.

- Eu te amo, Nymeria.

- Não é tão complicado assim - Riu Lennart, ignorando o fato de que era um pouco complicado sim.

Ele continuou a passar o nó de seus dedos pelo rosto dela, com aquele mesmo sorriso de antes em seu rosto. Não dava para tirar nenhuma informação daquele sorriso, talvez ele estivesse falando sério, talvez não. Os dedos desceram e seguraram a ponta do queixo dela, mantendo a garota no lugar conforme o rosto dele se aproximava. E ele beijou a testa dela. Era um gesto de carinho e afeição, algo que não era costumeiro de Lennart. Era algo muito... estranho, considerando que ele estava fazendo isso.

- Não. Eu fiz a escolha certa - E Nymeria poderia notar. Ele estava falando sério.

- Mas é simples, não é? Estamos juntos, o resto é resto.

Lennart passara dias e noites pensando no que sentia por Nymeria. Talvez fosse cedo demais para chamar aquilo de amor, porém também pensara em quando seria um bom momento para dizer que os seus sentimentos haviam convergido em amor? Não queria jogar uma palavra forte para fora, sendo que talvez ela não representasse o que ele sentia. Até mesmo em suas missões, onde observara a movimentação de pessoas na cidade, procurando suspeitos, ele notara que amor era uma palavra jogada ao redor como se não fosse nada, talvez ela já não tivesse o mesmo significado que antes tivera. Estava em pulseiras que eram compradas em qualquer loja barata, em camisetas que seriam jogadas fora depois de alguns meses, estava em letras de música que falavam sobre tudo, menos sobre o amor. Talvez, no final das contas, fosse apenas uma palavra e amor realmente não existisse. Mas o sentimento que ele possuía lhe forçava a acreditar que suas emoções nunca haviam sido mortas, apenas ressurgiram através de uma nova. Então, ele notou que aquele sentimento, apesar de diluído pela sociedade, transformado em uma palavra que era jogado de um lado para o outro pela conveniência da situação, era algo verdadeiro dentro de si.

Ele amava Nymeria.

Um beijo repleto daquele sentimento que agora preenchia seu coração, um sentimento que pertencia apenas a Nymeria, algo único dela. Aquela garota pedante, arrogante e fria despertara as emoções de Len, que permaneciam adormecidas dentro de seu coração, algo que acontecera por culpa de seu passado. Mas agora... agora ele mudara. Nymeria o mudara para melhor.

- Vamos nos casar?

Ele sabia que ela não iria admitir que estava errada, mas também não esperara por isso. Apenas falara o que pensava e aquilo bastava.

Amor era uma palavra e um sentimento de poder enorme. A pessoa mais cautelosa jogava tudo pelos ares por amor, uma pessoa irritada se acalmava pelo amor, ferimentos abertos eram fechados pelo amor. Se ele perdera seu significado, Lennart faria questão de fazê-lo voltar a ser o que antes fora. Em um mundo onde o uso constante de uma palavra havia diluído o significado do sentimento, ele tinha certeza de que o que sentia por Nymeria ajudaria nessa recuperação.

Pois ele a amava mais do que tudo.

Ambos estavam inundados naquela sensação, e para Lennart aquela era sua primeira vez sentindo algo daquele tipo. Não podia dizer que não gostava de certas pessoas, de fato ele gostava delas, mas jamais dirigia a palavra amor a elas, ele sentia que aquilo era algo forte demais para ser jogado ao ar. E por isso, ele entregara o seu amor para Nymeria.

- Isso não importa. De agora em diante, estamos casados - Ele disse, rindo suavemente também.

- E eu serei seu marido, idem para tudo isso aí - Disse Lennart, novamente solucionando as coisas de uma maneira muito mais prática do que o normal.

Seu rosto virou-se com o de Nymeria, para fitar Dancer e o rapaz não pôde evitar dar uma pequena risada. Quando seus olhos se encontraram com os de Nymeria, tudo o que os dele diziam era '' Claro ''. Lennart passou um dos braços por Dancer, enquanto mantinha o outro em Nymeria e ele nunca sentiu-se tão feliz assim antes. Depositou um beijo na testa de Nymeria e abaixou-se um pouco para fazer o mesmo em Dancer, quando ele ergueu-se novamente, Nymeria notaria, lágrimas deixavam seus olhos. Quando o próprio notou isso, ele rapidamente as limpou, dando uma risada curta e sem graça no processo.

- Desculpem... é só que... - Ele parou, mais lágrimas queriam sair - Eu não pensei que eu tinha a permissão de ter uma família.

- Apenas com você. Não aceito mais ninguém como minha família - Lennart abriu um sorriso da mais pura felicidade, seus olhos ainda estavam um pouco mareados, porém ele rapidamente os limpou com as costas das mãos e puxou aquelas duas para mais um abraço apertado.

Nymeria não tinha como saber, pois os métodos da Casa jamais eram revelados. Mas Lennart e todos os outros assassinos tiveram que abrir mão de muitas coisas. Pois a Casa oferecia para as crianças que pegava, acima de tudo, uma vida normal. Uma vida calma e pacata, quase perfeita. Porém, ela também precisava de dinheiro para se manter em pé e Sigmund não estava abaixo de criar assassinos para isso. Um método estranho de se ganhar dinheiro, mas ele afirmava que havia um motivo para isso. No final das contas, Lennart jogou fora suas chances de ter uma família, de ter uma vida comum, para se tornar algo que pudesse ajudar a Casa, o local que tirara-o da sarjeta e do sofrimento. Claro, ele poderia até sofrer mais após isso, mas para ele, qualquer coisa era melhor do que a solidão que sentira nas ruas de Copenhague. Portanto, aquilo que ele tinha agora, era como um prêmio que ele julgava não merecer. Ele antes dispensara a chance de ser verdadeiramente feliz, por sentir-se em dívida com a Casa, mas agora essa chance havia retornado para ele. E Lennart faria de tudo para mantê-la ali, consigo.

- Sempre unidos - Ele murmurou, beijando a testa de Nymeria mais uma vez.