Diante de todo o espetáculo de ver Nicolas sendo cuspido de seu assento, Beyond teve o mínimo de tempo para que apenas um gole sútil de vinho escorresse-lhe lábios a dentro antes que o corpo de Gattile viesse diretamente de encontro ao seu. Ele afastou a taça bem a tempo de evitar uma colisão que provavelmente faria cacos de vidro voarem de suas mãos, mas foi impossível evitar que todo o líquido permanecesse no recipiente, de forma que o movimento brusco do impacto fez com que vinho fosse derramado pelas bordas da taça, sutilmente sujando as pontas das luvas do Darkness.
Espantosamente, o fato foi que o cão observou a cena por trás das lentes laranjas sem sequer tremelicar seu irritante sorriso, quase como se Nicolas tivesse parado com êxito bem no ponto X marcado por B. Ele sentia claramente o hálito quase ácido do palhaço e a respiração de B recendia a puro vinho, forte e amargo. A cara lavada do homem de cabelos negros tão próxima daquele jeito era uma visão azucrinante... e impagável. Ele observava a expressão frustrada de Gattile sem mover-se um milímetro sequer, mantendo aquele nulo de distância até o momento em que viu o palhaço escorregar sobre seu corpo, ficando ajoelhado bem no meio de suas pernas.
- Pessoaaaaaaaal... er... está tudo bem aí?!- a tarjeta da porta da cabine foi ouvida sendo aberta e logo Bernardo botou a cabeça para fora de lá, claramente tentando decifrar, diante daquele clima íntimo de discoteca, a figura de algum dos dois passageiros até que ele viu um braço se estendendo para fora da poltrona.
Era o braço de Beyond e este abanou as costas da mão com muita calma, num sinal que era claramente um "xô" bem dado. Bernardo não pareceu entender o porquê da dispensa tão sincera, mas aí seu olho bom desceu... e se deparou com cabelos verdes bem no meio das pernas do Darkness...
A porta rapidamente bateu, Bernardo se recostou do lado de dentro, suspirando profundamente e piscando em frenesi o olho como se estivesse tentado a arrancá-lo para combinar com o outro lado, de repente começando a suar de forma extravagante, buscando abanar-se com urgência com seu chapéu de cowboy.
- Algum problema lá atrás?- Mike indagou, as mãos firmes na pilotagem, mas o velho soergueu brevemente uma sobrancelha diante do estado pós-traumático que Bernardo parecia esbanjar.
- Eles... eles estão... n-não, n-nada... meu deus, esquece.
Por sua vez, Beyond ouviu a pergunta de Gattile enquanto voltava o braço ao recosto da poltrona, apoiando o cotovelo ali para que assim alcançasse a armação de seus óculos laranjas, os quais ele retirou metodicamente, as íris cintilantes de tão carmesim encarando Nicolas sem qualquer tipo de barreira pela primeira vez naquela noite. A mão que segurava a taça transbordada moveu-se brevemente, apenas para deixar tal objeto sobre a mesa novamente, o movimento acontecendo por cima do ombro de Gattile. Logo, aquela música que tornava a situação inteiramente cômica pareceu travar e uma nova se deu início. Era uma melodia em piano, que trouxe àquela parte do avião um clima suspeito de tensão sexual ao mesmo tempo que as luzes da discoteca se tornavam cada vez mais lentas...
Depois daqueles segundos que pareceram durar uma eternidade, a mão agora livre de B baixou-se na direção de Nicolas. A ponta de seu dedo indicador coberto pela luva empapada de vinho fez que ia tocar a testa do palhaço, mas parou a milímetros disso e deslizou pelo rosto branco, contornando seu nariz afilado até alcançar os lábios extremamente vermelhos, os quais Beyond pousou um morno toque que tinha gosto de uva e álcool antes de afastar os dedos novamente. Gattile podia ver que ele ainda sorria, triunfante diante da posição que o torturador se encontrava. Maldito... sorriso.
- Agora?- ele riu para dentro, divertidamente.- Agora você me mostra o quão sortudo eu sou por ter você jogando nesta posição.
Aquela resposta era claramente uma referência a frase de teor sexual que Nicolas anteriormente dissera para o mercenário caolho. Uma resposta definitivamente muito bem escolhida... O Darkness apenas aguardou ali... à plena espera do próximo movimento.
Nicolas Gattile Estudante
Mensagens : 43 Data de inscrição : 10/12/2017 Idade : 34 Localização : Na boate mais suja
Nicolas mordeu o lábio inferior, o sorriso sempre presente. Sentiu o leve roçar do dedo de Beyond em seus lábios e ouviu atentamente suas palavras. Fazendo uma expressão de reprovação comica, ele balançou a cabeça.
- Bad puppy. Bad, bad puppy.
Levantando o corpo, porém ainda em posição ajoelhada, ele apoiou os antebraços nos joelhos do homem de vermelho, e seu rosto se aproximou do dele.
- Dissecando e dissecando e dissecando o pobre Nicolas. Jack, scalp me like one of your French girls!* Ele gargalhou, comicamente levando a mão à testa.
As mãos dele deslizaram dos joelhos para as coxas do homem de vermelho.
- Você quer saber o que eu sou? Eu sou um cachorro correndo atrás de carros. Eu não saberia o que fazer se pegasse um. - Os dedos brancos dele deslizaram para a fivela do cinto de Beyond, brincando com ela. - Eu só faço as coisas.
Seus olhos verdes se demoraram onde seus dedos brincavam, o próprio peso da mão ali próxima da masculinidade de B. Afinal eles deslizaram de volta para os impressionantes olhos vermelhos do homem, um sorriso mais contido. Ele se levantou e, com o rosto bem próximo do de Beyond, sussurrou:
- Previsibilidade é uma fraqueza.
Ele se virou e voltou a se sentar em sua cadeira, de maneira mais despreocupada, com as pernas cruzadas e o sorriso bem mais brando, esperando a reação de Beyond.
Nicolas ainda era um pêndulo em movimento: estranho demais pra viver, raro demais pra morrer.
Beyond Darkness Estudante
Mensagens : 54 Data de inscrição : 26/09/2017 Idade : 44 Localização : Los Angeles | Windfall
Beyond sentiu o peso do corpo de Nicolas sobre suas pernas apenas para se deparar com o rosto branco do palhaço uma vez mais muito próximo ao seu.
- Não é como se você não gostasse.- ele disse num timbre bem humorado - e talvez por isso mesmo intrinsecamente irritante - a respeito do comentário do outro sobre B o dissecá-lo. Ele pegou, claramente, a referência cômica de Nicolas. Aquele palhaço tinha um repertório digno de nota.
Ainda assim, o que escapou da boca vermelha a seguir deixou um Beyond quieto, unicamente atento às palavras do italiano, onde nem mesmo o toque sobre sua fivela o fez desvencilhar-se de seu contato visual. A região próxima à sua masculinidade era exclusivamente morna, não se sabia se estava assim antes ou depois do peso da mão ali. Afinal, ele encarou quando o homem de cabelos verdes se sentou e, se ele estava esperando sua reação, teve que aguentar a visão daquele sorriso imbatível e segundos de uma mudez ensurdecedora, definitivamente tensa naquelas circunstâncias.
- Então você finalmente admitiu.- foi a frase que sobrepôs-se por cima do barulho do vento cortado pelas asas do avião.- Que é um cachorro e não a comida de um.
Sua cabeça pendeu metodicamente e aquela finura que traspassava seu rosto de orelha à orelha escarchou um tanto mais.
- Todas aquelas suas respostas ambíguas, eu tentei deixá-lo sem saída. Apostei alto no jogo...- seus olhos desceram brevemente para o próprio colo, para a fivela do cinto e algo mais além, antes de voltarem-se às íris verdes à sua frente.- Mas você não tenta vencer um coringa numa partida de Rummikub¹, você usa-o para vencer.
Ele tornou a pegar a taça de vinho e bebericando seu conteúdo, sem desviar os olhos de Nicolas. Beyond nunca desviava os olhos.
- Você foi escorregadio sendo direto, me deu o que eu esperava, mas não o que eu queria. Sim, você é imprevisível, Gattile... mas cuidado. No mundo que eu conheço, o carro pode pegá-lo primeiro.
- Ai, será que eles...- disse bem baixinho Bernardo, abrindo muito lentamente a porta da cabine e olhando pela fresta.- Já terminaram ou sei lá... ah, essa foi rápida.- ele concluiu após visualizar que ambos os passageiros já estavam devidamente em seus próprios assentos.- B-Bom, mais dez minutos e vamos chegar.
Ele avisou, dando uma risadinha nervosa e voltando a se trancar do outro lado.
Nicolas Gattile Estudante
Mensagens : 43 Data de inscrição : 10/12/2017 Idade : 34 Localização : Na boate mais suja
Ele esperou sorrindo em silêncio até que Beyond começou a falar. Então apenas acompanhou a linha de pensamento do Darkness, e afinal seus olhos deslizaram para a porta da cabine, de onde Bernardo avisava sobre o restante do tempo de viagem. Nicolas fingiu certo embaraço e usou os dedos para limpar os cantos da boca, como se tivesse acabado de engolir algo que poderia ter feito uma bagunça.
- Obrigado, Bernardo. - ele agradeceu, vendo que o rosto do mercenário não demorou a sumir, provavelmente traumatizado.
Nicolas riu.
- Certo. Estou me sentindo um tanto... cooperativo hoje.
- Então, quem é seu adversário nesse jogo no qual você precisa tanto de um coringa para vencer?
Beyond Darkness Estudante
Mensagens : 54 Data de inscrição : 26/09/2017 Idade : 44 Localização : Los Angeles | Windfall
O objetivo de Nicolas pareceu ter sido concluído com êxito, porque das orelhas de Bernardo saíram fumaça e ele voltou a se trancar na cabine, tornando a abanar-se repetidas vezes com o chapéu.
- Será que... er... um b*quete na velocidade super sônica é diferente de um convencional? - Quê? - Eu devia ter aceitado. - Do que diabos você está falando? - Nada.- ele disse com um sorrisinho todo nervoso.
O cão dos Darkness secou a taça de vinho, pousando-a sobre a mesa e cruzando as pernas num movimento metódico.
- Estava esperando você perguntar.- ele sorriu abertamente.- Diga-me, Gattile... o que você sabe sobre Nymeria Lindberg?
--------------- X ---------------
Poderia-se dizer que foram dez minutos exatamente produtivos. O tempo no avião realmente valera à pena... se não de uma forma, de outra. Até que houve, tempos depois, um alerta:
- O-Ok, por favor, er, apertem os cintos.- a voz soou nas caixas de som espalhadas pela aeronave. Bernardo parecia ter finalmente desisto de ir avisar pessoalmente.- Preparando para pouso!
Nicolas Gattile Estudante
Mensagens : 43 Data de inscrição : 10/12/2017 Idade : 34 Localização : Na boate mais suja
Produtivo, de fato. Curioso, com certeza. E claro que Beyond manteve suas explicações a um mínimo, s Nicolas preferia assim. Pouco lhe importava o quanto Nym era uma boa amiga, heroína dos animais, a coceira na virilha de Beyond. O que importava é que ele tinha uma festa para dar, e uma mafiosa para sequestrar.
Assim que ouviu a voz de Bernardo considerou tentar passar pela diminuição de velocidade tão bem quanto conseguiu com a aceleração, mas preferiu não arriscar. Prendendo os cintos, ele ergueu os pés sorrindo.
- Weeeeeee! Ele exclamou e passou por tudo como uma criança em um parque de diversões.
Antes de sair do avião acompanhados por Beyond, Bernardo e Mike, Nicolas pegou mais algumas frutas ácidas e passou a comê-las. Ele notou o olhar meio embaraçado do rapaz e se aproximou, sussurrando alguma coisa para ele antes de jogar uma uva verde na boca com um olhar malicioso.
Assim que chegaram às portas da propriedade da Darkness, uma visitante inesperada estava aguardando.
-Sis! - Nicolas gritou e foi ao seu encontro.
Siberia Gattile Estudante
Mensagens : 13 Data de inscrição : 07/08/2017 Idade : 26
Sibéria estava puta. Não muito, mas o suficiente para percorrer todo o caminho até a Darkness com uma cara amarrada de bico e sobrancelhas franzidas. Ela entendia bem as condições daquele tipo de trabalho então raramente reclamava - ter um jatinho particular ajudava nisso -, no entanto pretendia passar um tempo em Windfall antes de embarcar em outra missão, e ter os planos completamente frustrados era um tanto... frustrante.
Assim que chegou à mansão, ela foi recebida e acomodada por uma garota loira com diversas tatuagens expostas pelo tecido fino que cobria o corpo tão magro e baixo quanto o dela. O quarto pequeno tinha um ar carregado que arrancou de Sibs um calafrio. A moça estava prestes a pegar o telefone quando alguém invadiu o quarto, num rompante exagerado e típico da mulher. Com um sorriso no rosto, Alessa exibia a sua beleza única e o raro bom humor.
- Isso é um sonho ou estou finalmente revendo Sibéria Gattile?
Sibs riu pela primeira vez no dia, e contrariando todo o comportamento que era esperado das duas, envolveu a velha conhecida em um abraço.
- Senti saudades, vaca.
•••
Sob os coturnos, Sibéria esperava na porta principal. O cabelo curto estava solto e esvoaçante assim como o vestido vinho que lhe era justo no busto e abria um leque até meia cocha. Quem a conhecesse bem perceberia que algo estava errado; os olhos pequenos e estreitos focados no aparelho telefônico em uma das mãos e o lábio inferior preso entre os dentes... definitivamente tinha alguma coisa fora do lugar.
- Inferno, Giovanni... me liga, por favor. Me liga. Me liga - ela pedia baixinho. Seja lá nos céus ou no inferno, alguém ouviu as suas súplicas e num primeiro toque ela atendeu - Se eu acreditasse em Deus, diria graças a Deus.
- Principessina! - a risada de Giovanni respondeu do outro lado - Sentiu saudades, é?
- Saudade não é bem a palavra, Romeu. Eu quase enfartei quando fui a floresta e não era você me esperando. O que diabos aconteceu na Polon...
- O que? Espera, como assim você foi na floresta? Onde você está? - a surpresa dele foi estranha, quase desesperada.
- Estou na Darkness - a linha ficou muda - Giovanni?
- Eu preciso desligar. Te ligo mais tarde.
Sibéria encarou o aparelho com as sobrancelhas soerguidas. Aquela foi a conversa mais curta e estranha que eles tiveram em doze anos de convivência. Algo estava errado. Algo estava muito errado. E ela descobriria.
Não demorou muito para o cabelo esverdeado de Nicolas despontar a frente, ao lado de alguém que provavelmente seria Beyond. Sibs estava curiosa, ela admitia. Alguém que fosse capaz de se tornar crush de Alessa era sem sombra de dúvidas alguém de despertar curiosidade.
- Finalmente! Vocês vieram de jegue? - ela abriu os braços para receber o irmão, e o abraçou carinhosamente - Não me olha com essa cara, foi supresa do Babbo. Aliás, sou Sibéria, olá - suas vistas caíram no outro.
Beyond Darkness Estudante
Mensagens : 54 Data de inscrição : 26/09/2017 Idade : 44 Localização : Los Angeles | Windfall
Quando a palavra "Mansão" fora mencionada, aquele não era exatamente o tipo de visão que rechearia a imaginação comum, embora o vocativo "Darkness" logo depois destruísse qualquer limite do termo. A máfia americana era sempre exagerada, afinal de contas: aquilo estava mais para um palácio!
O estrondoso SR-71 pareceu apenas um ponto negro no mapa quando fez um pouso suave no grande campo que cercava a construção de proporções gigantescas. A água do vasto lago à frente refletia a imagem sumptuosa do lugar, onde o brilho dos postes de iluminação, mesmo que poucos, contrastavam com a imensidão solitária de gramado, não fosse apenas por alguns guardas altamente armados que se dispersavam aqui e ali. Para estar localizada na segunda cidade mais populosa dos Estados Unidos, aquele era um local definitivamente escondido, mas talvez esta não fosse a palavra certa; era um local distante, bem distante do centro do Condado de Ventura.
Depois que um Bernardo saiu tropeçando aos trancos e barrancos enquanto uma cachoeira de sangue lhe escorria o nariz após ouvir o sussurro do homem de cabelos verdes, Mike, o velho carrancudo ainda segurando sua pistola, desceu um pouco antes de Beyond e Nicolas, aproximando-se da entrada principal, a enorme porta dupla de madeira revestida em metal. Os dois últimos, no entanto, prosseguiram lado a lado, o homem de vermelho parecendo desfilar tranquilamente pela passarela mesmo com a agitação entre irmãos que pareceu acontecer no momento seguinte.
- Na verdade nós viemos com o avião mais rápido do mundo a uma velocidade que triplica a do som, menina.- foi Mike quem deu aquela resposta. Tinha que ser, é claro.
- Alessa me falou sobre você. Nicolas iria falar sobre você. Finalmente nos conhecemos, Sibéria Gattile.- sua voz era rouca, grave, espaçada o suficiente para soar fúnebre, mas ele tinha um tom simpático desta vez - embora todo cuidado fosse pouco com aquele ali. Apenas por suas frases, ele entregara o jogo; aquele de vestes carmesim e falas dramáticas definitivamente era Beyond Darkness. Ele já havia posto novamente o chapéu sombreiro por cima dos cabelos e os óculos laranjas, sorrindo para a menina, mais um daqueles seus sorrisos duvidosos.- Você irá nos acompanhar esta noite?
Aquela era uma pergunta um tanto injusta, levando em consideração que ele não realmente explicara para onde exatamente eles iriam - e com Beyond o óbvio nunca era um lugar visitável. O homem não parecia surpreso por ver a menina italiana ali. Ele também não parecia surpreso por Alessa não ter avisado sobre isso.
Sem mais cerimônia, no entanto, Mike apressou-se para empurrar as portas, revelando uma paisagem no mínimo estonteante. O saguão era decorado por castiçais à moda antiga, com estátuas douradas segurando-os sobre os pilares da escadaria dupla que escorria até o segundo andar e cercava um pequeno chafariz onde resguardava uma escultura de homens segurando o globo terrestre. As palavras "The World is Yours" reluziam neon cor-de-rosa em torno da esfera. As paredes eram irritantemente carmesins, com quadros antigos e originais cobrindo-as até o topo.
Saguão Darkness:
Nicolas Gattile Estudante
Mensagens : 43 Data de inscrição : 10/12/2017 Idade : 34 Localização : Na boate mais suja
A intenção de manter-se indiferente aos outros dois senhores foi por água abaixo quando o velho carrancudo se direcionou a ela. Na maior parte do tempo Sibs era educada e não tão seletiva em seus cumprimentos, mas o humor do dia ainda estava péssimo e, a hipótese de perder tempo com pessoas aparentemente irrelevantes parecia ridícula. Todavia foi tarde demais; com os olhos pousados desafiadoramente sobre ele, Sibéria abriu um sorriso e uma expressão divertida se formou em seu rosto.
- O avião mais rápido do mundo? - a moça Gattile tombou a cabeça catastroficamente devagar, assentindo numa ironia palpável e estalar de língua - Se me preocupasse o alertaria para ter cuidado com a prepotência. Algumas pessoas dizem que isso mata, se é que me entende.
A confirmação de que a morena não pretendia se demorar naquilo foi dada quando sua postura se ajeitou e a ponte do nariz foi erguida. Destarte, o espetáculo de Nicolas veio bem a calhar. Pega de surpresa pela imitação fajuta, uma risadinha escapou e foi rapidamente encoberta por um sorriso pequeno.
- Quer apanhar na frente de sua nova vítima, irmãozinho? – não havia nada que Nico pudesse esconder dela. Mesmo tendo mães diferentes, era como se Sibs pudesse ler a sua mente. Bastou mais uma boa olhada para entender a situação, e quando falou de novo tinha as vistas postas em Beyond - Damn it, Nicolas. Além de ser um baita desperdício de ambas as partes, Alessa vai te matar. Ah, eu quero ver isso de camarote.
Tá legal, o sorriso que recebeu de B a fez estremecer de um jeito ruim. Assassinos, traficantes, estelionatários, estupradores... Sibéria já tinha lidado com todo o tipo, mas o ar carregado do rapaz a frente era distintamente assustador. Ela precisou pigarrear para voltar ao foco e em mais alguns segundos a arrogância Gattile reapareceu.
- E eu tenho escolha? - a pergunta retórica saiu quando já estava entrando na Mansão. Aquela provavelmente seria a quarta vez que estava ali, então a surpresa ficou toda para Nicolas. Foi de rabo de olho que ela ouviu o comentário do irmão mais velho, preferindo se abster. Uma droga o fato de estar tão preocupada com Giovanni!
Naquela altura do campeonato, tudo o que Sibéria queria era parecer o mais normal possível até terminarem seja lá o que fosse e ela pudesse investigar aquela merda toda sozinha.
Beyond Darkness Estudante
Mensagens : 54 Data de inscrição : 26/09/2017 Idade : 44 Localização : Los Angeles | Windfall
- Aham, tá.- foi a resposta de Mike para a ameaça de Sibéria, sempre acompanhada por suas expressões impagáveis que também deixavam claro que ele não tinha o menor interesse em continuar aquela argumentação.
- Michael.- chamou Beyond, e foi a única voz que o velho atendeu sem dirigir-lhe outro semblante rabugento.- Seja mais amigável. Os Gattile são nossos convidados.
Depois de simplesmente assentir com a cabeça, o velho homem preferiu manter-se quieto.
- Nova vítima?- ele indagou num tom meio surpreso e meio divertido que não deixava de ser sombrio, e lançou um olhar de esguelha à Nicolas. Era incomum que alguém se referisse ao Darkness como "vítima"... mas até então Beyond não havia protestado contra o fato do braço de Nicolas estar abraçando o seu.- O que você faz com os seus alvos para que eles sejam denominados assim? Eu deveria ficar alerta?
A pergunta foi praticamente retórica, Beyond estava apenas divertindo-se com os irmãos. Ele absteve-se quando Sibéria comentou sobre Alessa, entretanto, e seguiram para dentro da mansão quando Mike displicentemente fechou a porta atrás deles.
- Siga-me, senhor...- ele pigarreou.- Senhores. Giacomo deve estar com Alessa... na cúpula.
Eles puseram-se a subir as escadarias, passando por espaçosos corredores igualmente vermelhos lotados de pinturas antigas e originais até que chegassem a um lance de escadarias que fugia dos padrões até então. Era uma larga e cansativa espiral de cor verde-viva que, depois de literalmente alguns minutos subindo-a, levou-os até uma câmara assustadoramente enorme e perfeitamente circular.
Escada Espiral:
A Cúpula:
Com as cortinas pesadas e grossas tampando cada grande janela espalhadas pelo círculo, dando um ar muito mais mórbido ao lugar, as paredes eram recheadas de objetos de tortura, desde os mais usuais até estruturas realmente alienígenas. Cada mínima coisa era ouvida ali, desde a sola dos sapatos que se aproximavam à sequer uma agulha caindo no chão. E o eco naquele lugar era impressionante... Construído com mérito, cada barulho repetia-se, exatamente, 15 vezes naquele antro. Os Darkness deveriam achar muito divertido apreciar cada grito de agonia por quinze vezes mais... E, assim que entraram no local, já estava no quarto eco de um grito apavorado.
Giacomo estava completamente imobilizado numa cadeira colocada de forma simétrica no centro da Câmara. À sua frente havia uma garota franzina, de longos cabelos negros, um sobretudo branco por cima de roupas extremamente provocantes e um puff também branco sobre sua cabeça.
Ela cutucava Giacomo com um bisturi, provocando um corte sangrento abaixo de seu olho, gritando um gratuito "VOCÊ VAI ME FALAR TUDINHO" antes de perceber a presença dos outros e dar um giro para fitá-los com um sorrisinho amigável meio psicótico. Seus olhos eram vermelhos, mas, diferente dos de Beyond, a cor parecia muito fantasiosa, o que entregava que ela estava usando lentes de contato.
- Mike! SIBÉRIA! - ela abriu um sorrisão ao ver a amiga, como se não tivesse sido pega rasgando o rosto de um de seus homens.- BEEEYOOOND! VOCÊ VOLTOU PRA MIM, CACHORRINHO!- seu sorriso ficou ainda maior e ela correu para abraçá-lo, parando a meio caminho ao perceber algo que a fez semicerrar as vistas diretamente para... Nicolas.
- Quem é você e porque está com o braço no do MEU cão?!
Alessa Darkness :
Nicolas Gattile Estudante
Mensagens : 43 Data de inscrição : 10/12/2017 Idade : 34 Localização : Na boate mais suja
Nicolas acompanhou todos para dentro da mansão Darkness, impressionado com a junção entre elegante e assustador. Aquele parecia o lugar perfeito para um vampiro se esconder. Parecia que a cada virada de esquina eles iriam ver duas gêmeas de vestido azul dizendo:
— Vem brincar com a gente, Nic! — ele fez uma careta.
Chegando à cúpula, ele franziu o cenho, um pouco irritado por ter perdido parte da diversão.
— Oh, isso aqui? Só um filhote perdido. Cute, ain’t it?
Nicolas deixou o lado de Beyond e caminhou até Giacomo com as mãos atrás do corpo. Observando bem o trabalho de Alessa, fez alguns comentários.
— Trabalho aceitável com o bisturi, mas poderia ter sido mais criativa. Começar pelos lugares pequenos é sempre algo prazeroso. Já tentou enfiar coisas sob as unhas dele?
Ele sorriu. Um sorriso bonito, mesmo sendo alguém tão visualmente bizarro.
— Oi Giacomo! Quase não te vi aí por baixo de todo esse fedor de bosta que emana de você. A Senhorita Darkness fez um bom trabalho? Hm?
Ele sorriu novamente, o homem incapaz de responder.
— Apenas espere a minha vez. Anyways! — ele olhou Alessa de cima abaixo, demorando-se em suas roupas provocantes e seus olhos se prenderam nos dela, artificialmente coloridos. — Nicolas Gattile. Meio irmão daquela coisa fofa ali. Honestamente, Sibs, estou decepcionado que você nunca falou de mim pra sua amiga.