Hall

- Parei, parei!

Ele falou, rendendo-se por fim. Por mais que gostasse de zombar e de brincar com Melissa, ele também sabia bem que havia um limite que não deveria ser atravessado. Nunca era uma boa ideia envergonhar demais alguém, as pessoas tendiam a ficar acuadas e a retaliar. Porém, Maxwell claramente esqueceu disso quando fez sua próxima provocação. As cócegas que sentiu foram o suficiente para fazer o rapaz explodir em gargalhadas, seu rosto ficando vermelho em questão de segundos, enquanto ele tentava inutilmente segurar os braços de Melissa.

- Para! Eu-- - E ele voltou a rir incontrolavelmente - Trégua! Trégua!

Quando Melissa por fim parou as cócegas, Maxwell passou mais alguns segundos rindo. Precisou de um minuto inteiro para controlar a sua respiração e para o rosto voltar a coloração normal, enquanto ele inspirava profundamente. Seus olhos voltaram-se para Melissa, ainda havia um sorriso em seu rosto, devido às cócegas que a garota fizera nele.

- Trégua - Ele repetiu mais uma vez e assim que Melissa desse sua resposta, as mãos de Maxwell se moveriam rapidamente, começando a fazer cócegas nela - Isso é vingança pelas porradas.

Era um tanto quanto óbvio que o acordo das cócegas seria quebrado assim que fosse conveniente para um dos dois, a pergunta real era quem seria o primeiro a quebrar o dito tratado. Ambos descobriram que Melissa seria a primeira a quebrar o acordo e, parando para pensar, isso não era de nenhuma surpresa para os dois. Era óbvio que Melissa, uma pessoa com um pavio extremamente curto, seria a primeira a quebrar o tratado.

- Elas serão medidas.

Maxwell agora ficara por cima de Melissa, continuando as cócegas e rindo um pouco por causa da risada contagiante que Melissa possuía. Continuou aquilo por alguns momentos, já que era uma vingança no final das contas, e parou no exato momento que Melissa olhara para ele. Maxwell perdeu-se momentaneamente nos olhos dela. Em romances, sejam esses literários ou cinemáticos, é justamente nesse momento que os dois protagonistas apaixonados finalmente assumem o que sentem um pelo o outro e beijam-se. Aquele claramente não era o caso, já que o rosto de Maxwell pareceu entrar em chamas e ele afastou-se rapidamente, antes que pudesse levar um tapa ou algo do tipo. Não ajudava em nada o fato de que, enquanto ele fazia cócegas e Melissa se revirava, ele acabara por tocar nos seios dela sem querer, porém fora algo rápido e as cócegas deveriam mascarar isso um pouco.

- Paramos? - Ele perguntou, sentando-se na beirada da cama, tentando esconder a sua vergonha. A última vez que estivera por cima de Melissa fora quando ambos transaram.

Se tivesse notado o movimento dela, Maxwell teria beijado Melissa. Não havia a menor dúvida sobre isso, se o avanço dela fosse visto, teria uma resposta instantânea e um que ambos gostariam. Porém, ele não notara. Não podia dizer que era uma pena, já que não sabia que tinha acontecido. Ocupado demais tentando esconder a vergonha que o queimava, ocupado demais buscando afastar a estranheza que ameaçava cair sobre os dois. Se ele apenas soubesse que ela, mesmo que de forma inconsciente, partilhava de sua vontade...

- Tem o filme, você terminou de ver ele?

Maxwell dormira nos primeiros cinco minutos, portanto não tivera como saber se Melissa de fato assistira o resto dele. O filme era bom e deveria mantê-los ocupados por um tempo, o que deveria bastar para distraí-los das sirenes e do caos que ocorria em uma certa parte da cidade. Mas por enquanto, precisavam de algo para fazer. Beber não era uma opção, ambos ali lembravam da última vez e não queriam repeti-la... Pelo menos era isso que falavam.

Toda vez que olhava para Melissa, seu coração entrava em chamas. Não era devido a vergonha que claramente sentia, mas sim por outra coisa, uma vontade que lhe consumia, que fazia com que ele desejasse ter ela novamente e ser dela mais uma vez. Não, só uma vez não bastaria. Várias e várias vezes. Mesmo quando ele namorara no passado, aquele sentimento nunca surgira antes. Talvez não fosse uma paixão, como o que sentira por suas ex-namoradas. Talvez fosse só mesmo um desejo. Um dia ele iria descobrir, certamente, e então poderia falar com Melissa sobre isso.

- Bom, pode ser. Vamos terminar de ver esse filme - Ele não notou que o último comentário de Melissa poderia ser levado para o outro lado, estava ocupado demais tentando organizar sua mente e seu coração. Deitou-se na cama novamente e deu dois tapinhas no espaço que havia ao seu lado, chamando Melissa. Claro, ela provavelmente não iria querer ir, porém, na cabeça de Maxwell, aquele era o modo mais confortável de se assistir um filme. E também, se era para se livrar daquela vergonha, que fosse confrontando-a de frente - A gente nem passou dos primeiros dez minutos...

Maxwell também não dormira bem, apesar de ter sido bom ter ficado abraçado a Melissa. Ele só precisava fechar seus olhos e via a boate em chamas, com pessoas morrendo ao seu redor, com corpos caindo e com Nathan no meio das chamas. O rapaz sobrevivera, Maxwell sabia disso, mas havia algo que fazia seu coração apertar-se em saber que, mesmo que por um instante, ele desejara matar ele. Desejara matar alguém. E isso o assustava.

- É, mas claramente não foi muito - Maxwell ajeitou o notebook, notando a distância entre eles e agradecendo Melissa internamente por isso. Proximidade demais poderia não acabar bem para os dois naquele momento. Ele apertou a tecla espaço e Thor Ragnarok voltou a passar na frente deles. Um filme divertido, leve e infinitamente superior aos dois antigos filmes do Thor. Maxwell riu levemente com algumas das piadas, principalmente com o teatro que Loki fizera para si mesmo, com Matt Damon fazendo o Loki teatral e Luke Hemsworth fazendo o Thor teatral - O Loki é bom demais, puta que o pariu

Maxwell, que já tinha assistido o filme antes, divertiu-se ainda mais dessa vez. Tanto por ter a companhia de Melissa, como pelo fato de adorar as piadas daquele filme. Achava que o Jeff Goldblum havia feito um ótimo trabalho como Grandmaster e que Korg era, definitivamente, o melhor personagem daquele filme e que a Valquíria fora uma ótima adição, estranhamente a personagem a lembrava muito de Melissa, talvez por beber muito e descer a porrada. Também gostara muito de Hela como vilã e um filme desses, mais solto, era justamente o que ele precisava naquele momento.

- O Loki é o Loki, não tem melhor jeito para descrever ele - Ele virou-se para Melissa com um sorriso animado - Temos um ano pela frente ainda e tem Pantera Negra por vir, mas precisamos mesmo ver esse filme!

Ele, como todos que já haviam se afundado na fandom da Marvel, estava extremamente empolgado para Guerra Infinita. Tanto pelo fato de ter adorado o quadrinho, como por adorar Thanos como um vilão. Na verdade, ele tinha uma aposta com Dante sobre quais heróis iriam morrer no Guerra Infinita. O Visão estava na lista dos dois, mas ele estava na lista de todo mundo, para falar bem a verdade.

- Vamos dormir? - Ele bocejou suavemente

- Sim, ele interpreta o personagem muito bem. Sei lá, é foda imaginar outra pessoa fazendo o Loki depois desse show que o Tom deu - Tom Hiddleston era, de fato, perfeito para o papel. Quando o roteiro do primeiro filme do Thor foi revelado, fora possível notar que Loki seria apenas mais um vilão maluco, rindo das palavras do outro, enquanto Tom preferiu trabalhar ele como uma pessoa que fora ferida pelos acontecimentos, amargurada por dentro - Olha, acho difícil. É o Loki, ele provavelmente vai dar um jeito de voltar.

Loki havia morrido muitas vezes já, no final do primeiro e no meio do segundo Thor. E das duas vezes ele voltara. Max achava difícil que Loki fosse morto em Guerra Infinita, uma vez que ele possuía uma fanbase tão enorme que provavelmente seria mantido vivo só para não irritar os fãs. O próprio Agente Coulson, que morrera no primeiro Vingadores, ainda estava vivo em uma das séries da Marvel chamada Agents of S.H.I.E.L.D e isso só fora feito porque os fãs insistiram que ele deveria ser mantido vivo.

- Vão demorar muito

Enquanto Melissa ia pegar os cobertores e os travesseiros, o motivo para isso Max não conseguira adivinhar ainda, o rapaz aproveitou para colocar o notebook em cima da mesa, voltando para o seu lado da cama. E Melissa então fez aquela barricada. Maxwell riu, apesar de concordar de que aquilo era uma boa ideia. Acordar abraçado a ela novamente seria muito vergonhoso para ele, apesar do rapaz estar conseguindo controlar mais seus sentimentos.

- Verdade, verdade. Bom, boa noite, Mel - Ele falou, sorrindo calmamente para ela. Após a resposta dela, ele virou-se para o outro lado, julgando que assim não a abraçaria quando caísse no sono. Lindo engano.

Quando os dois por fim adormeceram, Maxwell girou-se para o lado e seu braço caiu por cima do corpo de Melissa. Era como se o corpo do rapaz reconhecesse o dela apenas pelo toque e ele começou a puxá-la para si conforme fazia-se ir na direção dela. Mas havia algo no caminho, algo impedindo ele. O adormecido Maxwell chutou os cobertores para fora e, como uma pessoa que tira sua camisa enquanto dorme, arremessou o travesseiro para fora da cama e abraçou Melissa, sorrindo de uma maneira que demonstrava a mais pura das felicidades. Abraçado a ela, Maxwell depositou um pequeno beijo na testa dela, antes de aconchegar-se e por fim parar de se mover, seu sono continuando por horas.

Maxwell não sonhou e isso sempre era um péssimo sinal. Havia certos padrões na vida de Maxwell: O ódio que atraía para si, seu envolvimento com garotas que acabariam por destruí-lo emocionalmente, as constantes discussões... E as tragédias que sempre vinham após uma noite sem sonhos. Mesmo quando enchia a cara, ou daquela vez que fumara maconha para dormir, ele sonhara. Seus sonhos sempre eram a definição do surrealismo, sendo difíceis de compreender ou até mesmo de serem lembrados, deixando apenas uma leve sensação estranha em seu corpo. Mas quando ele não sonhava, sempre acontecia algo de ruim. Ele não sonhara no dia em que Nathaniel fora sequestrado, não sonhara, no dia em que encontrara o corpo de sua mãe, ele não sonhara... E definitivamente sonhara muito pouco durante os seus quatro anos de tortura.

Porém, dessa vez, acordou ao lado de Melissa. Havia uma sensação quente em seus lábios, mas ele não sabia dizer o porquê disso. Bom, não tinha importância. Sentou-se na cama e espreguiçou-se, seu corpo tremendo levemente com o movimento. Ele coçou seus olhos, tirando a remela deles, e voltou seu olhar para Melissa. Um dos lados do cabelo de Maxwell estava completamente bagunçado, uma vez que ele dormira em cima dele. Sabia que havia dormido abraçado com ela, a ''barreira anti-abraços'' estava jogada no chão e Melissa estava estranhamente constrangida. Bom, isso não importava muito no momento.

- Bom dia - Ele bocejou audivelmente enquanto falava isso - Você fica uma gata com esses cabelos bagunçados e cara de quem dormiu bastante - Provavelmente teve que se desviar de algum golpe vindo de Melissa devido ao seu comentário. A sensação quente que tinha em seus lábios era sentida em uma outra parte de seu corpo. Ele não sabia dizer o que fora, se Melissa o beijara enquanto dormira ou se simplesmente afastara seu rosto com as mãos. Talvez tivesse sido ele que beijara ela... Bom, sem provas, sem crime. Maxwell estava de pé no centro do quarto, bocejando mais uma vez e em seguida murmurando baixinho para si mesmo - Ela pegou na minha bunda...?

- Como você pode ter certeza que fui eu? Pode ter sido você, ora essa.

Ele sabia que tinha sido ele. Maxwell tinha o costume de se revirar muito quando dormia, então não seria surpresa alguma ele ter desfeito a barreira. Só estava com vontade de provocar Melissa. E pagou o preço por isso, com aquele soco em seu ombro. Ele não conseguiu desviar completamente dele, portanto logo viu-se massageando o lugar atingido e murmurando algo sobre uma mão pesada. Quando viu a mão dela vindo na direção de seu rosto, ele fechou os olhos esperando um tapa, mas assim que sentiu seus cabelos serem arrumados ele abriu-os novamente e deu um sorriso calmo para Melissa.

- Obrigado, você também... - Dito isso ele levou suas mãos para a cabeça de Melissa, começando a ajeitar os cabelos dela que estavam bagunçados, principalmente a parte de trás, onde uma das mãos dele estivera, esporadicamente fazendo carinhos - ... Huum, está bom, mas não o suficiente. Vem - Ele segurou a mão de Melissa e a puxou até a cadeira do quarto, forçando ela a sentar-se na mesma - Fique quietinha - Ele disse, enquanto fazia... algo, com os cabelos de Melissa. Passado poucos minutos de ele ajeitando a parte que ele próprio bagunçara, ele subitamente puxou todos para trás e, com um elástico para prender cabelos, fez um rabo de cavalo em Melissa - Não tire!

Dito isso ele parou na frente dela e olhou diretamente para os olhos de Melissa, sorrindo em aprovação.

- Ficou bom assim.

- Eu não tenho como saber pois, e você vai ficar surpresa com isso, eu estava dormindo. E não é nenhum mal maior, não é? Foi só um abraço enquanto dormíamos.

Ele ignorou as ameaças dela e continuou a ajeitar o cabelo dela. Apesar de claramente não ser nenhum mestre nisso, ele tinha certa habilidade, o que era estranho uma vez que os cabelos de Maxwell eram curtos. O motivo para isso era que, em um determinado momento da vida deles, Nathaniel decidira deixar os cabelos ficarem compridos e sempre acabava pedindo ajuda para Maxwell para prendê-los, uma vez que ele era o que o povo chamaria de estabanado.

- Tem um espelho do lado de dentro da porta do armário, só olhar lá. Te garanto que tá perfeito.

- Por favor, você saberia se eu tivesse feito isso.

Maxwell não era um tarado. Não completo, pelo menos. E, acima de tudo, respeitava os limites que as pessoas colocavam. Ele jamais tocaria em Melissa sem a permissão dela, no primeiro sinal de negação ele iria parar. Isso valia para tudo, incluindo aquela arrumação que fizera no cabelo dela, ou para os abraços que ele dera para ela, enquanto dormiam. Porém, sobre estes últimos ele não tinha controle, era apenas algo que fazia... Estranhamente, isso apenas acontecia com ela.

- Ah, minha querida, isso aí é questão de costume - Disse ele da maneira mais estereotipada possível, com uma voz mais fina e tudo.

- Claro que pinto, meu anjo! Se quiser eu arrumo elas pra você! Vai ficar ma-ra-vi-lho-sa

Maxwell em seguida começou a rir, incapaz de manter o papel que estava fazendo por muito tempo. Era realmente divertido conversar com Melissa, era algo que o deixava muito mais leve, mais tranquilo. Retirava toda aquela vontade auto-destrutiva que havia dentro dele, dando lugar a paz e a tranquilidade. Duas coisas que Maxwell claramente necessitava, o rapaz não era uma das pessoas mais equilibradas do mundo, havia um limite para tudo e Maxwell quase chegara no seu.